segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

TENSÃO NA UCRÂNIA



A tensão criada por uma possível invasão russa na Ucrânia traz reminiscências. Não é difícil fazer um paralelo com a crise dos mísseis soviéticos em Cuba, nos idos de 1962 ou, ainda, com a pressão exercida por Hitler sobre a Tchecoslováquia, em 1938. Em ambas, o mundo se preparou para a guerra. No caso tcheco, ela acabou vindo com a invasão, um ano depois, da Polônia; no confronto cubano, houve um arreglo de última hora, com os americanos desmantelando, como parte do acordo, uma base de foguetes de longo alcance que tinham na Turquia.

Qual a diferença? É que, em 1962, já havia um negócio chamado balanço nuclear, o que queria dizer que um confronto armado entre yankees e russos não teria vencedores.

Este tem sido o freio que segura um conflito aberto entre os superpoderes. E, talvez por isto mesmo, os líderes desses poderes se sintam mais à vontade para falar grosso e manejar suas tropas como num tabuleiro de War. Sabem, ou confiam, que o temor a uma hecatombe nuclear vai segurar as pontas aos 45 minutos do segundo tempo e proporcionar um acordo em que todos saiam com a cara limpa e o prestígio assegurado.

É claro que isto não impediu guerras convencionais. Árabes e israelenses já se digladiaram mais de uma vez, o Vietnam passou quase duas décadas a ver franceses, americanos e vietcongues trocando tiros e napalm, Estados Unidos e China morderam-se na península coreana, o Iraque sofreu o seu bombardeio “cirúrgico”, a Síria permanece, enquanto eu escrevo, um campo de batalha. Isto para não falar nas lutas tribais, revoluções sangrentas e guerras civis que mancharam de sangue o solo dos cinco continentes, desde que a Segunda Guerra acabou. Eram, ou são, guerras permitidas, leia-se guerras em que não existe o risco de alguém apertar o botão vermelho.

Tenho a impressão que, no presente caso da Ucrânia, a grande preocupação de Putin e de Biden, no momento, é encontrar uma saída honrosa. Chego até a pensar se isto tudo não foi combinado entre os dois. Ambos estão com problemas em casa e já muito se falou que nada melhor para desanuviar o cenário interno do que uma distração externa. Fico sempre com a sensação de que há um script, um roteiro que é decorado antes. Afinal, como dizia o inigualável político mineiro Benedito Valadares toda vez que era instado a fazer reuniões decisivas, “reunião só depois de tudo combinado”...

O problema é seguir o roteiro com fidelidade. Há horas em que não se admitem improvisações. Vamos esperar que, também desta vez, não as haja...

 Oswaldo Pereira

Fevereiro 2022

7 comentários:

  1. De fato. Não é de hj q o Poder age movido por pura leviandade.

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  2. Benedito Valadares toda vez que era instado a fazer reuniões decisivas, “reunião só depois de tudo combinado”...
    Maravilha de frase.
    Não tenho o seu conhecimento sobre guerras, mas creio que em se tratando dos humanos sempre foi assim e sempre será.
    bjs, Zezé

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    1. Aliás, eu já escrevi, aqui neste Blog, um texto chamado "O Violento Pitecantropo".... Guerras estão no DNA.

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  3. Realmente parece que o desenvolvimento da racionalidade humana conduziu a humanidade a esse eterno binômio: ganância e poder. Se não me engano, nos bancos do antigo ginásio, a história que aprendíamos era sobre guerras e conquistas. E isto não mudou nos dias atuais, apenas mudaram-se os métodos.

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  4. Sem dúvida. Nossa crônica é uma longa história de conflitos. Somos o mais violento dos animais.

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  5. E,sempre será assim.O que estamos assistindo nestes tempos depois de alguns anos de paz?Não fui à Rússia mas em países próximos.Lindos lugares,mas tudo muito pobre.

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