terça-feira, 28 de junho de 2022

QUANDO MORRE UM SONHO

 


Somos feitos carne e osso, músculos e sangue. Metabolizamos oxigênio, processamos água e nutrientes. Precisamos de ar e de alimentos.

Mas, também, de sonhos.

São eles que nos diferenciam, nos separam do resto da criação. Estamos num pedestal do destino por causa deles. Sonho, logo existo.

São miragens sem deserto, histórias ainda por escrever, um eterno futuro. São promessas de um poente majestoso logo ali, a seguir a alvorada. São fumaça de velas procurando viajar com a brisa suave de uma tarde lenta.

São eles que nos fazem respirar, sentir o perfume da esperança; que nos nutrem quando há fome de propósitos, a fonte quando a sede em nossos lábios nos tira o gosto do amanhã.

Os sonhos têm duas maneiras de deixarem de existir. Num dia claro e glorioso, em que, de repente e com imponentes fanfarras, ele se realiza. Ou, numa noite fria de vento agreste, quando um sino marca o fim de sua luta inútil contra uma impassível realidade.

É o momento em que ficamos mais solitários e tristes, mais pobres, mais vazios. A miragem esvaneceu-se, a história não foi para o papel, o poente apareceu em preto e branco, a vela apagou-se. E o futuro não veio...

Oswaldo Pereira
Junho 2022

quinta-feira, 23 de junho de 2022

O RIO DE JANEIRO CONTINUA LINDO...

 


Em agosto de 2017, quase cinco anos atrás, eu escrevi o texto abaixo. Havia estado em Hamburgo, mais uma vez, e, como sempre, visitado um lugar que sempre me fascina.

“Mas, há um em especial que procuro visitar toda vez que vou à Alemanha. Chama-se Miniature Wunderland (A Terra Maravilhosa da Miniatura). Criada pelos irmãos gêmeos Frederik e Gerrit Braun no ano de 2001, essa maravilhosa terra ocupa atualmente quase 1.900 m² em dois andares na Hafen City de Hamburgo. São cenas de incrível detalhe, mostrando paisagens dos Alpes, da Suiça, da Áustria, dos Estados Unidos e da Escandinávia, além da própria Hamburgo, tudo na escala HO, ou seja, 87 vezes menor que o tamanho real.

Em constante crescimento, a Miniature Wunderland vive inaugurando novidades. Há dois anos, foi a réplica do aeroporto da cidade, com todas as instalações de passageiros, terminais, estacionamento, hangares e pistas de pouso e decolagem. E, pasmem, os aviões realmente decolam e pousam. Este ano, a adição foi a Itália, com direito a todos os pontos turísticos de Roma, extensas partes da Riviera italiana e um Vesúvio que entra em erupção.

O complexo todo tem 15.000 metros de linhas férreas, 1.300 trens, 10.000 vagões, 100.000 veículos, 400.000 figuras humanas e 500.000 luzes. E pretende continuar crescendo até 2020.

Vale a viagem...”

Estive aí, novamente, na semana passada. Desta vez, a novidade é o Rio de Janeiro. E lá está ela, a minha cidade, mostrada aos milhares de pessoas que afluem diariamente à exposição. Com todas as suas facetas e charmes, seus deslumbramentos e seus problemas, sua beleza visceral de metrópole tropical.

Logo de cara, Corcovado e Pão de Açúcar, seus dois cartões de visita e em rigorosa escala, debruçam-se sobre a baía da Guanabara, povoada de barcos, e dirigem os visitantes para a praia de Copacabana, com centenas de mini banhistas nas areias, quiosques, carros, barracas, o desenho ondulado da calçada, a orla de edifícios, terminando na avenida Princesa Isabel. Depois vem o centro da cidade, com a Catedral e o prédio da Petrobrás. No Sambódromo, uma escola de samba, ao comando de alguns botões colocados nas laterais das maquetas, inicia seu desfile com uma animada bateria marcado o ritmo para o casal de mestre-sala e porta bandeira.

A seguir, estão os morros, as favelas e os bairros da periferia. E todo o drama do cotidiano das comunidades. Como a área é imensa, o encantamento é ir descobrindo os pequenos detalhes das cenas montadas, as poses e os dioramas das centenas e centenas de miniaturas humanas, é espreitar por janelas e terraços das pequenas construções, pelas arquibancadas da Marquês de Sapucaí, examinar os liliputianos habitantes dessa formidável Cidade Maravilhosa em escala.

E, para um carioca como eu, sentir uma ponta de orgulho ao ver a excitação, a alegria e o deslumbramento dos turistas que se acotovelam para ver um Rio de brinquedo e, talvez, imaginarem lá  estar.

Aglumas fotos














Oswaldo Pereira

Junho 2022

domingo, 19 de junho de 2022

BOND 60 (22): THE SPY WHO LOVED ME (PARTE II)



Escapando da perseguição ordenada por Stromberg, Bond e Amasova pedem a ajuda de um submarino americano para abordar o cargueiro Liparus, pertencente ao vilão. Mas, o submersível é também capturado pelo gigantesco navio-tanque, em cujo interior onde já se encontram os submarinos russo e britânico, sequestrados no início do filme. O plano de Stromberg é utilizá-los para lançar bombas nucleares sobre Moscou e Nova Iorque e provocar o desencadeamento de uma guerra que aniquilaria o mundo civilizado. Seu propósito é iniciar uma nova era da Humanidade em cidades no fundo do mar.

Bond consegue iludir seus carcereiros, libertar as tripulações que estavam aprisionadas e iniciar uma batalha dentro do cargueiro. Levando vantagem sobre os guardas de Stromberg, ele consegue frustrar o maquiavélico plano, enquanto, na confusão que se segue, o vilão foge para Atlantis carregando Amasova. Os americanos ordenam então o lançamento de torpedos para destruir a fortaleza. Correndo contra o tempo, Bond se dirige para lá, montado na grande novidade da época – um jet ski (O filme, na verdade, serviu para a grande divulgação do veículo em todo o planeta...).

007 EM SEU JET-SKI


O fim não podia ser outro. Bond mata Stromberg e resgata Amasova. Os dois fogem do afundamento final de Atlantis numa cápsula equipadíssima com uma cama de lençóis e travesseiros de seda e várias garrafas de Dom Pérignon. Asamova ainda tenta cumprir sua promessa de matar 007, mas, é claro, ninguém resiste ao charme de Bond, James Bond...

Depois de muitas idas e vindas no roteiro, que chegou a ter enredos ligados a uma tentativa de assassinato contra a Rainha da Inglaterra e o sequestro do Papa, e questões ligadas à propriedade intelectual sobre a fictícia organização terrorista SPECTRE (cujos direitos de uso estavam nas mãos de Kevin McClory, coautor do livro Thunderball) as filmagens tiveram início em agosto de 1976. Lewis Gilbert, que havia dirigido You Only Live Twice, voltou ao cargo. Foi dele a sugestão de ter o ator alemão Curt Jürgens no papel de Stromberg.

Catherine Deneuve manifestou seu desejo de fazer Anya Amasova, mas seu cachê foi considerado muito alto por Cubby Broccoli. Barbara Bach foi a escolha, tomada dois dias antes do começo das gravações. Uma nota: a atriz Barbara Bach é esposa de Ringo Star. Uma das poucas iterações entre Bond & Beatles, os dois maiores ícones ingleses do século XX. Para viver o gigante Jaws, os produtores optaram por Richard Kiel, um ator americano com 2,17m de altura.

RICHARD KIEL COMO "JAWS"

A trilha sonora ficou a cargo, desta vez, de Marvin Hamlisch, amigo e parceiro de John Barry. A música título, Nobody Does It Better, foi uma coautoria com sua namorada de então, Carole Bayer Sager. Cantada por Carly Simon, a canção foi indicada ao Oscar.

The Spy Who Loved Me foi filmado em várias locações no Egito, na Sardenha, em Malta, na Escócia, na Suiça, no Japão, nos estúdios da Pinewood e na ilha de Baffin, onde foi gravada a famosa cena do paraquedas, mostrada na pré-sequência. Rick Sylvester, um dos mais conhecidos dublês da série, recebeu US$ 30 mil para fazê-la.

Apesar de ter retornado US$ 185,4 milhões (e realizado com um orçamento de apenas US$ 13,5 milhões) aos cofres da EON, o filme é hoje duramente criticado e relegado, pelos aficionados, a um lugar menor no ranking da franquia.

Em tempo:
Estes meus aborrecidos textos sobre a filmografia de James Bond, uma tarefa a que me impus para festejar os 60 anos da série, têm sido generosamente divulgados no blog de Homero Ventura, o meu grande amigo Homerix. Acontece que Homerix é, sem a menor dúvida, o maior expert que conheço sobre os Beatles. E, em seu blog, ele vem desenvolvendo um extraordinário trabalho sobre o inigualável quarteto. É uma obra completa, com inúmeros detalhes sobre a vida, a música e o imenso legado deixado pelos Fab Four. Convido todos os meus parcos mas inestimáveis leitores a visitar esta verdadeira Enciclopédia Beatlanica, como alguém tão justamente a chamou, magistralmente escrita por Homerix. É só clicar neste BLOG DO HOMERIX .  

(continua)

Oswaldo Pereira

Junho 2022

sábado, 11 de junho de 2022

BOND 60 (21): THE SPY WHO LOVED ME (PARTE I)

 


The Spy Who Loved Me, o filme, é a primeira vez em que o roteiro se afasta completamente da obra original de Fleming. O livro homônimo do autor, décimo da série, foi um dos mais curtos (113 páginas) e escrito de maneira totalmente diferente. Nele, a narrativa é feita na primeira pessoa pela personagem Vivienne Michel, uma canadense à procura de aventuras. O título vem de seu relacionamento com James Bond (cujo aparecimento só acontece no terço final do livro), que a salva de uma situação perigosa. A produção cinematográfica, a terceira com Roger Moore no papel, usou praticamente só o nome.

O veterano roteirista Richard Maibaum, com a colaboração do romancista inglês Christopher Wood, teve de desprezar a história de Fleming e aglutinar uma série de ideias para criar um enredo que tentasse reverter a má recepção do Bond anterior (The Man With The Golden Gun).

Além disso, as filmagens atrasaram-se devido a problemas legais envolvendo a saída de Harry Saltzman da empresa, que vendera sua parte na EON para a United Artists.

A pré-sequência mostra o sequestro de dois submarinos nucleares (um inglês e um soviético). Os dois mais capazes agentes de ambos os lados, a Major Anya Amasova pelos russos e, evidentemente, James Bond pela Inglaterra, são acionados. Bond recebe sua convocação em seu habitat natural (num acolhedor chalé austríaco em ótima companhia) e parte para se apresentar ao MI6. Entretanto, ele é emboscado enquanto desce as montanhas de esqui e uma coreografada perseguição na neve tem início, que termina com uma das cenas mais conhecidas de 007: ele mata um de seus perseguidores e prossegue até um fantástico precipício, de onde se lança de paraquedas (vale a pena ver essa tomada neste  LINK   ).

Reunindo-se com seus superiores, Bond toma conhecimento, além do desparecimento dos submarinos, de que um sistema de rastreamento e direcionamento de navios militares foi roubado e está sendo oferecido no Cairo a quem pagar o maior preço. Por trás de todo esse esquema, está um biólogo marinho bilionário chamado Karl Stromberg, que descobre ter sido traído por alguém dentro de sua organização e que colocara o sistema à venda. Decidido a não deixar que a transação seja feita, ele convoca seu assecla, um gigante com dentes de aço chamado Jaws (uma alusão ao filme de Spielberg), para eliminar todos os que se envolvessem no negócio.  

No Egito, Bond se encontra com Anya, que também segue o rastro do sistema roubado (gravado numa espécie precursora de pen-drive) e os dois, naturalmente, se veem às voltas com Jaws. Num pitoresco cenário de ruínas faraônicas, ambos conseguem apossar-se do objeto e há uma troca de mãos, com cada um usado seus truques para enganar o outro.

Eventualmente, os serviços secretos russo e inglês resolvem juntar forças, com Anya e Bond sendo instruídos a trabalhar juntos. Os dois partem para a Sardenha, em cujo litoral se encontra uma gigantesca construção marinha chamada Atlantis, morada e fortaleza de Stromberg.  Mas Jaws continua no encalço dos dois e, num trem (mais uma vez...), o avantajado assassino luta contra 007. Perdendo, é óbvio...

ATLANTIS: A FORTALEZA DE STROMBERG


Disfarçados como um casal de biólogos marinhos, eles vão visitar Stromberg. O vilão, no entanto, já sabe das suas reais identidades e, terminada a visita, manda eliminá-los. Há uma animada corrida pelas estradas costeiras das Sardenha, com um helicóptero a serviço de Stromberg querendo atingir o Lotus Esprit dirigido por Bond. Só que o carro foi turbinado pela Seção Q do MI6 e, quando 007 avança por um píer e cai na água, transforma-se num micro submarino.

Em tempo: há alguns anos, um casal americano pagou 100 dólares pelo conteúdo de um armazém abandonado, só para descobrir posteriormente que, lá dentro e coberto por uma lona empoeirada, estava um dos nove Lotus usados na filmagem de The Spy Who Loved Me. Recentemente, Elon Musk comprou-o ao casal por U$ 1 milhão...

LOTUS ESPRIT


(continua)

Oswaldo Pereira
Junho 2022

segunda-feira, 6 de junho de 2022

AUDIOLIVROS

 


Nas décadas de 1970 e 1980, a fita cassete veio dominar o mundo do entretenimento, desbancando os discos tradicionais. Todo mundo possuía seu gravador, que haviam diminuído de tamanho e agora faziam parte indispensável do dia-a-dia das pessoas. Além de servir para gravar mensagens, aulas, reuniões, bate-papos e tudo mais o que fosse merecedor de uma memória importante, as K7’s eram então o meio por excelência das produções musicais. Ocupando menos espaço do que os vinis e os grandes rolos dos tradicionais tape-recorders das décadas anteriores, e antes do aparecimento dos CD’s, elas reinaram absolutas em seu tempo. E não havia automóvel que não dispusesse de seu leitor de cassetes, acessório considerado prioritário na lista de adicionais.

Já nesse tempo, a utilização das K7’s para a gravação comercial de livros era um mercado promissor. A comodidade e a economia de tempo usufruídas ao se aproveitar as intermináveis horas de engarrafamento no deslocamento de ida e volta do trabalho, ou numa viagem por longas estradas, para conhecer uma obra literária ou um livro didático eram evidentes.

Hoje, os nossos celulares vieram substituir, além de quase tudo o mais, os saudosos toca-fitas. E é nesse novo meio que o mercado dos audiobooks, ou audiolivros, vem-se desenvolvendo com extraordinária rapidez. Só no ano passado, nos Estados Unidos, foram lançados 45.000 livros audio. E não é só pela indiscutível necessidade de deficientes visuais e de disléxicos. Mesmo aqueles que ainda elegem o prazer de segurar um volume impresso nas mãos como preferência estão entendendo que uma coisa não elimina a outra e que, ao mesmo tempo em que se desincumbem das inúmeras tarefas rotineiras e cotidianas que não lhes permitem afagar seus livros, podem continuar a se deliciar com seu passatempo favorito a mãos livres.

Tudo isso para dizer que minha filha Andrea acabou de inaugurar seu canal de audiobooks. Uma produção esmerada e altamente profissional. Já lá estão vários títulos, inclusive o meu conto “No Fim do Mundo”, do meu livro “O Povoador e Outros Contos”. Seu endereço é

 https://www.youtube.com/channel/UC0hchRVyGK4VMHZsyCL6aCQ

Visitem e aproveitem. Inscrevam-se e curtam. Verão que vale muito a pena.

Oswaldo Pereira
Junho 2022

sábado, 4 de junho de 2022

VERÃO CHEGANDO...

 


É apenas o começo de junho. O sol ainda não chegou mais perto e acorda preguiçoso, demorando para varrer uma bruma teimosa que vem do mar. Há também uma brisa matinal que penetra traiçoeira através dos abrigos ligeiros pelos quais, esperançosos, substituímos os casacos do inverno decretado morto pelo calendário.

A Primavera ainda não é quase Verão, como gostaríamos de proclamar aos quatro ventos, até porque, todavia, esses tais quatro, e mais alguns, encrespam os cabelos e despenteiam as marés, espalhando a maresia pelos ares das praias desertas.

Mas, fora as areias, entretanto à espera das barracas coloridas, o resto de Portugal já começa a se abarrotar de turistas. Estão sedentos de sol, qualquer que seja ele, mesmo enfarruscado e tímido. Os astrônomos nos dizem que estamos no afélio, o ponto de nossa modorrenta órbita elíptica em que nos encontramos mais longe do sol. Mas, os visitantes que aqui estão chegando aos magotes parecem desdenhar olimpicamente o fenômeno.

É compreensível.  Após dois anos de jejum, encerrados em casa, apenas com uma luz difusa filtrando por janelas fechadas para um exterior tenebroso e assustador, com a máscara a cobrir metade dos rostos e o medo a cutucar a alma, este é o primeiro Verão de liberdade. E o convite desta ponta da península ibérica, mesmo com o sol ainda engatinhando, é irresistível.

E é o prenúncio de um tsunami de gente que deverá aportar por aqui lá por julho e agosto. Já estou a ver. Orlas lotadas, hotéis empanturrados, restaurantes sitiados por longas filas, duas horas para visitar os Jerônimos, o Algarve saturado. Mas, tudo é festa. A grande festa de uma humanidade finalmente enchendo os pulmões do ar salitrado e benfazejo do oceano, dourando-se ao sol, partilhando risos e momentos, levemente atordoada por se ver novamente livre, leve e alforriada do pesadelo do Corona.

Soyez-le-bienvenus, sejam benvindos. E nos ajudem a, novamente, colorir o mundo.

Oswaldo Pereira
Junho 2022