segunda-feira, 28 de junho de 2021

LUZ NO FIM?

 


Metade já foi. 2021, aos poucos, deixa de ficar parecido com o seu antecessor de triste memória. Há algumas auroras nascendo por aí, estatísticas arrefecendo, máscaras indo para as gavetas, a vida como a conhecemos querendo dar as caras.

Agências de viagem sentem que a camada de gelo que as hibernou por meses está derretendo, o frisson das reservas de lugares em voos e hotéis começa novamente a bulir com os nossos planejamentos, cruzeiros do Caribe já passaram a oferecer suas promoções e seus sonhos.

Há gente nos restaurantes, alunos nas escolas, bikinis nas praias. Quem teve ânimo para assistir aos jogos da Eurocopa deve ter notado, entre temeroso e admirado, o estádio de Budapeste com ares de Maracanã em domingo de Fla-Flu.

Será que está acabando? Será, Deus meu, que o mundo vai finalmente sair, convalescente e esperançoso, da UTI em que esteve desde março de 2020? Será que, nesta metade que lhe resta, 2021 verá crianças correndo nos parques, namorados no escurinho do cinema, famílias de braços abertos ao redor da mesa, um carnaval planetário de beijos, um porre geral de felicidade?

Invoquem santos, façam mandingas, ofereçam juras e votos, rezem atos de contrição, vigiem as encruzilhadas, iluminem os altares de velas, apeguem-se com Buda, Maomé, Jeová, Zaratustra e Cristo ou, se preferirem, com a Astrazenica, com a Coronavac, a Pfizer e a Jansen. Se não forem preconceituosos, valham-se também da Ivermectina, da Hidroxicloroquina e de outras inas. Como diz o ditado, vale tudo no Amor e na Guerra...

Só não podemos permitir é que as ondas e as cepas e variantes nos derrotem mais uma vez. Até porque, não temos para onde ir. O próximo foguete para Marte só sai daqui a 10 anos...

Oswaldo Pereira

Junho 2021

quarta-feira, 23 de junho de 2021

LA GITANE (RELANÇAMENTO)

 


Meu livro "La Gitane - Um Quadro de Van Gogh" está sendo relançado. Para aqueles interessados em  fazer o dia deste modesto escritor mais feliz, anuncio que há vários sites em que a compra pode ser feita, além deste link abaixo, que é o da própria editora.

https://www.autografia.com.br/produto/la-gitane-um-quadro-de-van-gogh/

No Brasil, basta acessar um dos links abaixo:

AMERICANAS

LINK1

LIVRARIA DA TRAVESSA

LINK2

AMAZON.BR

LINK3

Em Portugal, na FNAC (link abaixo)

LINK4


Enquanto houver livros, há esperança...

Penhoradamente,

Oswaldo



sábado, 19 de junho de 2021

PAPO DE BAR - O PASSAPORTE

 


«Oi Antonia, que bom te ver de novo aqui no ZanziBar...»

«Pois é... Pelo menos aqui o dono é consciente. Mesas distanciadas, máscaras obrigatórias. Tomara que venha logo o famoso passaporte e ele passe a exigi-lo para entrar aqui.»

«Não acredito... Você está falando do passaporte do vacinado?»

«É claro que sim! Por que? Você é contra?»

«Valha-nos Deus... Não me diga que você, tão ciosa das liberdades individuais, tão contra preconceitos e discriminações, seja a favor de uma coisa destas. Qual é? Vamos criar duas classes de cidadãos? Vai vir por aí mais um nós contra eles?»

«Para com isso! Aqui se trata de uma defesa da saúde pública. Pública, ouviu bem? De todos. As vacinas estão aí. Até o fim do ano, só não vacina quem não quer. E quem não quer, põe em risco os outros que preferiram se proteger...»

«Peraí. Me explica este raciocínio. Se esses outros estão vacinados, como podem estar em risco? Além disso, o que você está questionando é o direito de ir e vir. Só circula quem estiver devidamente munido do salvo conduto? Olhe que isto já aconteceu uma vez... Além de ser claramente anticonstitucional.»

«Não me venha com estas alusões baratas. Estamos numa pandemia, sacou? É uma situação excepcional. Campanhas de vacinação têm sido usadas sempre que há um perigo sanitário grave. Gripe, sarampo, febre amarela. Tente viajar para a Índia. Sem estar com o certificado de vacinação contra a febre amarela, não consegue. É um meio de proteção.»

«Eu não quero viajar para a Índia. Quero andar livremente pela minha cidade, entrar no ZanziBar, no metrô, no restaurante. Sem lenço nem documento, como dizia o Caetano. Sem ser obrigado a tomar vacinas...»

«Mas por que este negacionismo? Você já não tomou vacina contra tétano, difteria, hepatite, sarampo, tuberculose, paralisia infantil? Então...»

«Aí está. O termo da moda. Negacionismo... Tomei todas essas que você indicou. Mas, eram vacinas feitas como manda o figurino, testadas durante anos antes de serem aplicadas. Nós somos as cobaias dessas vacinas contra a COVID. Ninguém sabe o que pode acontecer. Aliás, quando o assunto é coronavírus, ninguém tem certeza de nada. Não existe Ciência, com C maiúsculo, formada sobre a COVID. É tudo achismo. Não nasci para rato de laboratório...»

«Achismo ou não achismo, é a proteção que temos. Podem não ter preenchido todos os protocolos, mas é o que temos. Há uma guerra, não há tempo para frescuras. Vai ver se numa tenda de hospital na frente de batalha, o médico vai exigir ambientes esterilizados para extrair uma bala. Agora, me diga com sinceridade. Digamos que você está entre entrar no ZanziBar, em que o dono exige que só frequentem clientes vacinados, e um outro bar que não está nem aí para isso. Por uma questão de proteção pessoal, qual dos dois você escolheria?»

«O que tiver o melhor chope. Preste atenção, Antonia. O que eu quero é exatamente isto. A liberdade de escolha. Siga o meu raciocínio. O Brasil tem 220 milhões de habitantes. Após 18 meses de pandemia, tivemos 15 milhões de casos de contaminação e 500 mil mortes. Portanto, as minhas chances são de 6% de ser infectado e de 0,2% de bater as botas. Prefiro este risco ao risco de vacinas experimentais.»

«Estatísticas são bonitas quando acontecem com os outros. Quando acontece com você ou com quem você ama, o percentual é 100%. Eu, por mim, vou logo vacinar e tirar o passaporte. E só vou querer do meu lado quem fizer isto...»

«Quer dizer, se eu não estiver devidamente documentado, nós só vamos conversar...»

«Pelo WhatsApp...»

 

  Oswaldo Pereira

Junho 2021

terça-feira, 15 de junho de 2021

NOVAMENTE, A CHINA

 


Um dos primeiros textos que escrevi neste blog, ainda nos idos de 2013, foi sobre a China. Já naquela altura, dava para perceber que o gigante havia mudado de cara e estava consolidando e expandindo sua economia de mercado, gerenciando com sabedoria seu comércio exterior, ao mesmo tempo que professava e apregoava a agenda política comunista. Um regime com rosto inédito, a que poderíamos apelidar de Capitalismo de Estado.

Voltei a escrever mais sobre ela, até porque, após o Congresso Nacional do Povo ter colocado nas mãos de um só homem,  Xi Jinping, um poder maior do que qualquer imperador Ming, a China estava, como raras vezes antes em sua história, posicionada para competir por uma liderança global. A partir daí, podia-se esperar um crescimento veloz da presença chinesa nos palcos mundiais do esporte, das artes e do comércio internacional.  Depois de décadas inundando o planeta com seus made in China de baixo preço, o país sentava-se agora na mesa do grande jogo disposto a dar as cartas. Na época, escrevi que prever qualquer cenário futurista sem levar em conta o fator China seria um erro crasso.

Com um poder centralizado forte e um objetivo na cabeça, o país vem confirmando esta tese. Mesmo antes do desarranjo mundial causado pela pandemia, o avanço chinês sobre posições estratégicas nos cinco continentes já vinha-se dando com a proverbial paciência que lhes é atribuída, mas também com a sagacidade dos grandes planejadores. Sempre jogando limpo? Bem... pode até não ser assim, mas qualquer um sabe que, como dizem os americanos, all is fair in love and war e, no teatro de guerra dos mercados e das relações internacionais, o buraco é mais embaixo e a briga é de foice, no escuro. Ali não há inocentes, e nem santos. É só abrir um livro de História...

A pandemia veio acirrar mais as coisas. Origem (intencional ou não, aí vai depender da sua teoria pessoal sobre o caso) do vírus e primeira a superá-lo, a China, evidentemente, aproveitou-se e tem procurado alastrar seu domínio econômico, infiltrando-se na cena econômica de países em todo o planeta. Como tratar este fenômeno tem sido o dilema atual de vários governos mundiais.

Aqui no Brasil, tenho escutado, principalmente vindas da oposição, vozes que pregam uma subserviência inquestionável ao avanço chinês, aconselhando a, em hipótese nenhuma, o melindrar e atacando qualquer política de reação e resposta. Colocam na balança até o perigo de um boicote de Beijing ao fornecimento de vacinas.

Diplomacia de Resultados é uma coisa, e o pragmatismo que descarta ideologias e preconceitos domina hoje o cenário das relações exteriores mundo afora. Mas, curvar-se com medo de uma chantagem é outra. Até porque, o Brasil tem tudo para tratar a China de igual para igual. O nosso país é o maior produtor de alimentos do mundo; a China, se quiser alimentar seu bilhão e meio de habitantes, vai ter de ser nosso parceiro comercial. Além disso, quando, num futuro próximo, a água se transformar num bem disputado, como ontem foram as especiarias e hoje é o petróleo, é aqui que está o maior aquífero do globo.

No seu magnífico discurso inaugural, em janeiro de 1961, John Kennedy disse:  Let us never fear to negociate, but let us never negociate out of fear (Nunca tenhamos medo de negociar, mas nunca negociemos por medo)

Os chineses merecem respeito. Mas nós também.
 
Oswaldo Pereira
Junho 2021

segunda-feira, 7 de junho de 2021

HAI-KAIS DA PANDEMIA

 


O hai-kai é uma forma poética que só poderia ter nascido onde nasceu. No Japão. Dizer que é uma forma minimalista de poesia é tentar defini-lo por um viés simplista e, mais do que isto, simplório.

O nome é composto de dois vocábulos japoneses:

Hai que significa brincadeira, e Kai, harmonia.

E aí está a essência da coisa. É isto que lhe define a leveza e, ao mesmo tempo, a sutileza da imagem, cuja mensagem tem de estar completamente contida nos três versos do poema.

Criado por Matsuo Banshō ainda no século XVII, o gênero acabou se espalhando, por países e por idiomas, mas sempre mantendo as regras básicas de sua estrutura.  Suas caraterísticas fundamentais são a simplicidade, a concisão e o presente. Tem de soar como um flash compacto de uma atualidade e carregar em si o princípio, o meio e o fim de uma história em miniatura. No Brasil, a hai-kai foi introduzido por Afrânio Peixoto no início do século passado. Guilherme de Almeida, Paulo Leminski e Millôr Fernandes foram grandes criadores de poesia hai-kai.

E eu, que já estava brincando de poetar, resolvi levar a brincadeira mais avante e achei por bem inventar estes hai-kais da Pandemia. 

a vida é bela
mas, dia-a-dia
nem penso nela
 
na rua há perigos
portanto, amigos
fechem os postigos
 
“Use máscara”!
É o recado
Na porta do supermercado
 
Ninguém na rua
Ninguém na noite
- Só a lua
 
Vamos matar o vírus
Nem que seja
A tiros
 
Distanciamento social
É um paradoxo
Gramatical
 
-Que prazer em vê-los!
Que bom tocar
Os cotovelos
 
Como vou saber ao certo
Se você está sorrindo?
Com o rosto coberto...
 
Aprendemos a lição?
Talvez sim
Talvez não
 
Vamos viver sempre assim?
Talvez não
Talvez sim
 
Toda profecia é vã
Porque hoje,
Só amanhã
 
Oswaldo Pereira
Junho 2021

quarta-feira, 2 de junho de 2021

PAUSA

 


No meu laptop, dei um “pause” na realidade. Deletei, por agora, CPI’s, STF’s, TV’s e outras siglas indigestas. Resolvi brincar de poeta. Preciso de paz. Um dia, eu volto...

A esfinge já não me pergunta. Meus segredos não lhe dizem respeito.
Sou livre, vivo acima dos anos.
Sou mago, sou louco.
Sou velho.
 
O Universo não existe. É tudo ficção, Carl Sagan que me desculpe.
Einstein quase desvendou a miragem. Mas a chave caiu-lhe da mão e a fechadura afastou-se.
Não percam tempo em explicar-me.
Tenho certeza.
 
Enquanto há suspiros, vivemos.
Depois, não sei para onde irei. Se é que irei...
Ou ficarei simplesmente inerte, parte da Terra.
E do Universo que não existe.  Triste? Não...
 
Só há, de verdade, o Tempo. Indiferente. Soberbo.
Ele diz-me.
Vais perder-me, mortal efêmero
Quando consegues ver-me, já passei.
 
Enganas-te.
Eu não te perdi, meu caro
Eu te bebi aos goles, aos baldes,
Te agarrei pelos cabelos,
Auroras, poemas, amores
Tive a ventura de tê-los
Esqueceste?
Sou velho...
 
Oswaldo Pereira
Junho 2021