terça-feira, 29 de dezembro de 2015

QUE ANO...





Uma das charges mais inteligentes que conheço é esta aí abaixo. Para os leitores que não são familiares com a verve humorística do ator cômico brasileiro Antonio Carlos Bernardes Gomes, o saudoso Mussum, explico que ele terminava a maioria das palavras transformando seu final, qualquer fosse ele, em  is (exemplo: forever era forevis, Cacilda era Cacildis, Dilma era Dilmis, e assim por diante, ou diantis...)




















Que ano horrivis..., diria ele, se perguntado sobre 2015. No que eu, em grande parte, concordo. Descontando os dramas pessoais, as aventuras ou desventuras do cotidiano particular dos bilhões e bilhões de pessoas que habitam este estranho planeta, o balanço em letras graúdas do ano que se prepara para fechar seu ciclo e se perpetuar na História não o recomendará muito às gerações futuras. 


AS ONDAS DE REFUGIADOS
Síria, ISIS e Refugiados. As três pontas de um mesmo triângulo de fogo, sangue e medo dominaram as atenções, as preocupações e o noticiário em 2015. As festas e os votos de um Feliz Ano Novo ainda ecoavam quando o Exército Islâmico entrou atirando na sede do Charlie Hebdo, em Paris. Onze meses depois, mais tiros na mesma cidade. Entre as duas ações no coração da França, mais de vinte atentados em todo o mundo, decapitações e imolações, explosões, destruição e morte. Cerca de duas centenas de assassinatos, desfigurações de relíquias e monumentos, no meio de um cipoal de interesses político-econômicos que transformaram um país com um passado milenar num campo de batalha. A posição estratégica da Síria, como porto de escoamento do petróleo árabe, serve-lhe agora de anátema, amaldiçoando-o como peão num xadrez enlouquecido pela ganância. O inferno em que se transformou o seu território, o malogro da tão sonhada primavera em seus vizinhos e o desencadeamento de forças movidas pela intolerância religiosa levantaram a gigantesca onda migratória que fez estremecer os alicerces da Comunidade Europeia. Queiram ou não, esta será a cara de 2015. 

Talvez, nestes últimos doze meses, tenha nascido um grande cineasta, uma atriz incomparável, um desportista decisivo, um cantor de sucesso, um ator emblemático. Só o futuro o dirá. Mas, estes mesmos doze meses nos levaram Manoel de Oliveira, Marilia Pêra, Alcides Ghiggia, B. B. King e Leonard Nimoy.


MINAS GERAIS: TRAGEDIA NO VALE
Levaram também o sonho e a estória da cidade de Bento Rodrigues, tragada pela lama que matou todo um vale e todo um rio. Acharam água em Marte, mas aqui em nossa casa planetária o prognóstico de escassez começa a incomodar grandes e pequenos. A corrupção decapitou a FIFA e respingou em nomes até então inquestionáveis, como o alemão Franz Beckenbauer e o francês Michel Platini. 

E, no Brasil...

CRISE POLITICA

Se tivesse que escolher um nome para o 2015 brasileiro daqui a alguns anos, eu talvez não precisasse hesitar muito. O esfacelamento da funcionalidade de um Governo sitiado, o apodrecimento do pântano venal e obscuro em que se afundou o Congresso, a quebra do leme e a ausência de um timoneiro capaz no barco da nossa Economia, justamente na hora em que o mar encapelava e os ventos rugiam, o abandono das metas cruciais para a nossa salvação e a emproada surdez de nossos supremos juízes empurraram o país para o vácuo, para a ausência de sustentação, para a desmoralização da esperança, para o desencanto com o nosso futuro, para a incerteza e o desânimo. Eu o chamaria então de O Ano do Precipício.

Só espero ardentemente que, nesse mesmo momento hipotético, eu tenha podido chamar 2016 de O Ano do Paraquedas, ou O Ano da Reviravolta, ou ainda O Ano do Impeachment...

2015 foi o ano escolhido pelo cineasta Robert Zemeckis em Back to The Future II (1989) como um dos vértices temporais de seus personagens. Muito se especulou sobre o quanto a ficção e a realidade divergiram. Isto quer apenas dizer que o Futuro não está escrito. Assim, podemos sonhar livremente e imaginá-lo como quisermos.

Então, dá para respirar fundo, olhar o horizonte e dizer, alto e bom-som


FELIZ 2016  


Oswaldo Pereira
Dezembro 2015










quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

DESTINOS CERTOS: TAJ MAHAL






As mulheres nobres do reino haviam disposto suas tendas no amplo pátio interno do palácio. O Meena Bazaar, a feira semanal, tinha início naquela sexta-feira, para a satisfação dos homens da família real, seus generais e outros membros do seleto círculo da aristocracia mogol. As coloridas barracas estavam cheias de jóias em filigranas douradas, pedras preciosas vindas de todas as partes do mundo conhecido, perfumes de fragrâncias exóticas e elaboradas por mestres alquimistas de talento insuperável. Presentes a serem comprados para regalo de esposas e filhas, concubinas e favoritas, e para ostentação própria. 

A movimentação já estava grande quando o Príncipe Khurran chegou em seu palanquim, sustentado por quatro escravas tártaras. Filho do Imperador Jahangir com sua primeira mulher, Khurran tinha então dezessete anos. Em uma das tendas, a jovem Arjuman Bano Begum, um ano mais nova e sobrinha da madrasta do príncipe, vendia pequenos cristais de açúcar, conhecidos como mishri. Ofuscado pela beleza de Arjuman, Khurran tomou os cristais por diamantes e não hesitou em pagar o exorbitante preço que ela, por brincadeira, lhe pedira. Quando o engano lhe foi revelado por uma deliciada Arjuman, o príncipe já se apaixonara por ela.


Três anos depois, em 1612, Khurran, agora com o nome aristocrático de Shah Jahan, e Arjuman, casaram-se. O príncipe também criara um novo nome para ela. A Jóia do Palácio - Mumtaz Mahal em persa, língua usada pela elite. Foram 29 anos de casamento, até a morte de Mumtaz ao dar à luz ao décimo quarto filho. Em seus últimos momentos, ela fez dois pedidos ao inconsolável marido. Que ele não gerasse mais filhos e que construísse para ela um túmulo cuja beleza lembrasse para sempre o amor que haviam partilhado. Uma lágrima solitária escorreu-lhe pela face.


SHAH JAHAN E MUMTAZ MAHAL

Shah Jahan quase enlouqueceu de dor. No trono mogol desde a morte de seu pai, em 1627, seu reinado, até então profícuo e justo, começou a decair, assim como ele próprio. Afastou-se de todos, envelhecendo precocemente. A única chama que ainda o mantinha vivo era a imagem do mausoléu que iria erigir nas margens do rio Jamuna. Projetada pelos mais talentosos arquitetos do reino, a construção levou dezesseis anos, empregou mais de 20.000 escravos. Dois mil elefantes foram usados para trazer os blocos de mármore branco desde as minas de Makrana, a mais de 200 quilômetros de distância. Quando ficou pronto, o corpo de Mumtaz foi trasladado para a nave central do edifício. Acima, a imensa cúpula de extrema beleza que hoje encanta todas as gentes lembrava a derradeira lágrima cristalina de Mumtaz.  


CUPULA E MINARETE















O PORTAO EXTERNO












As pedras vermelhas do muro externo já anunciam uma expectativa gostosa. Qualquer visitante que aqui chega já traz dentro de si a imagem do palácio-mausoléu, vista e revista em fotos, filmes e sonhos. Nada, entretanto, supera o enlevo e a radiante emoção de, transposto o portão exterior, vê-lo ali, inteiro e real, quase etéreo, quase suspenso na delicadeza de sua perfeita simetria, quase translúcido numa manhã clara de novembro, eterno e imortal.

Mistura do estilo islâmico com o hindu, o Taj Mahal (o nome vem de uma abreviação do apelido dado por Shah Jahan a Arjuman Begum - Mum-TAJ Mahal) assenta-se no conceito do pari darwaza, os quatro lados do paraíso, simbolizados por suas quatro faces e os quatro minaretes que o flanqueiam. O palácio é inteiramente decorado com relevos, incrustações e caligrafias de inspiração muçulmana, a religião dos marajás. O conjunto ainda possui um esplendoroso jardim de 90.000 metros quadrados, uma mesquita e um grande edifício que servia de hospedagem para peregrinos no passado. Uma visão inesquecível.


Terminado o mausoléu, Shah Jahan começou a projetar a construção de seu próprio túmulo na outra margem do Jamuna, uma cópia exata do Taj Mahal, só que em mármore negro. Mas, nem sua saúde, nem a das finanças do reino iriam permitir. Em 1659, seu filho mais novo, Aurangzeb, liderou a revolta que o depôs e o aprisionou no Forte Vermelho de Agra. Ali, Shah Jahan ficaria até morrer, oito anos depois. Seu único consolo era a vista que descortinava da torre de sua prisão, de onde podia contemplar o Taj Mahal à distância. Segundo a lenda, ali ele foi encontrado, os olhos velados pela morte, ainda fixados no palácio branco onde repousava sua amada. Dizem que uma lágrima clara ainda escorria pelo seu rosto.


O TAJ MAHAL VISTO DO FORTE VERMELHO. TALVEZ A DERRADEIRA IMAGEM CONTEMPLADA POR SHAH JAHAN.

Oswaldo Pereira
Dezembro 2015



sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

NATAL 2015




UM FELIZ NATAL PARA TODOS!



E, como sempre, um Conto de Natal.


Desta vez...



A NOITE DE NOEL



«Noel?....»
O quarto continua em silêncio. Lá fora, ainda é noite.
«NO-EL!...Levanta, homem.»
A cama se mexe. Uma voz grave e lamuriosa ecoa na penumbra.
«O que é?... Me deixa dormir um pou...»
«Que dormir coisa nenhuma! Não se lembra que dia é hoje?»
Noel soergue-se. Olha pela janela, emoldurada do lado de fora pelas agulhas de gelo que descem do teto. Dá um resmungo choroso.
«Está nevando muito...»
«Bem... o que você esperava? A praia de Ipanema? Estamos na Lapônia, meu caro e hoje são vinte-e-quatro de dezembro. Inverno por estas bandas. E hora de trabalhar.»
«Já?! Mas, é madrugada, o dia ainda não começou...»
«Não começou aqui. No Japão já são três da tarde e as criancinhas japonesas estão à sua espera. Até reunir as renas, dar-lhes de comer, atrelá-las ao trenó... você bem sabe que elas estão cada vez mais preguiçosas...colocar os sacos no bagageiro... isto leva tempo...»
Noel sai da cama, esfregando os braços.
«As criancinhas japonesas acreditam em Buda. O Natal não quer dizer nada para elas...»
«Isto foi antes da propaganda americana. Desde que a Coca-Cola nos reinventou, o Natal é uma grande sacada comercial em todo o mundo, seja na Ásia, nas Arábias ou na Conchinchina.»
«Pois é, aí é que está. Cada vez eu trabalho mais, cada vez tenho de acordar mais cedo. O que é que eu ganho com isso?»
Ela olha-o com ternura.
«Você sabe bem, meu querido... Pare de reclamar. Vai tomando banho e se vestindo. Eu vou lá na oficina ver como estão as coisas. Com as cartas agora vindo pelo WhatsApp, há pedidos de última hora. Tecnologia, Noel. Temos que nos adaptar...»
Noel fica olhando ela afastar-se. Estão juntos há muitos, muitos anos. Nem ele se lembra quantos. Só sabe que sem Mamãe Noel ao seu lado, este negócio já teria acabado faz tempo.

O espelho do banheiro reflete seu rosto meio amarrotado pelo sono. Tenho de dar um jeito nisso..., pensa, enquanto liga o aquecedor do chuveiro. Esboça um largo sorriso, põe um brilho nos olhos. Pigarreia com força e solta a voz. «Ho-Ho-Ho...». Sai chocho. Tenta de novo. «HO-HO-HO!...» Melhor, muito melhor...

Meia-hora depois, ele já está pronto. O espelho agora mostra um semblante jovial e radioso, o barrete bem colocado na cabeça, o uniforme encarnado cheirando a novo, o cinto e as botas reluzindo seu couro negro. Mamãe Noel dá uma última ajeitada na gola do casaco. «Proteja-se. Vai estar frio...» Como se fosse a primeira vez, pensa ele.

Os ajudantes estão todos perfilados, acenando, quando ele sobe no trenó. As renas maneiam as cabeças numa expectativa gostosa. Adoro este momento, ele diz para si mesmo. Um ano inteiro de preparativos, trabalho, linhas de montagem, planilhas de cálculo, horas intermináveis, milhões de brinquedos, milhões de sonhos... Agora, chegou a hora. «VAMOS!», ele anuncia. Mamãe Noel lhe manda um beijo. E a carruagem vermelha levanta-se do chão, faz uma linda curva no céu e parte.

Duas horas depois, ela está pousada no quintal de uma casa em Hiroshima. Já passou por Tóquio, Nagasaki, Yokohama, muitas outras. Noel consulta seu tablet. O nome do menino lhe lembra alguma coisa. O lugar também. Sim, é isso. Há 70 anos, ele aqui estivera, com uma bola de presente. Nomura, Shunji. Só para descobrir que o garoto perdera as pernas na explosão da bomba. Ele entreolha pelo vidro da janela. Na pequena sala, um velhinho sentado numa cadeira de rodas brinca com o neto em seu colo. Nas mãos do menino, a bola. Guardada por décadas. Inútil, naquele Natal longínquo. Agora, um motivo de sorriso para os dois, criança e avô. Noel vai até o trenó e volta com uma outra bola. Toda feita de luz e de esperança. Sem que os dois percebam, ele entra na sala e a deposita em cima da mesa. Enquanto sua luminosidade se espalha pelo ambiente e o enche de calor e bem estar, ele sai de mansinho.

Do lado de fora, suspira, feliz. Uma leve vibração lhe agita o peito. É a emoção, ele pensa. Mas, não é só. Também é o celular. Ele atende. É Mamãe Noel.
«Então, você já está na China?»
«Bem... estou ainda no Japão...»
«Noel! Você está atrasado, homem de Deus...»
«OK, OK, já estou indo...»
Aperta o passo, sobe no trenó e diz.
«Rudolph, para Beijing. À toda!...»

Oswaldo Pereira
Dezembro 2015












sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

DEVENDO...




ATENÇÃO:  Texto com spoiler

A receita dera certo. Um Diretor (apelidado na indústria cinematográfica como Midas Mendes) detentor de um Oscar, um Golden Globe e vários outros prêmios, atores como Ralph Fiennes e Albert Finney juntando-se a um cast que já trazia a magnífica Dame Judi Dench para sua sétima performance como a icônica M, uma música-título arrebatadora, a volta dos clássicos personagens Moneypenny e Q, um vilão da pesada e um roteiro de primeira. E Skyfall, que custara a bagatela de 200 milhões de dólares, retornou aos cofres da franquia mais de um bilhão. Como bondmaníaco juramentado, fora vê-lo logo na estreia e, ao sair do cinema, postara este comentário entusiasmado no Face:

Alôo Bondmaníacos everywhere...Não percam SKYFALL! Para mim (que me incluo há 50 anos na tribo), é o melhor Bond em muitos, muitos anos. Tem Sam Mendes na direção e um 007 amargo e mais real, que transa com a Moneypenny, admite ter tido experiências homossexuais, é reprovado na avaliação física e psicológica para voltar ser de novo um agente com permissão para matar e volta às origens visitando a velha casa dos pais. Quer mais? Tem Javier Bardem, Ralph Fiennes e Albert Finney. Q agora é um adolescente nerd e M morre no final. E Daniel Craig, com sua cara de espantalho, orelhas de abano e cabelo louro palha (chegou, no início, a ser chamado de James "Blond"), confirma-se como um dos melhores Bonds de sempre. IMPERDÍVEL.”

Era só repetir.

E foi o que se tentou. Para o Bond 24, manteve-se o Diretor, os escritores e os roteiristas, os atores que compuseram o núcleo duro do Mi6, chamou-se o celebrado Christoph Waltz, a lindíssima Monica Bellucci, e gastou-se a inédita quantia de US$350 milhões. Tinha tudo para dar certo. E quase deu.

A sequência de abertura de SPECTRE, começando com um extraordinário take sem cortes de 8 minutos, já é considerada uma das mais eletrizantes de toda a longa história de introduções que fizeram a marca registrada da série. Tendo as celebrações do Día de los Muertos na Cidade do México como pano de fundo, a ação é filmada com refinados requintes de beleza plástica dentro de um ritmo galopante e metricamente perfeito. É só quando entram os títulos que conseguimos soltar o fôlego e saborear a expectativa do que virá a seguir.  

No começo, a trama é envolvente, os novos tempos da inteligenzia britânica tentando colocar no seguro-desemprego os agentes 00, James Bond partindo para uma carreira solo e correndo atrás de uma pista deixada por Olivia Mansfield (nome da “M” interpretada por Judi Dench), o reaparecimento de Mr. White, ausente em Skyfall, um henchman de respeito (Dave Bautista como Mr. Hinx) e a melhor citação do filme, sua briga com Bond no trem, reeditando a emblemática luta entre Sean Connery e Robert Shaw em From Russia With Love (1963).

Mas, de repente a coisa desanda. A muito propalada participação da bela Bellucci não dura mais de cinco minutos. E a personagem Lucia Sciarra não diz muito ao que veio. Depois, uma decepção. Christoph Waltz, magnífico como o Coronel Hans Landa em Inglorious Basterds (premiado pela Academia) e perfeito como o caçador de recompensas King Schultz em Django Unchained, não oferece a pegada de outros vilões inesquecíveis como Auric Goldfinger (Gert Fröbe), Dr. Kananga (Yaphet Kotto), Scaramanga (Christopher Lee), Hugo Drax (Michael Lonsdale), Max Zorin (Christopher Walken), Le Chiffre (Mads Mikkelsen) e, certamente, é pulverizado quando o comparamos com o Raoul Silva de Javier Bardem. Uma pena. E já tivemos melhores Blofelds no passado, como, por exemplo, Telly Savalas (em On Her Majesty’s Secret Service) ou Donald Pleasance (em You Only Live Twice).

O golpe final vem do roteiro. A revelação de que Franz Oberhauser, irmão adotivo de Bond, é, na realidade, Blofeld, é um crime de lesa-Fleming. As origens, as características físicas e a personalidade do arqui-inimigo de 007 estão muito bem detalhadas pelo escritor no livro Thunderball, escrito em 1961 e não há hipótese de que Ernst Stavros Blofeld possa ter sido Oberhauser. Uma sacada muito pouco verossímil dos roteiristas John Logan, Neal Purvis e Robert Wade, reconhecidas “feras” da sétima arte. Uma falha lamentável.

Dá para ir ver? É claro que sim. Afinal de contas, é um Bond e um fã como eu é até capaz de vê-lo novamente. Mas, vão ficar devendo...

Oswaldo Pereira

Dezembro 2015

domingo, 6 de dezembro de 2015

FAZ DE CONTA



E o “país do futuro” virou o “país do faz - de –conta”...

Como todo mundo sabe, quando se está em viagem as notícias de casa parecem amortecidas pela distância, pelo olhar interessado em outras coisas, outras gentes, outras realidades, o ouvido seduzido por outra canção, outro enredo. Mesmo com “a informação ao alcance de um click” que a maravilhosa cibernética atual nos regala, o Brasil visto de longe ainda guarda certa coerência, algo que nos permite tentar explicá-lo, ou traduzi-lo, para os habitantes de outras plagas.

O duro golpe vem com o retorno. Cada vez mais, nos últimos tempos, a rentrée tem-me atingido com uma vigorosa pancada na cabeça, um acordar sacudido de presságios, um apagar súbito das cores que, enquanto longe estamos da terra onde os sabiás costumavam cantar, nos enchem de saudade. Desta vez, entretanto, foi demais.

Tenho 75 anos de Brasil. Passei por ditaduras civis e militares, festivos retornos da democracia, experiências com parlamentarismos e triunviratos, golpes de estado, renúncias inesperadas e previstas, e até um suicídio. Vi a capital mudar, o sol da esperança nascer e se por, salvadores da pátria às mancheias. Vi tropas nas ruas e o povo em marcha. Senti no bolso a loucura de planos mirabolantes, e na alma a renitente crença num “quem sabe se agora a coisa vai...” 

Durante este largo tempo, também testemunhei o longo processo de depuração das instituições que permitiu o atual compromisso com a liberdade ser professado, praticado e garantido pelo arcabouço das leis e pelo Estado de Direito. Seria de se regozijar. Mas não é.

Invadido lentamente pelo insidioso vírus da canalhice política, o organismo institucional brasileiro, tão arduamente construído ao longo da nossa atribulada história, chega aos dias atuais em adiantado estado de putrefação. Obliterados pelo delírio de um doente febril, conceitos como interesse público, bem estar da sociedade e uso criterioso e honesto do erário desapareceram das agendas partidárias para darem lugar ao corpo a corpo obsceno das vantagens pessoais, do apadrinhamento venal, das negociatas e das propinas, numa escala que nem mesmo regimes reconhecidamente corruptos seriam capazes de sonhar, não só pelo seu astronômico valor, mas principalmente pela sua disseminação horizontal e vertical nos vários degraus da administração estatal, seja ela federal, estadual ou municipal. A gigantesca engrenagem apodrecida da política nacional fechou o seu círculo vicioso, e viciado, impedindo que cidadãos probos e bem intencionados consigam nela penetrar, sem ter de pagar o pedágio de vender sua alma e conluiar com alguma maracutaia, por mais provincial que ela seja.

O cenário que me recebeu nesta volta foi espantoso.

No dia dois de dezembro, o Presidente da Câmara aceitou o pedido de impeachment da Presidente Dilma. Ótimo, diriam alguns. Acontece que os argumentos que fundamentaram o pedido, redigido por três renomados juristas pátrios, têm pouca força jurídica. Pedaladas fiscais e autorização de gastos sem o respaldo do Congresso não são, necessariamente, novidade na vida republicana brasileira. Desde Getúlio Vargas, moções como esta foram displicentemente derrotadas. Ora bem, outros diriam, mas estas denúncias poderiam servir para se atingir um bem maior, ou seja, afastar Dilma pelo conjunto da obra, sua incompetência, sua mediocridade, sua burrice autoritária, seu despreparo, seu discurso caótico, sua conivência com os desmandos de sua equipe, seu cruel tratamento da língua portuguesa, coisas que, embora de irrelevante valor jurídico para um processo, são a causa crucial para a desastrosa situação em que nos encontramos. Assim, a aceitação do pedido por Eduardo Cunha poderia demonstrar seu desejo de lutar pela boa causa, com os olhos postos na solução dos graves percalços nacionais. Mas, ó cruel decepção, o animus que move o deputado é a mais mesquinha retaliação contra o partido do Governo por lhe ter derrotado na Comissão de Ética do Congresso e votado pela incriminação que pode levá-lo a perder seu mandato. Seu motivo é rasteiro, pedestre, infantil. E desonesto, montado no dorso escorregadio de chantagens negociadas no mercado sujo de um kasbah pegajoso, no toma lá da cá em que se transformou a administração do lulopetismo.

Mas, ainda há pior. Historicamente, e isto eu posso dizer porque vi, a vida republicana brasileira sempre contou com a presença da oposição em seu cenário político. Concordando ou não com suas posturas e profissões de fé, sempre procurei escutar vozes levantadas contra o poder central, oferecendo um contraponto, uma alternativa, exercendo, quanto mais não fosse, e alicerçada na liberdade de expressão, um trabalho de vigilância e questionamento. Lacerda, na era Vargas, Tancredo e Ulysses no regime militar, o próprio PT em tempos recentes simbolizaram a chama da Oposição. Onde está ela agora? Onde está ela no mais propício ambiente de que se tem conhecimento, em que a Situação desmorona-se na incompetência, na imoralidade, no descalabro, como raras vezes se viu por aqui? No que confiar, quando os partidos “oposicionistas” vêm a público declarar que preferem aprovar o recesso parlamentar para adiar o processo de impeachment, na esperança torta de que, com o agravamento da situação brasileira e com a paralisia inevitável da vida política nacional, melhorem as chances de aprovação? É isto mesmo? Os homens que seriam os redentores da nossa cruel realidade, os que deveriam se apresentar como a saída viável para um novo Brasil, preferem que o país se afunde mais no poço cavado pela incúria e pelo desrespeito, para obter um ganho político?

Um Governo que não consegue mais governar. Uma oposição faz-de-conta. Será que entendi bem?


Oswaldo Pereira

Dezembro 2015

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

ÍNDIA - PARTE III





III – RELIGIOSIDADE

Ôôômmmm...

O som é universalmente conhecido. Evoca mantras transcendentais, uma elevação ao estado alfa, a perfeição do nirvana. Seu timbre grave sintetiza num só tom o nome de 33.000 deuses.

A Índia foi o berço de várias religiões e, até hoje, seus cultos, rituais e acólitos povoam uma terra em que tudo é sagrado. Todas as formas de vida recebem a proteção de uma divindade e a reverência de uma população que tem sempre os olhos postos nos ciclos cósmicos da eternidade.

Atualmente, o hinduísmo domina, com 80% de seguidores. Seguem-se o islamismo (13%), o cristianismo (3%), o sikhismo (2%), o budismo e o jainismo, com 1% cada. Um por cento parece pouco, mas, numa população total de 1,3 bilhão, cada uma destas duas últimas contabiliza 13 milhões de fiéis...

Assim, Brahma, Vishnu e Shiva, a trindade máxima do hinduísmo, que representam, respectivamente, a Criação, a Preservação e a Destruição, são onipresentes numa miríade de templos e altares, construídos com requintes ou singeleza, erguidos às margens de rios ou escavados nas rochas, louvados em ritos milenares e celebrados nos textos santificados dos vedas ou na intrincada mitologia do Mahabharata ou do Ramayana.

No plano a seguir, uma constelação de entidades está identificada com cada aspecto da vida e do universo. Conceitos como chakras, tantra, karma e práticas como o yoga, a alimentação vegetariana e os hábitos de purificação de corpo e espírito comandam o dia-a-dia de centenas de milhões de pessoas. A crença no ciclo de reencarnação e na necessidade de evoluir sempre, até atingir-se a liberação final de sua repetição, compõe o núcleo central de uma filosofia de comportamento e convivência.

Os guias que nos acompanharam foram pródigos em explicações sobre o que víamos e ouvíamos nos templos e nas ruas. E não o faziam apenas para atender à nossa ávida curiosidade. Faziam-no quase como um dever religioso...

FINAL – UM ROTEIRO

Se soubesse o que agora sei, teria invertido a ordem do nosso roteiro. Primeiro, iria a Goa, onde a ainda forte influência portuguesa permite apenas um primeiro gostinho dos sabores indianos. É Índia, claro, mas uma Índia light, um prelúdio do impacto que virá a seguir.

Daí, iria a Mumbai, para um tratamento de imersão num torvelinho humano indescritível, um banho caudaloso e quente de cheiros, cores e alaridos, a Índia com I maiúsculo, dos filmes e das crônicas.

UDAIPUR: THE TAJ LAKE HOTEL
Então, seria a vez do mítico Rajastão, a Índia dos palácios, das grandes extensões onde a planura sem fim dos campos contracena o fausto dos marajás com a pobreza extrema do povo, dos lagos de Udaipur, da pureza branca de Ranakpur, do monolítico forte de Mehran Garh em Jodhpur, dos espelhos de Samode, do Palácio dos Ventos dentro da cidade rosa de Jaipur, dos elefantes de Amber.   

PALÁCIO DOS VENTOS EM JAIPUR














O TEMPLO DOURADO DE AMRITSAR














Só depois viria Uttar Pradesh e a cereja do bolo – o Taj Mahal.

Aí sim, estaria preparado para a cidade velha de Delhi, para o pandemônio humano, o caos urbano e o mais lunático trânsito do planeta. E para a paz celestial da Mesquita de Jama Masjid...

E terminaria no Punjab, terra dos sikhs e do Templo Dourado de Amritsar. O adeus seria na fronteira com o Paquistão, em Wagah, envolvido pelo frenesi patriótico que acompanha os malabarismos da ordem unida dos guardas, na cerimônia de descida da bandeira.

Mas, não interessa a ordem. O que aprendi foi inesquecível. Em qualquer sequência, a Índia é um mundo que deve ser visto, ouvido, inalado, saboreado e tocado. Só não há como descrevê-lo.

Oswaldo Pereira
Novembro 2015   
  



segunda-feira, 23 de novembro de 2015

ÍNDIA - PARTE II



CAPÍTULO II – UM TSUNAMI HUMANO

A renitente poluição vespertina dos céus de Delhi faz com que o sol morra vermelho como as turmalinas do Taj Mahal. Alimentada pela exaustão de um milhão e meio de automóveis e mais de dois milhões de motoretas e tuk-tuks, a bruma que paira sobre a imensa capital é apenas uma consequência de um dos mais permeáveis aspectos desse subcontinente. A superpopulação.

São 1,3 bilhão de habitantes. Entre as quinze mais populosas cidades do mundo, a Índia tem mais duas, além de Delhi: Mumbai e Calcutá. Projeções indicam que, em 2050, o país ultrapassará a China. Isto são estatísticas. Uma coisa é lê-las. Outra é senti-las.

Um imenso rio de gente. Um olhar ocidental, acostumado às suas particulares regras de coabitação e convivência, perde seu sentido aqui. O poderoso caudal humano tem suas leis próprias, a movimentação nas ruas permanentemente congestionadas seus ritmos e humores exclusivos. Leva algumas horas para a mente se adaptar. Depois, é só relaxar e apreciar o intrincado mosaico que a confluência de várias raças, ao sabor dos milênios, desenhou na paisagem. Indo-arianos, mongóis, árabes, drávidas e outras correntes menores colorem ruas, calçadas e parques das grandes cidades, as mulheres com seus saris, cholis, churidares e burkas, os homens de dhotis modestos ou ricos sherwanis, imponentes turbantes ou um simples fez. Uma paixão pelas mais garridas cores transforma a multidão num cortejo festivo, infindável, incessante. Tons de pele, cor de olhos, desenhos ritualísticos nas mãos, o universal bindi protegendo o chakra do terceiro olho, as longas barbas dos sikhs, legiões de escolares em férias com seus uniformes ocidentais, os marciais lanceiros guardando o Templo Dourado, pobres e pedintes em seus andrajos, os enxames de vendedores por toda a parte, uma colmeia, um formigueiro. Como descrever este tsunami humano?   

SARIS E CHOLIS
Mas, uma infinidade de gente significa também uma infinidade veículos auto-motores, resultando no mais caótico trânsito que já vi neste planeta. Como sinais, faróis luminosos, passadeiras para pedestres, avisos de limites de velocidade e de vias preferenciais funcionam somente como decoração e guardas rodoviários existam apenas na imaginação, ruas e estradas são um território free-for-all, onde arrepiantes manobras procuram espaços disputados por carros, caminhões, ônibus, vans, tuk-tuks, motoretas, bicicletas e transeuntes. E vacas. Sagrados em todo o território nacional, estes plácidos animais julgam seu inalienável direito andar, parar e até deitar em qualquer via pública, seja um caminho vicinal ou uma pista de alta velocidade (nosso guia informou-nos que o fumo dos carros afugenta as moscas, tornando a proximidade das estradas o endereço preferencial desses mimosos bichinhos...) Adicionalmente, espelhos retrovisores, ao que parece, são solenemente desprezados pelos audazes motoristas indianos, pois mudanças súbitas de mão ou ultrapassagens a qualquer velocidade são feitas sem consulta a esse supérfluo acessório. Todos os veículos longos têm pintada na sua traseira a frase Blow Horn (toque a buzina) ou Horn Please (buzina, por favor). Assim, a buzina é o item mais importante do modus vivendi estradal na Índia. Sua incessante utilização serve para mensagens como “estou aqui atrás”, “sai da frente”,tô com pressa” ou “vou passar de qualquer maneira”. Do Código de Trânsito, que julgo existir, o único parágrafo que parece valer é a obrigatoriedade de, como os ingleses, se dirigir pela esquerda. Mas, nem sempre...

CENA TÍPICA...

OUTRA CENA TÍPICA...
Uma verdade, porém, seja dita. Em quinze dias, e por mais de 800 quilômetros de estradas e ruas percorridos, só vi um acidente, e de pequena monta. Moral da história: os indianos no trânsito, como em todo o resto, têm sua própria filosofia de vida...

(continua)

Oswaldo Pereira
Novembro 2015


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

INDIA - PARTE I




John Godfrey Saxe foi um poeta satírico americano do século XIX, cujo mais conhecido poema foi “The Blind Men and the Elephant” (Os Cegos e o Elefante), uma parábola sobre a condição humana que nos faz, às vezes, julgar o todo a partir do conhecimento apenas da parte. Como cada cego (são seis) toca no animal em partes diferentes de seu corpo, chegam a conclusões individuais desencontradas sobre o que ali está. Esta é a descrição mais próxima da sensação que me ficou desta viagem. Palavras não bastam. Nem fotos, nem pinturas. Nem canções e nem poemas. Nem uma vida inteira. Explicar a Índia como um todo é humanamente impossível.
Foram quinze dias viajando, desde os confins do Punjab às praias de Goa, dos palácios de Uttar Pradesh aos contrafortes das montanhas do Aravalli, da vertigem de Delhi ao esplendor do Rajastão, da quietude de Ranakpur ao torvelinho de Mumbai. Quinze dias nos quais me deparei com algumas peças de um imenso quebra-cabeças, um caleidoscópio gigante de pedras preciosas girando numa cornucópia de lendas, rituais e de uma história que se perde na bruma dos tempos.
E esta tosca tentativa de descrever o indescritível vai ter de ser por capítulos. A Índia é grande demais para um blog...

CAPÍTULO I – EXPERIÊNCIA SENSORIAL
Neste nosso século, e no anterior, tem-se corrido atrás do petróleo. No próximo, a briga provavelmente será pela água. Mas no século XV, o motivo de cobiça eram as Especiarias. Enquanto a República de Veneza as comprava dos turcos a preços absurdos, e as revendiam ainda mais caras aos europeus, Portugal e Espanha, as grandes potências marítimas de então, empreenderam uma frenética disputa para ver quem primeiro descobria uma rota alternativa para o país de onde elas se originavam – a Índia. Utilizadas como conservantes, essências perfumadas, incensos e até afrodisíacos, estes produtos de origem vegetal (flores, frutos, caules, raízes, cascas ou sementes), de aroma e sabor acentuados, fizeram a diferença no cardápio insípido da Idade Média e mudaram os hábitos alimentares da Renascença. E continuam espicaçando o primeiro sentido a ser provocado quando se aporta em solo indiano. O paladar.

DUM ALOO: BATATA RECHEADA COM MOLHO CURRY




O "SALVADOR" CHAPATI









Em todos os locais onde se serve comida, os cardápios dividem a escolha em duas grandes categorias. Vegetariano ou não. Num país em que a maioria das religiões praticadas proíbe a ingestão de alimento de origem animal, é compreensível. O que leva algum tempo para perceber é que, em qualquer escolha que se faça, a boca do visitante sempre experimentará, em maior ou menor grau, a pungente delícia das especiarias. Masalas e currys são os onipresentes molhos e cada região (e cada cozinheiro, na verdade), tem sua fórmula secreta para misturar cardamomo, canela, piri-piri, cominho, cravo, açafrão e noz-moscada, e outros ingredientes de uma infindável lista. Eles irão acompanhar batatas, peixes, galinhas, carneiros, que podem estar cercados de arroz basmati ou lentilhas, vegetais cozidos ou saladas. Relaxe e não se preocupe com a ardência. Ao final, sempre aparecerão cestas com chapati, um pão fino sem fermento. Generosamente barrados de manteiga, irão mitigar rapidamente o ardor.

Por esta altura, o olfato já entendeu que estamos num mundo à parte e que, em qualquer rua de Delhi, uma cidade de 18 milhões de habitantes, você estará sempre no meio de uma multidão, de um engarrafamento e de uma profusão de lojas, tendas, quiosques, tascas, bancadas que vendem de tudo e espalham sem pudor uma monstruosa quantidade de lixo. Odores, perfumes, almíscares. Fumaça, gente, animais, comida, incenso. Tudo junto. Tudo muito.

RUA DE DELHI

Ouvir a Índia é outra experiência sensorial única. Seja na cacofonia de Delhi ou de Mumbai, mega cidades onde a buzina dos carros é uma sinfonia permanente, seja no som das flautas e tambores dos encantadores de serpentes no átrio de algum palácio, nos celestiais mantras dos jainistas em Ranakpur, na gritaria patriótica durante as cerimônias militares na fronteira com o Paquistão, no tinir dos címbalos dentro do templo de Laxmi Narayan na celebração do Aasti, no barulho ensurdecedor da lavagem dos pratos e talheres de um refeitório onde são servidas 50.000 refeições gratuitas por dia, em Amritsar. Ouvir a Índia é também escutar sem entender uma palavra do hindi e suas variações e perceber alguma coisa do acentuado inglês falado em toda a parte. Afinal, são 22 línguas oficiais, 164 idiomas menores e 1.576 dialetos.



Mas o melhor de tudo é ver. Olhar, perscrutar, espreitar, mirar, enxergar, espiar, vislumbrar e, principalmente, contemplar. Seriam precisos rios de escrita e uma capacidade descritiva sobre humana para por no papel a imagem de um mundo que atravessa todo um subcontinente milenar, que aprofunda suas raízes em Mohenjodaro, no alvorecer da civilização, e expõe as cores de uma história vibrante através dos séculos, das raças e das crenças, até os dias de hoje, em que todos estes capítulos se sobrepõem e se somam, num grande e fantástico painel multifacetado.

(continua)

Oswaldo Pereira
Novembro 2015