quinta-feira, 31 de agosto de 2017

VALAR UMBIS...


Segundo anunciam, agora só daqui a 18 meses. Ou mais. A próxima e última temporada da mais festejada série de televisão de todos os tempos só acontecerá em 2019. Spoilers, teorias, apostas, adivinhações e uma grande ansiedade irão assombrar os seus fiéis seguidores por um ano e meio à frente, sem tréguas. E eu sou um deles...

Mas, por enquanto, ainda se ouvem os ecos do Sétimo Capítulo, cujo episódio de encerramento foi levado a quase duzentos países no passado domingo. Já é o segundo que vai ao ar sem ter a linha mestra do livro que inspirou a série por trás. George R. R. Martin, o gênio que criou o universo medieval-mítico em sua alentada obra A Song of Ice and Fire, parou de escrever no quinto volume, já aproveitado na produção para a telinha. Deu um tempo e os roteiristas de Game of Thrones tiveram de garimpar o que estava na cabeça de Martin e enxertar suas próprias visões de futuro do conturbado e fabuloso mundo de dois grandes continentes. Com Essos mantido nas brumas e em hold, a trama praticamente zerou seu zoom em Westeros e nos conflitos de seus sete reinos.

Seria exagerado, e injusto, dizer que houve uma perda. A Sétima Temporada esbanjou fantásticos efeitos especiais, afunilou a trama, centrou seu foco nos personagens principais, desbastou narrativas supérfluas e definiu lealdades. Fiel ao seu moto valiriano Valar Morghulis (todos os homens devem morrer), obliterou três grandes famílias (os Tyrell, os Martell e os Frey), justiçou Lord Baelish e queimou pai e filho Tarly. Mas, num perceptível abrandamento, absolveu da morte certa por afogamento tanto Jaime Lannister como Jon Snow. Shame!, dirão alguns. Também não sei se o plano (furado) de tentar convencer Cersei a se unir a Daenerys por conta do white walker aprisionado a duras penas seria digno de Tyrion Lannister em épocas anteriores.

Mas, não me julguem mal. Por tudo e por todos, Game of Thrones continua sendo um merecidíssimo sucesso. E continuará nos subjugando à sua irresistível sedução durante os longos meses que faltam para o seu aguardadíssimo final.

Por isso mesmo, escrevi o título deste texto em Alto Valiriano.

Valar Ūmbis. Todos os homens devem esperar...

Oswaldo Pereira

Agosto 2017

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

ELVIS


Thomas Edison é famoso por muitas coisas, inclusive por ter sido um grande frasista. O gênio é 1% inspiração e 99% perspiração, é uma de suas mais conhecidas frases. E esta outra. A maioria dos fiascos aconteceu a pessoas que não conseguiram enxergar quão próximas estavam do sucesso quando desistiram.

Perseverança. Se não fosse esta capacidade de continuar tentando, mesmo quando tudo dá errado, Elvis Aaron Presley não teria sido Rei.

Apesar de aluno médio na escola, sua pior nota sempre foi em Música. Daí sua decepção quando, aos dez anos, em vez de uma bicicleta ou um rifle de brinquedo, ganhou da mãe uma guitarra. Fazer o quê. Já que era assim, decidiu investir na prenda e, sempre de ouvido, foi aprendendo a tocar.

Aos 14, já arriscava participar de alguns concursos musicais do meio rural em que vivia, com pouco sucesso. A essa altura, a família já se mudara do Mississippi e fora morar em Menphis, no Tennessee. Cada vez mais atraído pela cena da pop music americana, agitada pelo terremoto recente do rock’n’roll, o garoto caipira foi procurando beber nas fontes do hillbilly, da soul e dos blues. Isto seria determinante para a criação do rockabilly, o tipo de ritmo que o iria consagrar.

Mas, a deusa da fortuna só o iria bafejar ligeiramente em 1954, quando, com 18 anos e querendo fazer um disco demo para presentear à mãe, foi aos estúdios da Sun Records e gravou “My Happiness”. A experiência ficou só nisto, embora Sam Phillips, o dono da gravadora, tenha guardado uma cópia. Havia alguma coisa no jeitão daquele garoto que o agradara. Good ballad singer, disse ele à secretária.

A vida seguiu e Elvis arranjou um emprego de chofer de caminhão, ao mesmo temo que era rejeitado por vários grupos musicais. Não entende nada de harmonia, era uma das várias frases que ouvia. Outra era continue a dirigir caminhões, rapaz.

Foi com surpresa, então, que meses depois recebeu um chamado de Phillips para que voltasse à Sun e fizesse uma audição. O próprio Sam contratara três instrumentistas para acompanhá-lo. O dia, entretanto, foi totalmente infrutífero. Nada parecia dar certo. Às dez da noite, quando os músicos se preparavam para guardar seus instrumentos, Elvis pegou a guitarra e começou a cantar That’s All Right e a mexer-se como um louco. Os outros, empolgados, decidiram acompanhar. De repente, Sam Phillips, que aparentemente assistira a tudo, abriu a porta do estúdio e disse: Recomecem isso aí. Eu vou gravar.

O resto vocês sabem. Em novembro de 1955, Elvis, já então famoso no sudeste americano, decidiu mudar para uma gravadora conhecida nacionalmente, a RCA. Seu primeiro single, Heartbreak Hotel, disparou nas paradas de sucesso. Quando 1956 entrou, Elvis Presley entrava em outra dimensão. A dos mega stars.

À batida inebriante do rockabilly, Elvis juntou seu belo rosto juvenil, umas compridas costeletas e o rebolado que iria desencadear, simultaneamente ao delírio das adolescentes de então, uma severa condenação dos conservadores e até do FBI, que o considerou uma ameaça à juventude dos Estados Unidos. Ed Sullivan, cujo programa de TV era líder nacional de audiência, declarou-o unfit for family viewers (impróprio para a família expectadora) e, escandalizado com as ancas giratórias de Presley, apelidou-o de Elvis the Pelvis.

De nada adiantou. A onda de sucesso era avassaladora e todos tiveram de engolir seus ácidos comentários. Ele era o Rei.

Eu tinha 15 anos quando ouvi Heartbreak Hotel pela primeira vez. A bem da verdade, não me impressionou muito. As paradas musicais que nos chegavam pelo Rádio e pelos 78 rotações (tradução para a galera jovem: um disco de acetato que tocava numa coisa chamada vitrola) tinha outros favoritos, como os Platters, Little Richards, Pat Boone, Everly Brothers e que tais. Só sabia que ele andava num Cadillac cor-de-rosa com um pente quebrado no bolso.

Mas, logo depois fui para os Estados Unidos e fiquei exposto ao imenso sucesso de Elvis. Ainda lá estava quando ele foi convocado para o serviço militar. Uma comoção nacional.

Ao dar baixa do Exército, ainda no topo de sua popularidade, Elvis decidiu ir para Hollywood, praticamente abandonando a estrada dos shows e aparições televisivas por uma carreira de ator. Não decolou. Seus filmes foram demolidos pela crítica e acabaram por perder bilheteria. Quando decidiu voltar à cena musical, em 1968, o mundo mudara. A Invasão Britânica havia dominado o planeta.

Ainda assim, suas atuações on the road enchiam os anfiteatros. Mas, já não era o mesmo. Com a saúde em declínio, dominado pelo cardápio de drogas que consumia, suas apresentações foram-se tornando um desastre, uma exibição patética de um artista em desconstrução.

De uma certa maneira, sua morte precoce em agosto de 1977, aos 42 anos, resgatou o mito. Hoje, adoradores que nunca o viram ao vivo fazem seu ramadan de peregrinação a Graceland, a mansão onde repousa. Continua vendendo discos que, até agora, somam mais de 600 milhões. E inspirando visões que asseguram que ainda anda por aí. E mantém sua coroa de Rei.

Oswaldo Pereira
Agosto 2017












sexta-feira, 18 de agosto de 2017

TURISMO


Grupos. Séquitos. Hordas.

Rios. Torrentes. Tsunamis.

É a maré dos turistas. E as cidades-alvo veem suas ruas, suas praias, seus monumentos, seus bares, seus restaurantes e seu dia-a-dia afogados em ondas e mais ondas de gente ávida por selfies, comida típica e diversão barata. Não necessariamente nesta ordem.

Com o esfacelamento do turismo exótico em terras africanas e nos mistérios orientais, engolfados em rebeliões internas, guerras cruéis e desassossego político, os europeus sedentos de sol voltaram-se este ano para endereços dentro de seu próprio continente, especialmente os que prometiam céu azul, areia banca, águas mornas e suaves brisas vespertinas.

Assim, já que Grécia e Italia penam os dissabores de ver barcos e mais barcos de refugiados aportarem às suas costas, veranistas de todo os nortes concentraram sua mira, e seu sonho de um verão dos deuses, nas Ilhas Baleares, no sul e no leste espanhóis, nas Canárias. E em Portugal.

Na Espanha, a coisa já está ultrapassando os limites. Não há mais quartos livres na hotelaria de Barcelona e em Palma de Maiorca esgotaram-se os centímetros de areia para estender a toalha de praia. Em Tenerife e Lanzarote o sol já não chega para todos e muito menos tapas para matar a fome no final do dia. Em alguns lugares, há locais se rebelando contra a invasão às vezes predatória e que contabiliza mais prejuízos do que ganhos. Tem havido demonstrações de turistofobia em vários lugares.

Por aqui, ainda não chegamos a isto, mas é visível o significativo aumento na revoada estival deste ano nas ruas de Lisboa, do Porto, de Coimbra. O Algarve, preferido por dez entre dez beach lovers, e agraciado recentemente pela indústria de viagens com o apelido de A Califórnia Europeia, regurgita gente por todos os lados. Estima-se que 35 milhões de turistas deverão visitar Portugal em 2017. Contratempos à parte, é um grande sucesso financeiro e de prestígio internacional.

E eu fico pensando no Brasil. Seria a nossa hora. 2017. Um ano depois dos Jogos do Rio. Uma dádiva da natureza envolvida em sol, céu, mares e florestas. Uma linha de praias brancas com dezenas de quilômetros, recôncavos de baías virgens e colinas verdes, montanhas míticas. E penso nas oportunidades perdidas, no sonho de um Rio olímpico que se desfaz lentamente no pântano do descaso, da incompetência e da corrupção. No fosso intransponível criado pela insegurança, pela falta de vontade política para resolver o problema, pelos projetos corroídos pela ferrugem dos desmandos, estruturas carcomidas pela estupidez e pela irresponsabilidade.

Mais uma que perdemos...

Oswaldo Pereira
Agosto 2017


quinta-feira, 10 de agosto de 2017

CADA TERRA COM SEU USO...


Tem sido um ano de viagens. Como vocês sabem, minha família está espalhada por este planeta e ver filhos e netos exige estar em constante movimento. E é um movimento de longas horas de voo, vários aeroportos e muitos fusos horários.
Como, desde janeiro, este périplo familiar me fez conviver com várias línguas, jeitos e costumes, acabei por vivenciar algumas peculiaridades que sublinham as diferenças de postura e de concepção de cada povo. Por exemplo:

Portugal
Em abril recebi uma multa referente a uma infração de trânsito. Vinha por correio especial e foi entregue pessoalmente em minha casa por um funcionário da DHL. Era um estacionamento irregular ocorrido 2012. Como nessa época o carro que possuo ainda não estava em meu nome, preparei-me para contestar. Mas, ao verificar o montante, desisti e resolvi pagá-la. Valor? 2,51. Quer dizer, o Departamento de Trânsito português não hesitou em gastar muito mais em papel e correio para me cobrar uma multa com cinco anos de idade...

Brasil
Em fevereiro, descobri que me esquecera de pagar o Imposto Territorial de um terreno que tenho em Nova Friburgo referente a 2014. Entrei em contato com a Prefeitura da cidade serrana e solicitei que me enviassem um novo carnê de pagamento. Evidentemente, esperava os acréscimos de mora e correção. Mas, a informação foi de que eu poderia pagar o mesmo valor, sem adições. A pergunta era se eu pagaria a vista, com um desconto. Ou se preferia dividir o valor em prestações. Quantas? Bem, eu poderia escolher. 12, 24, 48...

Alemanha
Fui pagar o estacionamento num shopping em Hamburgo. Inseri o talão e a máquina informou-me que o valor correspondia a 12,00. Enfiei uma nota de 20. Para meu espanto, e contrariedade, veio um troco de apenas três euros. Resolvi conferir o recibo cuspido pelo terminal. Lá estava, em pleno desprezo pela aritmética, o cálculo: 20 – 12 = 3. Fomos, eu e meu filho, reclamar. Pois bem. Não houve ninguém, em todo o nível hierárquico da empresa de estacionamento, que soubesse solucionar o problema. Lógica alemã: uma máquina não erra contas de subtrair. Portanto, se a máquina determinou que o resultado era 3 euros...

Estados Unidos.
Fui comprar uma jeans no Macy’s. Numa outra loja da mesma cadeia eu verificara que o preço andava em torno de US$35. Nessa onde estava, entretanto, a mesma calça era vendida a US$59. Sem clearance ou promoções. O empregado deu-me a entender que nada podia fazer. Por sorte, minha filha estava comigo. Rapidamente, ela sacou de seu iphone, acessou o site da loja que eu visitara antes e confirmou o preço que eu vira. O empregado nem titubeou. Sem consultar gerentes ou superiores, imediatamente igualou o valor mais baixo.

Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso. Assim diziam meus avós...

Oswaldo Pereira

Agosto 2017

domingo, 6 de agosto de 2017

MINIATURE WUNDERLAND



Mundos em miniatura têm sido uma atração irresistível para muita gente. Desde os antigos egípcios, como vários museus exibem em cenas fabricadas há mais de 3.000 anos, mostrando barcos cerimoniais, soldados em marcha, sacerdotes em procissão, construídos em tamanho muito menor que a realidade.

Um dos mais conhecidos exemplos desta arte são os presépios. Símbolos religiosos da Natividade, sua presença é quase universal, espalhados por todos os recantos onde se professa a fé católica. Há-os de todos os tamanhos, feitios e preciosidade.

Reproduzir em escala a vida real é um trabalho minucioso, que requer observação, imaginação, atenção suprema ao detalhe. E muita paciência. Mas, o impacto visual de se deparar com paisagens e cenários condensados em universos reduzidos agrada a maioria das pessoas, de repente promovidas à categoria de gigantes, e todo o investimento pode-se transformar num sucesso financeiro e num ponto turístico famoso e procurado.

Atualmente, há em todo o mundo vários desses empreendimentos, alguns internacionalmente aclamados. A maioria deles está equipada com centrais de controle que fazem trens trafegarem, barcos navegarem, veículos se deslocarem, luzes acenderem-se e até pessoas caminharem. Um universo vivo e em movimento.

O Miniature World, em Victoria, no Canadá, o Gulliver Gate de Nova Iorque, o parque de Madurodam na Holanda e até o Mini Mundo, na brasileira Gramado, entre muitos outros, são exemplos da perfeição com que os miniaturistas replicam o cotidiano do nosso planeta.

Mas, há um em especial que procuro visitar toda vez que vou à Alemanha. Chama-se Miniature Wunderland (A Terra Maravilhosa da Miniatura). Criada pelos irmãos gêmeos Frederik e Gerrit Braun no ano de 2001, essa maravilhosa terra ocupa atualmente quase 1.900 m² em dois andares na Hafen City de Hamburgo. São cenas de incrível detalhe, mostrando paisagens dos Alpes, da Suíça, da Áustria, dos Estados Unidos e da Escandinávia, além da própria Hamburgo, tudo na escala HO, ou seja, 87 vezes menor que o tamanho real.

Em constante crescimento, a Miniature Wunderland vive inaugurando novidades. Há dois anos, foi a réplica do aeroporto da cidade, com todas as instalações de passageiros, terminais, estacionamento, hangares e pistas de pouso e decolagem. E, pasmem, os aviões realmente decolam e pousam. Este ano, a adição foi a Itália, com direito a todos os pontos turísticos de Roma, extensas partes da Riviera italiana e um Vesúvio que entra em erupção.

O complexo todo tem 15.000 metros de linhas férreas, 1.300 trens, 10.000 vagões, 100.000 veículos, 400.000 figuras humanas e 500.000 luzes. E pretende continuar crescendo até 2020.

Vale a viagem...





















































Oswaldo Pereira

Agosto 2017