terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

BOND 60 (8): GOLDFINGER (PARTE II)

 


Com sua missão definida, Bond cria uma ocasião para encontrar-se com Goldfinger socialmente. E nada melhor do que uma partida de golfe, em que o agente britânico atiça o interesse de seu adversário apostando uma barra de ouro. Novamente, 007 consegue superar as espertezas do outro e ganha o jogo. Ao se despedirem, Goldfinger adverte Bond para que não mais cruze seu caminho e propicia uma demonstração das habilidades de seu capanga Oddjob, um mal encarado mestre em artes marciais coreano, no arremesso seu chapéu coco com uma afiadíssima aba de metal.

A partir daí, Bond passa a seguir o Rolls Royce Silver Phantom de Goldfinger, com o auxílio de um rastreador e de um monitor adaptado no painel de seu Aston Martin DB5, transformado pela Seção Q numa verdadeira maravilha tecnológica.

O GPS só apareceria 40 anos depois. Mas, esse brinquedinho e mais o carro colocariam combustível adicional no crescente fascínio dos aficionados pelo arsenal de “gadgets” utilizado pelo agente. Inclusive, uma miniatura do automóvel, com todos os seus mirabolantes apetrechos adicionais, fabricada pela Corgi Toys, foi o brinquedo mais vendido no Reino Unido em 1964.

A perseguição se estende até a Suiça, onde Goldfinger possui uma unidade industrial. Protegido pela noite, Bond consegue penetrar nas dependências da fábrica e descobre como o contrabando era realizado: o Rolls Royce que ele havia seguido desde a Inglaterra era feito de ouro. Ele também pesca uma conversa de Goldfinger de que um grande golpe estava sendo preparado.

Ao tentar sair da fábrica, Bond cruza outra vez com a loura que encontrara anteriormente nas estradas suíças e descobre que ela é irmã de Jill Masterson, a garota transformada em ouro, e que deseja matar Goldfinger por vingança. Os dois são apanhados pelos guardas, a loura morre e 007 é feito prisioneiro. A cena seguinte é antológica: Bond amarrado a uma mesa e um feixe de laser lentamente derretendo o tampo de metal dourado em direção ao seu corpo. Goldfinger está presente e os dois têm um dos melhores diálogos de toda a série. (Se quiser, veja neste   LINK    ).

O filme segue com Bond tendo sua sentença de morte comutada em prisão e todos indo para os Estados Unidos, onde está o grande objetivo de Goldfinger: roubar o maior depósito de ouro do planeta, ou seja, Fort Knox. Após reunir-se com os mais notórios gangsters americanos (para depois eliminá-los), Goldfinger revela o verdadeiro conceito da operação Grand Slam, que é detonar uma mini bomba atômica no interior do depósito e tornar o ouro lá estocado radioativo e inutilizado por décadas. Isto, evidentemente, elevaria astronomicamente o valor da fortuna em ouro em poder do vilão.

Este roteiro veio corrigir um dos grandes erros de Ian Fleming ao escrever “Goldfinger” e pelo qual foi duramente criticado. No livro, ele determina que o plano objetiva realmente retirar todo o ouro existente em Fort Knox, estimado por ele em mil toneladas do metal. Isto era impossível, dadas as condições de transporte da época.

Para conseguir colocar a bomba dentro do forte, Goldfinger contaria com a esquadrilha de mulheres pilotas comandada por uma beldade chamada Pussy Galore (Fleming era pródigo em criar nomes próprios de duplo sentido) e que, na hora H, despejaria do ar um gás destinado a eliminar todas as tropas que protegiam o depósito.

Mas aí, entra o charme de Bond, James Bond. Ele consegue conquistar Pussy, apesar do lesbianismo desta (mais explícito no livro do que no filme) e fazer com que ela passe para o lado dele. As autoridades são alertadas, o gás utilizado pela esquadrilha de garotas é inofensivo e a Operação Grand Slam falha. Bond enfrenta Oddjob numa luta eletrizante, os americanos derrotam os demais capangas de Goldfinger e a bomba é desativada quando faltavam apenas 007 segundos para explodir...

O final ainda reserva uma luta mortal entre Bond e Goldfinger dentro de um jatinho, com este sendo sugado para fora através de uma janela aberta com um tiro. O avião acaba caindo, mas Bond e Pussy saltam de paraquedas. Sãos e salvos, e perdidos numa providencial ilha, os dois se escondem de um helicóptero que aparece para recolhê-los. This is no time to be rescued (Isto não é hora para ser salvo), murmura Bond.

O filme foi dirigido por Guy Hamilton (que voltaria em outros Bonds); Terence Young havia entregue a batuta, alegando outros compromissos. Hamilton dedicou especial atenção à busca dos atores para o papel dos vilões. Até Orson Welles foi convidado para fazer Auric Goldfinger, mas a escolha acabou caindo em Gert Fröbe, um experimentado ator alemão. Acontece que Fröbe não falava uma palavra de inglês e teve de ser dublado. O inesquecível Oddjob foi representado por Harold Sakata, um medalhista olímpico de levantamento de peso nascido no Havaí. Sakata ficou famoso no set de filmagem por sua simpatia, cordialidade e profissionalismo. Acabou sofrendo queimaduras na cena de sua luta com Connery por não ter largado seu chapéu (realmente eletrificado) enquanto as câmeras estavam filmando.

Em Goldfinger, o compositor John Barry finalmente assumiu o controle total da feição musical da série, não só da trilha sonora como também da canção-título. E a música, com sua icônica introdução de duas notas metálicas e na possante voz de Shirley Bassey, iria reverberar no mundo inteiro.

Goldfinger marcaria o verdadeiro início da Bondmania. Foi também o primeiro a abiscoitar um Oscar para a franquia (Melhor Edição de Som). As imitações iriam aparecer. Só em 1966, foram lançados 22 filmes de espionagem procurando replicar a mesma fórmula.

Infelizmente, Ian Fleming não viveria para ver isto. Um mês antes do lançamento do filme, ele morreria de complicações cardíacas em Canterbury, aos 56 anos.

(continua)

 Oswaldo Pereira
Fevereiro 2022

6 comentários:

  1. ESPETACULAAAARRR.... Vou ler os demais e anunciar nis meus grupos!
    Precisávamos de uma descrição deste nível!!

    ResponderExcluir
  2. Gold finger foi realmente o grande início da série que cativou os aficionados fascinados por este tipo de filme de ação.
    Particularmente eu não deixei de ver todos.
    Gostei da sua análise e peço-lhe que continue comentando.
    Emilio Gonzalo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "Se me ajudarem engenho e arte...", como dizia Camões, pretendo fazê-lo. Obrigado pelo incentivo.

      Excluir
  3. O detalhamento da descrição do filme está fantástico. Me fez navegar a imaginação há anos atrás, quando vi o filme . Fiquei tão empolgado que vou tentar ver novamente esta pérola na telinha. Obrigado pela recordação, amigos.
    Roberto Bazolli

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Roberto. Goldfinger é uma atração permanente.

      Excluir