terça-feira, 11 de agosto de 2015

CARTA A DILMA








Presidente,


Como deve ter notado, não utilizei a versão que V.Excia. insiste em aplicar à designação de seu cargo e em obrigar a Imprensa Oficial e seus subordinados diretos ao ridículo de usá-la. Presidenta é uma asneira, um atentato a um dos meus mais queridos bens, a Língua Portuguesa.

Mas, não venho falar de vernáculo nem dos outros atentados que sua confusa oratória perpetra com frequência contra qualquer bom senso racional, lógico e gramatical, e cujas grotescas e mirabolantes ilações contextuais já começam a fazer parte do anedotário pátrio.

Também não venho falar da situação do país. Desta, V.Excia. deve ter sobejo conhecimento, embora, quero crer que por razões de puro marketing, V.Excia. pareça convenientemente distorcer em seus pronunciamentos públicos, lançando mão de imagens idílicas de uma Nação imune a crises, com todos os seus problemas em vias de rápida e eficiente solução. Admito que, aqui e ali, um chefe de governo procure “dourar a pílula”, objetivando instilar ânimo numa população descrente ou acabrunhada. É uma estratégia de comunicação de massas. No seu caso, porém, este projeto de imagem está sendo profundamente mal-empregado. Seu discurso está tão distanciado da realidade dos nossos hospitais, das nossas estradas, das nossas escolas, da nossa segurança, da nossa vida, que o efeito resulta desastroso e perversamente contrário ao desejado.

De seu abandono político, também não quero falar. Para alguém, como V.Excia., que dedicou corpo e alma, e os melhores anos da existência, ao exercício da vida pública, deve ser especialmente doloroso sentir-se repudiada pelos seus pares, seus “cumpanheiros” da primeira hora, e até, ingratidão das ingratidões, por seu mentor e paladino. Deve ser duro. Muito.

E para que comentar, enfim, o esfacelamento de sua base popular, a queda vertiginosa de seu índice de aprovação, cujo valor percentual abaixo de dois dígitos é um recorde histórico de desencanto? O que dizer quando nem a benesse caritativa do Bolsa Família, sua tão querida bandeira, usada e abusada como moeda de chantagem na virulenta campanha eleitoral do ano passado, é mais capaz de seduzir um povo cujo sustento está sendo corroído dia-a-dia pelo anátema de uma inflação crescente?

Não. O que realmente levou-me a escrever esta carta é fazer-lhe um pedido. Renuncie. Para o bem do Brasil, e, principalmente do seu, renuncie.

A queda de braço que sua péssima coordenação política criou com o Congresso parou o país. Nada passará por uma Câmara e um Senado hostis. Nem a urgentemente necessária legislação do ajuste fiscal, frágil tábua de salvamento de uma economia em franco desaquecimento. Esta paralisia institucional terá como consequência, e nisto há um consenso, anos de desarranjo fiscal, com desdobramentos sociais imprevisíveis. Enquanto a Senhora aí estiver, o país corre o sério risco de enveredar por um longo período de estagnação.

Renuncie, também, porque está sozinha. Daqui de fora, longe dos meandros do poder, dá para sentir que há pouca gente em que V.Excia. possa confiar. Mesmo os seus mais chegados colaboradores são animais políticos e devem estar revendo suas lealdades toda vez que seu prestígio sofre um abalo.

Finalmente, renuncie por si própria. Pela imagem que quer deixar para o futuro. Como está, já deve ter percebido a impossibilidade de se comunicar com a Nação. Qualquer aparição sua na mídia televisiva dispara a hecatombe dos “panelaços”. Toda presença sua, fora dos muros do palácio, deflagra a cacofonia das vaias. Imagine só a festa inaugural das Olimpíadas no ano que vem e veja se poderá suportar que uma audiência global testemunhe a maior explosão de repúdio da história dos Jogos, na hora em que sua chegada for anunciada. Um insulto que ecoará pela eternidade.

Renuncie. Peça a algum bom “marqueteiro” que prepare uma comovente carta de despedida. Fale de sua luta como mulher e mãe. Assuma honestamente alguns erros e debite-os ao seu desejo de “fazer o melhor”. Sempre funciona. Se conheço bem a personalidade do brasileiro, logo ao final da leitura já haverá milhares que sentirão pena, simpatizarão com sua desdita, chorarão emocionados com sua partida. Será o início de sua redenção política, a semente de um provável caminho de retorno.

Não vê? Todos ganharão com sua saída. O Brasil, e a Senhora.

Saudações,

Oswaldo Pereira
Agosto 2015  




30 comentários:

  1. É Oswaldo
    Infelizmente desse susto a gente não morre!!!

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    1. Se os milhões que forem às ruas no dia 16 pedirem, quem sabe?...

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    2. QUERIDO OSWALDO, UMA EXCELENTE E INTELIGENTE SUGESTÃO A DILMA. E CONCORDO COM VOCÊ SOBRE O DIA 16, SERÁ UM MARCO EM TODOS OS SENTIDOS. ESPERAMOS QUE O RUMO SEJA AQUELE QUE 70% DA POPULAÇÃO DESEJA.
      VERA BRIONES

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    3. Obrigado, Vera. Acho que o percentual de repúdio ultrapassa os 70%. É uma sociedade inteira contra ela. Concordo com você. O dia 16 será um marco. A maior demonstração pública da nossa história. Será que ela prefere este escárnio a simplesmente ir embora?

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  2. Muito elegante o tom da sua admoestação. Mas... se em terra de cego, quem tem um olho é rei, que fazer se a cegueira atinge praticamente a maioria das criaturas que chegam a qq tipo de poder? Poder político especialmente. Os podres poderes.

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    1. A cegueira pior foi a das gerações que, aos poucos, foram sucumbindo ao canto das sereias da politicagem desenfreada. Se tivessem sido surdos e não cegos....

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    2. Na verdade,cegos, surdos e mudos como os macaquinhos da fábula. Mas Oswaldo, vc deve conhecer e se lembrar de alguns espécimes raros e talentosos da política brasileira. Se te aprouver. Fale-nos deles.

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  3. Ela podia parafrasear D. Pedro e soltar um
    'Para o bem de todos e felicidade geral da Nação diga ao povo que ......' (fill in the blanks)
    Brilhante carta, amigo!!! Podia publicá-la, enviar aos jornais, quem sabe publicam!!!

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  4. Convidá-la a sair .......não sei não......ela não conhece esse ton.....sua atitude e truculência e notória.....as notícias de hoje convocando UNE e MST

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    1. Mais um erro trágico dela. Mostrar beligerância nesta hora é uma tremenda falta de inteligência política. Por estas e outras, o seu criador Lula já a deserdou.

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  5. Solange,
    Para não ir muito ao passado, nos anos da minha infância (e isto já é ir muito ao passado...) e juventude, gigantes políticos brasileiros andavam pela terra. In illo tempore, havia estrelas da magnitude de Getúlio, Lacerda, Juscelino e (por que não?) Jânio. Mesmo sem provocar unanimidades, ainda bem que não, eram respeitados por sua maestria oratória, sua estatura como homens públicos, seu carisma eletrizante. Nessa época, políticos que vieram a brilhar depois, como Tancredo Neves, jogavam na segunda divisão. Mas isto é uma longa história...

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    1. Acho que eu já estava na Faculdade. Vésperas de eleições. Passei pela sala onde meu pai via político falando. Dei uma paradinha pra ver o que era e fiquei até o fim. Acho q foi a única vez em toda a minha vida que entendi e concordei com o que estava sendo dito. Tratava-se de Santiago Dantas. O que ele dizia não lembro, mas dele, nunca esqueci.

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    3. Santiago Dantas, Roberto Campos, Oswaldo Aranha, Eugenio Gudin, Mario Henrique Simonsen, homens que falavam horas sem cometer um único erro de Português. Tratavam com naturalidade os regimes verbais, as concordâncias, até o emprego da crase...e, mesmo que vc não concordasse com o que diziam, inspiravam respeito e admiração.

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    4. Nos primórdios de sua carreira política Dilma não falava: " ...nós tamo fazeno, tamo buscano fazê..." isso começou junto com o declínio de sua popularidade. Uma tentativa de marqueting absolutamente ridícula de incorporar o "mestre" que por sinal tb já perdia pontos justo pq a sucessora não demonstrava em 2 mandatos, nem competência nem sequer o carisma do nordestino que elegeu Lula. Era supostamente uma dama do mundo dos eruditos, muito digna em seus taylleurs bem talhados. Só que o telhado era de vidro.
      Ainda assim tenho um leve temor de um poder que se instituira, tomando na marra um poder estabelecido legitimamente pelo sufrágio.

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    7. O único "tailleur" que está na moda é o da Merkel. O da Dilma ficou mal ajustado e está rendado pelas traças do propinoduto, da incompetência e da arrogância. Está na hora de mudar o figurino do poder.

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  6. Excelente carta para uma mulher que se fez presidente de um enorme país e agora nada mais tem a fazer senão o seu conselho, o seu pedido. É estarrecedor o que ela conseguiu fazer em tão pouco tempo, " a necessidade de sair do comando do Brasil e ir para casa, tomar conta do neto. Parabéns, o seu pedido está perfeito. Vamos enviar para ela ?

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    1. Gostaria muito que ela lesse. Fiquei sabendo que o Jabor também escreveu a sua carta. Milhões irão dia 16 "escrever" nas ruas o seu repúdio. Tomara que ela tenha um surto de lucidez e renuncie.

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  7. Excelente carta para uma mulher que se fez presidente de um enorme país e agora nada mais tem a fazer senão o seu conselho, o seu pedido. É estarrecedor o que ela conseguiu fazer em tão pouco tempo, " a necessidade de sair do comando do Brasil e ir para casa, tomar conta do neto. Parabéns, o seu pedido está perfeito. Vamos enviar para ela ?

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  8. Muito boa sugestão. Pena que a pessoa a quem é endereçada me parece não saber ler mas, entre seus defeitos, e os do partido, este me parece ser o menor.
    Hoje dia 24/6/16, ficou claro que o projeto administrado por ela, e pelo pt, é se locupletar pessoalmente e financiar o projeto sulamericano de uma nação com claro viés chavista arbitrário populista soviético.
    A conta que pagaremos é altíssima. O PT destruiu tudo que fez termos um ciclo de crescimento. Acabou com a responsabilidade fiscal, entupiu o estado de funcionários, recriou o malfadado projeto dos campeões nacionais, quebrou os fundo de pensão postalis, petros, real grandeza...
    Quem não aprende com a história tende a repeti-la. Passados 30 anos o pt repetiu os milicos e o sarney. Deu no que deu.

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    1. Certíssimo. O PT repetiu o que houve de pior do passado. Mas, desgraçadamente, com um viés mais tenebroso: um projeto de permanência no poder através da corrupção e do desprezo pelo país. E ainda têm a cara de pau de falar de golpe...

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