segunda-feira, 30 de julho de 2018

DONALD & VLADIMIR





Agora que a bola parou, a Europa acorda para um verão com turistas demais, incêndios cruéis e uma pequena ressaca causada pelo abrandamento das previsões de crescimento para 2019. 
Mas, o assunto do dia é Donald Trump.

A cimeira de Helsinque tocou nos nervos do Mercado Comum. Enquanto nos Estados Unidos a imprensa democrata (e alguma republicana também) fala da subserviência do Presidente americano ao Czar Putin, e toda a aparelhagem da teoria da conspiração municia as redes sociais com tenebrosos porquês de tal submissão, os europeus tentam ler a mensagem real da situação.

E descobrem que o “America First” do discurso inaugural não era só retórica. Trump está disposto a reverter anos de mão única nas relações comerciais entre os dois continentes, durante os quais os Estados Unidos mais que generosamente suportaram um certo protecionismo das democracias ocidentais europeias. O irmão grande yankee, desde os tempos da Guerra Fria e preocupado com perigo soviético, custeou a maior parte da fatura da NATO, prodigalizou acordos tarifários extremamente favoráveis à Europa e acarinhou o clube europeu importando seus carros, bebendo seus vinhos e gastando tsunamis de dólares na Côte d’Azur e adjacências.

Agora, tudo é diferente. O inimigo de ontem virou capitalista e quer participar da grande mesa do mercado internacional. À Rússia de Vladimir interessa o mesmo que à América de Donald. Comer pelas bordas o prestígio e a importância do Mercado Comum, desestabilizando-o, endurecendo o jogo comercial e, se possível, tentando desintegrá-lo. O Reino Unido já fez o seu primeiro grande favor com o Brexit. E as eleições recentes na Itália, onde uma coalizão impensável há seis meses chegou ao poder, atiraram mais lenha na fogueira. Alguém ainda duvida da eficácia de um ataque cibernético para influenciar votações? Cada vez há mais indícios disto nos Estados Unidos. O que dizer de Áustria, Holanda, Polônia...

Mas, o que vem unindo Donald e Vladimir não é uma quizília contra o Velho Mundo. E tampouco devem ser os roteiros que implicam Trump em negociatas com máfias russas ou escapadas com louras moscovitas. O que os une é o temor. Temor a um fator que pode (e irá) baralhar tudo o que conhecemos de relações internacionais. A China.

Num dos meus primeiros textos neste blog, escrito há quase cinco anos, eu dizia que qualquer previsão para os próximos dez anos, para qualquer atividade comercial, militar, artística ou desportiva, tinha de incluir o fator China como determinante. Há pouco mais de um ano, os chineses consolidaram um poder incomensurável nas mãos do presidente Xi Jinping. Isto quer dizer que o país tem uma liderança forte, que poderá conduzi-lo a assumir seu papel como a maior potência do planeta até meados deste século.

Oswaldo Pereira
Julho 2018