segunda-feira, 31 de outubro de 2022

DUAS ARENAS

 


Esperando a poeira baixar, enquanto ouço e vejo as explosões de alegria dos apoiadores de Lula e o desespero e a tristeza dos seguidores de Bolsonaro. E, aos poucos, à medida que a névoa da batalha se dissipa e eu me recupero da ressaca de uma esperança contrariada, tento enxergar além deste cenário imediato do pós-pleito.

Para mim, o que tivemos foram duas eleições, duas arenas em que se delineou o que o Brasil realmente quer. Na arena mais ampla, aquela que define o panorama político que vai comandar o Parlamento e a administração dos Estados brasileiros, houve a demonstração de uma clara e indiscutível preferência dos eleitores pela direita conservadora ou, pelo menos, pela fatia que se identificou com o Governo Bolsonaro. Praticamente, todos os seus ex-ministros se elegeram, todos os que tiveram seu incisivo apoio durante a campanha foram, com larga margem, premiados pelas urnas.  Houve uma significativa renovação, tanto na Câmara Federal como no Senado e, na maioria dos Estados mais importantes da União, os candidatos alinhados com o atual Presidente venceram.

Sem medo de errar, podemos dizer que a direita foi a grande vencedora. E isto quer dizer muita coisa. Quer dizer, por exemplo, que muitas das pautas da preferência petista encontrarão uma imensa dificuldade de passar no Congresso. Quer dizer que as casas legislativas estarão prontas a instalar CPI’s à menor indicação de atos irregulares do Governo Lula. E quer dizer também que o próprio STF terá agora pela frente um Senado hostil. Só para brincar de cenário, imaginem se, por exemplo, Sergio Moro for eleito Presidente da casa. Quantos pedidos de impeachment de Alexandre Moraes et caterva vão ser exumados de debaixo do tapete onde Rodrigo Pacheco os colocou?

Mas, tivemos uma outra arena. Uma arena de dois contendores, disputando um round de rejeições. A apertadíssima vitória de Lula nesse ringue dá a dimensão de quão acirradas e diametralmente opostas são as paixões e as preferências pessoais. Deve-se notar, também, que, mesmo apanhando da mídia todos os dias durante os quatro anos de seu mandato, enxovalhado pela classe artística e influenciadores de plantão, e alfinetado constantemente por uma Justiça partidarizada, Bolsonaro quase derrotou Lula.

Disto tudo, percebe-se que Lula terá dificuldade para governar. O Brasil de hoje é muito diferente do Brasil de 2002, de 2006, e mesmo de 2010, quando Dilma ganhou as eleições. Para já, há um modo novo de divulgação e propagação de ideias e notícias e, não há dúvidas, é um fator que pode desestabilizar o ambiente político. Além disso, Lula estará muito só no mandato que ele iniciará em primeiro de janeiro de 2023. A esquerda está sem lideranças. Haddad, Boulos, Freixo e muitos outros foram rejeitados pelas urnas. Em contrapartida, duas grandes estrelas da direita estão surgindo e já anunciando seu protagonismo: o mineiro Romeu Zema e o carioca Tarcísio de Freitas.

O que realmente me preocupa é a reconhecida orientação esquerdista de, comendo pelas bordas, cooptar, seja pela corrupção ou pela ameaça, os pilares do poder. É um filme que já estamos assistindo aqui mesmo perto de casa e que já vivenciamos em Pindorama. Outra é a reação internacional. Não aquela que muita gente boa está comemorando, destacando a aceitação de Lula pelos governos estrangeiros. Isto de tapinha nas costas de chefes de Estado é muito bonito para fotografias e discursos. O que me interessa é a aceitação e a confiança dos grandes investidores internacionais, aqueles que trazem dinheiro e criam trabalho e riqueza. Nestes anos de Bolsonaro, o Brasil foi o eleito por eles como porto seguro para seus empreendimentos. Será que Lula não irá assustá-los, como aconteceu na Venezuela, na Argentina, no Chile e agora começa a acontecer na Colômbia?

Isto é o que eu consigo enxergar. Vão ser anos difíceis. Se Lula, paralisado num ambiente político adverso, estagnar o país, logo-logo a lua-de-mel acaba. Até a grande imprensa, que agora perdeu seu Judas preferido para malhar, poderá dar um giro de 180º em suas baterias. A ver.

Oswaldo Pereira
Outubro 2022

13 comentários:

  1. Vamos lembrar que a centro direita apresenta nomes bem interessantes, Simone Tebet, Eduardo Leite e Raquel Lyra. Uma direita espelhada na Inglaterra sem pauta de costumes nem vínculos religiosos. Bolsonaro perdeu por radicalizar a direita. As urnas mostraram que o povo brasileiro prefere a Direita, mas nem todos gostam de Bolsonaro.

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  2. Pau que bate em Francisco bate também em Chico. Se Lula voltar a ser o antigo Lula, acontecerá que a mídia vai cair de pau em cima dele como foram os 4 anos de Bolsonaro.
    A renovação do Congresso e ele não tendo maioria, vai apanhar bastante.
    Para mim o erro crasso do Bolsonaro: Aquele setor dele de fake news que foi a forma de tentar se defender, como o último do Radiolão que não pegou bem.
    Eu nunca vi tanta barbaridade e bastava parar e pensar para ver que era um enxovalhar o Lula e o PT. constante
    Ora e precisava inventar?
    O Currículo do Lula e do PT já falam pelo Mensalão e Petrolão, fora a des- condenação, uma vergonha jurídica, uma afronta a Constituição.

    Já a turma do Lula, com Costas Largas não praticava esse tipo de fakes news, em compensação entrava a torto e a direito do STF e no TSE, sendo atendido em seus desejos.
    Eu ficava pasma com a censura de nomes ligados ao Lula, esses estavam proibidos, mas o Fascista, Genocida entre outros sobre o Bolsonaro não eram censurados, ou seja um Vergonha Geral, uma desigualdade jamais vista.
    Enfim veremos o que nos aguarda.
    LI um artigo que diz que o candidato da NOM é o Alkimin já que o Lula morrerá no próximo ano. É uma Tese como tantas outras.
    Hoje você pode dizer o que quiser, todos viraram Videntes, Cartomantes, Astrólogos.
    Bjs Zezé

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    1. Concordo com você, Zezé. Até adiciono que Bolsonaro foi um péssimo debatedor. Perdeu oportunidades de ouro para reverter o jogo. Que saudade de craques como Lacerda, Juscelino, Jânio... Davam nó em pingo d'água e expunham o adversário ao ridículo com frases geniais. Lula, com seu discurso enfezado e rasteiro, seria um brinquedo nas mãos deles.

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  3. Oi, Oswaldo! Parabéns pelo artigo. A análise está perfeita. Concordo com tudo.
    Forte abraço.
    Horácio Amaral

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    1. Obrigado. Agora é exercer a proverbial eterna vigilância, para que não se repitam as barbaridades cometidas pelo PT.

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  4. Pois é Oswaldo. Difícil entender esse país. Acho que as pessoas sérias no exterior devem estar se perguntando, como um ladrão condenado pode voltar, por vontade do povo, ao governo do país. Pode-se até admitir erros de Bolsonaro, mas em muito pouco tempo o país chamado Brasil mudou de cara em muitos aspectos. Mas parece que isto não interessa a grande parte da população. O tempo dirá.

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    1. Acho que é uma das poucas situações no mundo em que um Presidente que acabou com a corrupção, fez o país crescer como nenhum outro está conseguindo pós-pandemia, como inflação e desemprego em queda, as estatais saneadas e uma das gasolinas mais baratas do mundo é derrotado.

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  5. Análise concisa, precisa, perfeita.
    Quem dera, que no "jogo" político, as diferenças de opinião não extravasassem o bom senso.

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    1. Infelizmente, a política é um jogo de interesses poderosos e, ça va sans dire, um jogo sujo e viciado. Para saneá-la, numa democracia, só melhorando a qualidade do voto. E isto só acontece com a maciça Educação de um povo.

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  6. Eterno chefe, vi sua Live, parabéns, além do conteúdo, estais em uma forma incrível. Quanto ao texto de agora, tenho um depoimento a dar, como sabes estou morando em Lisboa, a vitória de Lula foi comemorada tanto por Marcelo como por Antonio Costa. O primeiro comentaria ao seu texto foi meu, apareceu como anônimo. O Bolsonaro, talvez por não ser um líder nem ter a cultura política de Lacerda, Juscelino, Jânio... cavou a sua própria derrota, conseguiu que a centro direita votasse no Lula. Novamente o Brasil perde. Nossa classe política está muito fragilizada, aceita entregar ao STF o poder de fazer leis e agora de atuar como executivo, como sabemos poder não tem vácuo. Um congresso forte de pessoas preocupadas com o país, não deixaria a volta do Lula.

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    1. Caríssimo amigo, obrigado pelo elogio. Quanto à forma, lembro-me do que meu pai, bom mineiro, dizia quando comentavam sobre sua permanente boa aparência: "Você vê as cachaças que eu bebo, mas não vê os tombos que eu levo..." Mas, voltando ao Brasil de hoje, tens inteira razão. A única esperança que ainda tremeluz no fim do túnel é que o novo Congresso honre o aval que teve nas urnas, devido em parte total ao nome de Bolsonaro e impeça Lula de desfazer o magnífico trabalho feito nestes últimos 4 anos e de cometer os desatinos desonestos do PT. E que os 58 milhões de brasileiros que desejavam um resultado diferente que se preparem para manterem-se na vigília e contestar com vigor qualquer tentativa de destruir o país.

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  7. Meu medo é exatamente o seu do último parágrafo. O mesmo que aconteceu com Dória, Joyce, Frota, Kim, muitos se viraram contra o B. E se o Congresso conservador, assim como os governadores também forem alguns deles mordidos pela mosca azul do lado-de-lá?!? Tomara que não. Um abraço.

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