domingo, 16 de outubro de 2022

COMO FOI POSSÍVEL?

 


Logo após as eleições de 2018, um amigo francês enviou-me um e-mail perguntando: Por que Bolsonaro? Respondi-lhe também por e-mail. Foi uma resposta sucinta e apenas em grandes linhas. Resolvi, porém, qualificar melhor a minha resposta e escrevi um texto sobre o assunto, em que procurei colocar em perspectiva político-histórica o resultado das urnas (se você estiver interessado, poderá lê-lo neste   LINK  ).

Passados quatro anos, e nas vésperas do segundo turno de uma eleição crucial, sou eu que me pergunto: como foi possível chegar ao ponto em que estamos, com Lula disputando palmo a palmo a escolha para a Presidência do país?

Em outubro de 2018, o PT estava de rastros. A gigantesca corrupção que havia sido praticada durante os governos petistas, reveladas pela Operação Lava-Jato, havia horrorizado o povo brasileiro. Pela primeira vez, e devido principalmente ao incontestável teor da desonestidade conluiada entre as grandes empreiteiras e a base política do Governo, vimos, com o aplauso da sociedade brasileira, o revigorante espetáculo da justiça sendo feita. Caciques graduados e antes intocáveis recebendo a visita da Polícia em suas indevidas mansões e indo para a cadeia era a justa retribuição pelos zilhões de dinheiro do nosso esforço como contribuintes que tinham ido para o ralo da roubalheira.

O tenebroso projeto de poder da esquerda, colocando na folha de pagamentos do propinoduto, financiada pelos nossos impostos e à custa da dilapidação de empresas e fundos de pensão estatais, uma considerável fatia do Congresso, bateu fundo na indignação do cidadão pátrio. Umbilicalmente identificado com esse quadro de desonestidade, o PT e seus puxadinhos pareciam ter caído no ostracismo político. A nítida sensação de que Lula e Dilma, chefes da nação durante o período, se não participantes diretos no botim, teriam no mínimo pecado por omissão, havia destroçado seu capital político e sua imagem.

Então, a pergunta. Como se explica a ressurreição de Lula?

Um argumento poderia ter sido uma péssima administração de Bolsonaro. Naquele meu texto, eu repetia o que todos diziam na ocasião: o hercúleo trabalho que o novo Presidente tinha pela frente, ao assumir um Governo aparelhado e uma situação econômico-institucional complicada. Escalando um time de ministros de reconhecida competência e fechando os buracos da malversação do erário, Bolsonaro conseguiu surpreender favoravelmente. Hoje, ninguém duvida do sucesso de seu trabalho, com o país, após enfrentar uma prolongada pandemia, condições climáticas adversas e uma guerra com várias implicações, voltando a crescer, e com inflação e desemprego em queda. Essa aprovação ficou evidente na votação do dia 2. A direita conservadora aumentou consideravelmente sua presença no cenário político.

Assim, não é por aí. O que nos faz voltar ao problema da rejeição. E, neste quesito, eu acho que houve uma inversão de marcha. Nos últimos quatro anos, observou-se uma redução da ojeriza a Lula, dominante em 2018, a ponto de muita gente que o renegava ter bandeado para o grupo que é capaz de apagar seus registros de memória e imaginar que ele possa ser uma alternativa melhor. Lula mudou? É claro que não. Pela retórica de sua campanha, o que ele anuncia é um revanchismo enraivecido e o que se vislumbra é a volta à prática do jabaculê partidário, do toma lá dá cá indecente. Seu currículo e seu retrospecto não permitem esperar nada diferente.

O que operou esta redução? Para mim, a resposta vem de uma estratégia da esquerda que é mais velha do que eu: a cooptação da cultura, da escola e dos meios de comunicação, a célebre e decantada tática gramsciana, que o socialismo brasileiro tão eficazmente soube instalar neste país. Com isso feito e consolidado, ficou fácil capitalizar em cima dos interesses contrariados pela firme atitude anticorrupção de Bolsonaro, diminuir ou simplesmente esconder na mídia os avanços e as realizações do Governo, explorar ad nauseam a belicosidade do Presidente, suas falhas de comunicação e sua personalidade combativa, de quem não gosta de levar desaforo para casa.

E, apesar de a direita ter reagido através das redes sociais, a inimaginável volta por cima de Lula acabou acontecendo. E nos pondo na encruzilhada deste segundo capítulo das eleições.

Oswaldo Pereira
Outubro 2022

4 comentários:

  1. Amigo foram 14 anos de adestramento maciço e antes outros governos de esquerda como FHC, mas mascarado de Direita.
    Um governo para ter um mínimo de saudabilidade tem que haver alternância caso contrario vira pequenas ditaduras como foram os 14 anos de PT.
    Eles foram no passado o partido mais orgânico existente. Caíram em desgraça graças a Lava jato, mas os cérebros continuaram atuando principalmente na área acadêmica, artística e de intelectuais.
    E o que falar do Jornalismo esses 4 anos?
    Papo grande para outro artigo.
    Todos os meus amigos intelectuais, acadêmicos e funcionários públicos e minha família petistas doentes.
    Eu considero o PT uma grave doença, e seus adeptos todos fanáticos que jamais conseguem ver um palmo diante do nariz. Tudo pelo Social e Socialismo, que no mundo inteiro vem se provando um fracasso. Tudo para eles foram golpes inclusive a prisão do dito cujo. Ouço frases como: o Melhor presidente que o Brasil teve, foi o Lula.
    Mais 4 anos para que o atual presidente possa terminar o que vem fazendo e em 2026 um renovação de nomes, pois não dá mais para ver essa divisão entre esquerda e direita que leva a radicalização.
    Se o Lula entrar nunca mais ficaremos livres do PT, da esquerda e do socialismo pois na verdade a briga não é por governos e sim pelo PODER.
    Vejo que não houve repercussão alguma até agora desse seu artigo, sou a primeira a publicar imagino que seus seguidores, pelo menos alguns deles não concordaram com sua posição política, infelizmente e não querendo mostrar suas preferências preferem silenciar. Será que é isso?
    Bjs Zezé

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    1. Como sempre, querida Zezé, você bateu no ponto certo. Eu mesmo fiquei decepcionado (para não dizer muito desmotivado) com o baixíssimo número de visitas a este texto e a ausência de comentários. Apenas um grande amigo comentou por e-mail. Mesmo sabendo que não devo ter agradado a muitos, esperava pelo menos uma mostra de interesse, mesmo que fosse para discordar. Paciência...

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  2. Amigo ,não importa, mas posso imaginar sua decepção.
    Acredito que ter convicção dos seus pontos de vista é o mais importante, não importa se a maioria não concorda.
    Eu penso como você, e tenho uma grande empatia com a sua forma de pensar e de viver.
    bjs

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