domingo, 6 de dezembro de 2020

ARCA & COVID

 



Segundo narram as Sagradas Escrituras, a Arca de Noé, depois de começar a navegar assim que as águas do Dilúvio a elevaram do solo de Canaã e manter-se flutuando durante os 40 dias da tormenta, ainda singrou uma Terra totalmente coberta de água (20 pés acima da mais alta montanha) por mais 5 meses, até encalhar no cume do monte Ararat.

Interpretações bíblicas datam todo esse acontecimento com uma precisão de dar inveja. Segundo elas, a chuvarada começou em 6 de maio de 2349 a.C. e Noé só ancorou seu transatlântico na montanha turca em 30 novembro do mesmo ano.

E eu, que já algum tempo, em meus devaneios solitários de noites insones, percebia uma certa analogia poética dos nossos dias pandêmicos com a passagem bíblica (uma Humanidade confinada na barcaça do Medo, navegando um mar de horrores viróticos e vivendo na esperança de uma promessa firme para se salvar), tive quase uma epifania quando comparei as datas.

O COVID, embora tenha dado o ar de sua desgraça ao final do ano passado em Wuhan, só se tornou efetivamente global, ou seja, com incidência em grande escala nos cinco continentes, no segundo trimestre de 2020. No dia 2 de dezembro, o Reino Unido deu início efetivo à vacinação de seus súditos.

Chegamos ao Ararat?  

A Bíblia não fala do que aconteceu a seguir com muitos detalhes. Há o lance do arco-íris e da pomba com o galhinho de oliveira no bico. Mas, cá prá nós, será que você consegue imaginar a louca euforia que teve ter dominado bichos e gente? A fome de coisa melhor que as rações controladas servidas na Arca, o desejo de correr em terra firme, sentir o vento lambendo crinas, penas, pelos e cabelos, de banhos em riachos e cascatas. A satisfação de cios contidos por meses nos porões da nave. O deslumbramento de começar a andar por uma Terra renovada, verdinha como a Primavera, pronta para ser repovoada.

É isso que vai acontecer conosco? Embora ainda exista um receio, até certo ponto justificado, com relação às vacinas, tenho certeza que muitas centenas de milhões de pessoas, exaustas e apavoradas pela mídia irresponsável, irão voluntariamente procura-las. Apesar de os Governos não falarem abertamente em obrigatoriedade, ela vai acabar sendo virtualmente imposta pelas restrições que serão estabelecidas para aqueles que decidirem não se vacinar.

Assim, pelo bem ou pelo mal, grande parte da população do planeta, queira ou não, vai receber em seu bracinho uma picada americana, alemã, belga, russa ou chinesa.

Imaginando positivamente, isto pode significar que, com bilhões de seres devidamente vacinados, a pandemia seja levantada nos albores de 2021. Vamos partir para os novos Loucos Anos 20, exatamente um século depois? Vamos, em bom tupiniquim, arrebentar a boca do balão?  Tirar o atraso? Balançar a roseira?

Ou fazer como Noé e sua família que, por uma razão não explicada, só saiu de arca um ano depois de chegar ao Ararat?

Oswaldo Pereira

Dezembro 2020

9 comentários:

  1. Que texto bem humorado ! Tuas noites isone estão fazendo-te aprimorar o espirito crítico. Alegria e sobriedade pra uma tarde de domingo repleta dos silêncios tão necessários. Qto à Nova Humanidade pós Covid seria bem adequado ve-la prosseguir num comportamento sem grandes picos de euforias e alardes e como Noah ir saindo da Arca sem arrebentar nada. Um ser bíblico aí está pata nos apontar um modo digno e respeitoso de retomar cerimoniosamenete A Gloooria da Viiiida ! Luz do Sol ! que brisa traga e traduz ....em ver de novo...e por ai vai. Ótimo Oswaldo um escritor é isso; alguém que alem de nos fazer pensar, nos faz sorrir.

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    1. Que belo e imerecido elogio! Obrigadíssimo. Pena eu não saber de quem veio...

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  2. Muy profunda consideración Oswaldo!

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  3. Naquela época, entendi que Deus não estava satisfeito com o rumo do seu projeto Terra. Agora me parece que da mesma forma que diversos laboratórios correm atrás da vacina, várias facções disputam o laboratório Terra. Numa coisa parece estarem de acordo: precisam diminuir o número de amostras....

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    1. Pois é, Misao. Este Projeto Terra já teve de ser repensado algumas vezes. Numa delas, o Criador até enviou seu filho para renovar a mensagem. Mas, parece que não aprendemos mesmo...

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  4. Grande analogia, amigo. Só espero que aqui neste nosso desgoverno, o sinal do graveto seja escondido pelas autoridades, que parecem continuar navegando ...

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