domingo, 30 de novembro de 2014

BINÔMIO ENCANTADO




No mundo da informação de varejo chamado Facebook, onde o dia a dia de centenas de milhões de pessoas enche uma nuvem cósmica, que depois desce em chuva rápida e frenética sobre pc’s, i-pads, i-phones, tablets e outros receptores, abundam fotos e filmes do binômio criança/cachorro.  

Talvez porque nesta semana meus netos americanos, para alegria geral da família, ganharam seu primeiro cãozinho, e também porque as cenas filmadas e fotografadas deles, e de todos os que aparecem na rede, mostrem ternos momentos de encantamento entre gente e bicho, tive a atenção chamada para o assunto.

Registros arqueológicos indicam que a transformação de cães selvagens em animais domésticos começou a ocorrer há 15.000 anos. Caninos com fome numa época de escassez aproximaram-se dos aglomerados humanos e trocaram sua agressividade por comida. E bingo! a relação com o “melhor amigo do homem” teve início pois, no intercâmbio, os animais passaram a guardar seus benfeitores com a mesma diligência que empregavam na defesa de suas matilhas.

É evidente, e nisto todos os veterinários concordam, que nem todo cachorro, e nem toda criança, nasceram para viver este binômio. Os muito agressivos (ambos) poderão tornar a vida familiar e a organização da casa num inferno, além de criar situações de eventual dano à integridade física de humanos e animais. E, sempre, pais precisam entender que, dependendo das idades de filho e filhote, os dois precisarão de cuidado, ensinamento e atenção.

Mas, superados e compreendidos estes requisitos fundamentais, observar o encantamento mútuo de uma criança e seu cachorro e de como se completam em afeição é um grande prazer. Pesquisas informam que um cão com treinamento básico tem a mesma percepção intelectual de um ser humano de dois anos de idade. Assim, pode compreender a hierarquia da família com que vive e a considerá-la como sua matilha, inclusive sua obrigação instintiva de defendê-la, como fizeram os primeiros lobos no Neolítico.

Como criança morando numa casa com um enorme terreno em Botafogo, eu tive um cachorro. Chamava-se Jupi e era um pinscher miniatura. E até hoje, passados quase setenta anos, eu me lembro da terna simbiose de um filho único vivendo num casarão com seu animal de estimação. Tanto das horas boas quanto da tristeza de sua morte, atropelado em plena Rua General Polidoro. Eu tinha oito anos e me deparei pela primeira vez na vida com uma coisa dolorida chamada perda. Mas, os quatro anos durante os quais eu e Jupi jogamos bola, atravessamos florestas imaginárias no quintal, fomos numa nave até o fim do mundo que ficava atrás do galinheiro e cruzamos juntos os mares da fantasia valeram. Ah! Se valeram...


JUPI & EU 1946




Oswaldo Pereira
Novembro 2014



4 comentários:

  1. Incrível , dá para sentir e ver que você o abraça mas ele te abraça também.
    Abr., Cleusa.

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  2. Gostei e fiquei emocionado. Pena a nossa realidade de viagens não nos permita ter um amigo novo na familia. As meninas gostariam.

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  3. Que delícia de foto! Qual dos dois mais ternurento?!

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