sábado, 22 de novembro de 2014

NOVO PATAMAR?




Dois alunos foram flagrados com facas em suas mochilas escolares. Sua intenção era agredir um colega com quem haviam tido uma rixa dias antes. Isto aconteceu ontem, num dos mais conceituados e tradicionais estabelecimentos de ensino do Rio de Janeiro, o Colégio Cruzeiro. E os alunos tinham sete e oito anos. Colégio CRUZEIRO?! SETE e OITO ANOS!!?

E aí o medo bate. Será que estamos chegando a outro patamar?

Violência infantil não era novidade por aqui. Pivetes, trombadinhas, aviões do tráfico já encheram as páginas policiais dos meios de comunicação. Uma criança de onze anos, com um tresoitão pendurado na cintura de um bermudão maior que ela, era até considerada mais perigosa do que um bandido mais velho. Era mais assustadora e assustadiça, o dedo moleque mais propenso a puxar o gatilho, a consciência ainda virgem, pronta para ser estuprada sem remorso. Vinha de um mundo sem lei, sem família, sem professora, sem primeira comunhão, sem passado, sem futuro. Sua cartilha era o beco da favela, seu recreio o cheiro da cola, seu mestre o chefão da droga. Sem deus, sem sonhos.

Os dois mini-delinquentes de ontem não são nada disto. São membros de uma classe média alta, têm um lar, tênis da moda, TV em cores, ensino da melhor qualidade, comida na mesa, presentes de Natal, proteção e mimo. Como é que a violência crua penetra nessas cabeças? De onde vem esse instinto bárbaro que move uma criança a se armar e desejar ferir um colega?

Pode ser um caso isolado? Pode. Mas também pode não ser. Há tempos, escrevi uma crônica aqui neste blog, intitulada “Contos da Carochinha”, em que comparava a retórica da violência nos contos infantis do passado com a agressividade explícita dos joguinhos virtuais de hoje. E terminava com o seguinte parágrafo:

“Espero que seja só um achaque nostálgico. Entretanto, me aflige observar um aumento gradativo de agressividade entre os jovens. Os fatores devem ser vários, mas algo me sussurra que jogos nos quais a ação violenta é um objetivo em si têm um pouco de culpa no cartório. 

Com a palavra, o futuro.

Será que este futuro já chegou?


Oswaldo Pereira
Novembro 2014



2 comentários:

  1. Meu caro Oswaldo
    Acho que você está muito perto da verdade ao sugerir como fonte esses pseudos "jogos infantis".
    Há muito se discute a violência na TV e nesses jogos como incentivadores de violência nas mentes ainda não formadas. Infelizmente parece que da 'suposição' estamos passando para a 'certeza' de que, malgrado os questionamentos de psicólogos e pedagogos, essa influência de fato existe.
    Grande abraço
    Zé Correa

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    1. E não vejo ninguém mexendo uma palha para reverter a situação. Nem pais, nem a sociedade como um todo...

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