quinta-feira, 14 de novembro de 2013

DISCURSO VAZIO

No último texto, eu abordei a nova técnica literária que carateriza as redes sociais e sua ênfase na economia de palavras. Escrever pouco e dizer tudo, preocupando-se mais com a mensagem do que com a forma, descartando qualquer desenvolvimento mais detalhado em prol de uma leitura rápida e superficial.



PALÁCIO DE SAN GIORGIO
Mas, há também uma outra escola, esta mais utilizada por oradores que, infelizmente, abundam em nosso meio político. É o falar bonito sem dizer nada, lançando mão de um vasto repertório de palavras de impacto para encobrir um vazio de ideias ou uma completa ignorância da matéria em causa. É o equivalente linguístico do trompe l’oeil, literalmente engana o olho, uma estilização pictórica que vem dos tempos do barroco e que, por truques de perspetiva, cria uma ilusão de ótica que faz ver o que não existe. Um magnífico exemplo clássico disto é a obra do pintor renascentista italiano Andrea Mantegna na abóboda do Palácio San Giorgio, em Mântua. Hoje, esta arte tem como expoentes máximos vários grafiteiros de imenso talento, como o francês Patrick Commecy.
FACHADA DE PATRICK COMMECY
















Na oratória, entretanto, ninguém supera certos homens públicos pátrios. E, atualmente, a palma de ouro deve ser consignada com todos os méritos à nossa inefável Presidente. Dilma Roussef nunca foi reconhecida como boa oradora e está a léguas de distância do charme naïf de Lula. Mas, poderia, ao menos, acertar um discurso mais coerente quando fala de improviso. Vejam estes dois exemplos, que circulam no território livre da internet. Foram declarações feitas por ela a jornalistas, logo após um encontro com investidores internacionais em Nova Iorque.

  
    ”Tem uma infraestrutura muito importante para o Brasil, que é também a infraestrutura relacionada ao fato de que nosso país precisa ter um padrão de banda larga compatível com a nossa, e uma infraestrutura de banda larga, tanto backbone como backroll, compatível com a necessidade, que nós teremos para entrarmos na economia do conhecimento, de termos uma infraestrutura, porque no que se refere a outra condição, que é a educação, eu acho importantíssima a decisão do Congresso Nacional do Brasil em relação aos royalties”.

    “A destinação dos royalties e do fundo social para a educação, esses dois elementos, um de infraestrutura e outro na área de educação constituem nosso passaporte também para o futuro. Então, é um programa ambicioso, ele tem vários desdobramentos, ele não para aí, porque ainda inclusive nós não vamos iniciar esse processo, estamos em fase de discussão, esse que estou falando da banda larga. Mas eu estou aqui completando para vocês porque eu vou falar, aí, então, fica completado para vocês.”

Entenderam? É ou não é um perfeito exemplo de oratória tromp l’oeil? Isto me faz lembrar uma antiga brincadeira que agrupava numa lista tríplice vários vocábulos sonoros, da seguinte forma:

PROGRAMAÇÃO             FUNCIONAL               SISTEMÁTICA
ESTRATÉGIA                OPERACIONAL            INTEGRADA
MOBILIDADE                DIMENSIONAL           EQUILIBRADA
PLANIFICAÇÃO              TRANSICIONAL          TOTALIZADA
DINÂMICA                    ESTRUTURAL             INSUMIDA
FLEXIBILIDADE             GLOBAL                     BALANCEADA
IMPLEMENTAÇÃO          DIRECIONAL              COORDENADA
INSTRUMENTAÇÃO        OPCIONAL                 COMBINADA
RETROAÇÃO                 CENTRAL                   ESTABILIZADA
PROJEÇÃO                    LOGÍSTICA                PARALELA

Basta combinar quaisquer três palavras, uma de cada coluna, tipo: mobilidade direcional combinada, flexibilidade central estabilizada e por aí afora. Você poderá discursar por vários minutos. Não dirá nada, mas fará um tremendo sucesso...  

Oswaldo Pereira

Novembro 2013

5 comentários:

  1. Fantástico!!
    O interssante é que dá para fazer esses discursos vazios em qualquer lingua.
    Mas com certeza a Dona Dilma nesse ponto mostra mestrado.
    Bruno

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  2. ´São incríveis as falas de Dilma. Poderia inventar outra linguagem para suas falas. se for capaz. Ou pedir a um de seus auxiliares que tenha feito a escola primária pública. Garanto que conseguiriam fazer entender desde os mais humildes até os mais letrados.
    É uma vergonha. E ela continua falando, falando, falando e , nós nem mais dando atenção.
    Abraço,
    Cleusa.

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  3. A Presidente fala, fala, fala e nada se aproveita de tanto falatório. É o mesmo que trocar seis por meia duzia. Gostei muito de sua colocação. Grande abraço do Thomaz

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  4. Infelizmente também há deste género em Portugal, mas nunca vi ninguém atingir tão baixo nível.

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