sábado, 26 de novembro de 2022

A CASA DO DRAGÃO




Como já devo ter escrito algures aqui neste modesto blog, sou fã de carteirinha de George R. R. Martin. Para os menos interessados no tema, Martin é o autor da famosa saga literária A Song of Ice and Fire, obra que deu origem a uma das mais exitosas séries televisivas de todos os tempos – Game of Thrones (A Guerra dos Tronos).

A instigante prosa de Martin, inspirada por uma imaginação e uma criatividade que beiram o extraordinário, fez com que eu, e talvez milhões de outros leitores encantados, atravessassem com permanente interesse os cinco alentados volumes que compõem a coleção. São vários os atributos desse magnífico trabalho de ficção, entre os quais, e não só, o cuidadoso desenho dos personagens, o ritmo rápido e incessante do drama, a pintura dos cenários e o impressionante detalhismo da trama histórica e do mundo imaginário criado pelo escritor.

Para dar uma dimensão do cuidado quase obsessivo de Martin com os pormenores para trazer o mais perto possível da realidade seu ambiente ficcional, ao final de cada um dos livros mais de cinquenta páginas eram dedicadas a elencar todos os componentes dos clãs que povoavam o seu universo, mesmo aqueles que jamais apareceriam em cena; além, é claro, dos elaborados mapas ilustrativos dos continentes imaginados por Martin.

Talvez esta obsessão, somada ao imenso sucesso de Game of Thrones, tenha levado o autor a prosseguir com a trama, desta vez para trás, para os acontecimentos ocorridos centenas de anos antes do aparecimento dos personagens de A Guerra dos Tronos. O resultado foi a obra Fire & Blood (Fogo & Sangue), um “tijolo” de mais de 800 páginas. Como juramentado admirador do “mago” Martin, este modesto escriba aceitou o desafio de lê-lo.

Começando com a tomada de poder pelos Targaryan e a consolidação de sua hegemonia como soberanos dos Sete Reinos, o relato permeia três séculos, até encostar no presente da série anterior. Talvez por isso mesmo, nota-se um certo abatimento do ritmo frenético dos livros iniciais. A prosa é mais narrativa, como convém a um relato eminentemente histórico e quase didático, mas que amortece em certa medida o fulgor candente dos cinco volumes precedentes. Resumindo, é preciso ter a fé inabalável dos iniciados para completar a leitura.

Como não podia deixar de ser, a HBO está levando Fire & Blood para a telinha, e a primeira temporada foi lançada recentemente, em agosto passado. Com o nome de House of The Dragon (A Casa do Dragão), a experiência, como o livro que a inspirou, é uma versão mais abrandada de A Guerra dos Tronos.   A trama centra-se na disputa entre dois filhos do Rei Viserys Targaryan, Rhaenyra e Aegon II, pela posse do Trono de Ferro, ocorrida mais de duzentos anos antes do tempo de Robert Baratheon, Jaime Lannister, Ned Stark e companhia.

Não há a menor dúvida de que se trata de uma produção esmerada, com cenários grandiosos, linda trilha sonora e efeitos especiais empolgantes. Há também interpretações magníficas, especialmente a do ator inglês Paddy Considine no papel de Viserys. O problema é o efeito comparativo, quando se tenta equipara-la a Game of Thrones. A ação é focada apenas em um aspecto do drama, e não multifacetada e enriquecida por diversos acontecimentos paralelos, como na série anterior.

E, para mim, a troca dos intérpretes de alguns dos personagens centrais no meio da temporada, para tentar espelhar o seu envelhecimento, foi desastrosa. Primeiro porque o hiato de tempo não era tão grande que um bom trabalho da equipe de maquilhagem não resolvesse; depois, porque outros atores foram mantidos, com a mesma fisionomia, confundindo o espectador e ferindo a autenticidade visual da produção.

De qualquer maneira, o sucesso foi estrondoso, contabilizando, na semana de lançamento, mais de dez milhões de espectadores. Evidentemente, uma segunda temporada já está em andamento.

Oswaldo Pereira

Novembro 2022

2 comentários:

  1. Esses detalhes cênicos imprecisos, de fato incomodam o espectador atento e exigente. Vc evidentemente jamais deixaria escapar.rs

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