sábado, 4 de junho de 2022

VERÃO CHEGANDO...

 


É apenas o começo de junho. O sol ainda não chegou mais perto e acorda preguiçoso, demorando para varrer uma bruma teimosa que vem do mar. Há também uma brisa matinal que penetra traiçoeira através dos abrigos ligeiros pelos quais, esperançosos, substituímos os casacos do inverno decretado morto pelo calendário.

A Primavera ainda não é quase Verão, como gostaríamos de proclamar aos quatro ventos, até porque, todavia, esses tais quatro, e mais alguns, encrespam os cabelos e despenteiam as marés, espalhando a maresia pelos ares das praias desertas.

Mas, fora as areias, entretanto à espera das barracas coloridas, o resto de Portugal já começa a se abarrotar de turistas. Estão sedentos de sol, qualquer que seja ele, mesmo enfarruscado e tímido. Os astrônomos nos dizem que estamos no afélio, o ponto de nossa modorrenta órbita elíptica em que nos encontramos mais longe do sol. Mas, os visitantes que aqui estão chegando aos magotes parecem desdenhar olimpicamente o fenômeno.

É compreensível.  Após dois anos de jejum, encerrados em casa, apenas com uma luz difusa filtrando por janelas fechadas para um exterior tenebroso e assustador, com a máscara a cobrir metade dos rostos e o medo a cutucar a alma, este é o primeiro Verão de liberdade. E o convite desta ponta da península ibérica, mesmo com o sol ainda engatinhando, é irresistível.

E é o prenúncio de um tsunami de gente que deverá aportar por aqui lá por julho e agosto. Já estou a ver. Orlas lotadas, hotéis empanturrados, restaurantes sitiados por longas filas, duas horas para visitar os Jerônimos, o Algarve saturado. Mas, tudo é festa. A grande festa de uma humanidade finalmente enchendo os pulmões do ar salitrado e benfazejo do oceano, dourando-se ao sol, partilhando risos e momentos, levemente atordoada por se ver novamente livre, leve e alforriada do pesadelo do Corona.

Soyez-le-bienvenus, sejam benvindos. E nos ajudem a, novamente, colorir o mundo.

Oswaldo Pereira
Junho 2022

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