segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

BOND 60 (5): FROM RUSSIA WITH LOVE (PARTE I)

 


O inesperado sucesso financeiro de Dr. No convenceu os donos da EON, Harry Saltzman e Albert Broccoli de que a fórmula estava certa. A onda se levantava e era preciso surfá-la imediatamente. Com o aquecimento da Guerra Fria, os spy thillers entravam definitivamente na moda, especialmente aqueles que incluíssem o nome Russia em seus títulos.

Assim, no dia 1 de abril de 1963, tiveram início as filmagens de From Russia With Love. O orçamento (de US$ 2 milhões) era o dobro do filme anterior e os prazos eram bastante apertados, dado que a estreia já estava marcada para 10 de outubro do mesmo ano. O script, feito pelos mesmos roteiristas de Dr. No, apoiava-se com quase total fidelidade no livro de Ian Fleming.

A trama gira em torno de uma máquina de códigos russa denominada Lektor, uma trapizonga imaginada pelo autor e tendo como inspiração o sistema Enigma, usado pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Na realidade, Ian Fleming, como membro dos Serviços Secretos da Marinha Real Britânica, participara ativamente dos trabalhos de descodificação da máquina alemã, o que, segundo quase todos os entendidos no assunto, foi um dos fatores decisivos para a vitória aliada.

LEKTOR


Mas, voltando ao filme, a Agência inglesa MI6 recebe uma estranha correspondência de uma funcionária da Embaixada soviética em Istambul. Tatiana Romanova, este seu nome, anunciava sua disposição de apossar-se de uma Lektor e debandar para o Ocidente. A condição imposta era de que James Bond, o agente por quem se apaixonara ao ver sua fotografia num arquivo, participasse da operação.

Uma armadilha, claro. Mas, a posse da máquina era um sonho de consumo de ingleses e americanos e qualquer risco era válido para obtê-la. M, o chefão do MI6, despacha Bond para a Turquia. O que ninguém desconfiava, nem a própria Romanova, que julgava estar trabalhando para a Smersh, o serviço de contraespionagem russo, era de que, por trás de tudo e seguindo seu plano de provocar um conflito entre soviéticos e ingleses, estava a SPECTRE.

LOGO DA SPECTRE


Todo a trama havia sido desenvolvida por um dos cabeças da organização terrorista, um grão-mestre do xadrez checo chamado Kronsteen. Com a ajuda de uma ex-chefe do Smersh, Rosa Klebb, o plano incluía diversas ações nas sombras, programadas para atiçar a rivalidade anglo-russa em Istambul, seguir Bond e Tatiana após terem surrupiado a Lektor, matá-los durante sua fuga, recolher a máquina e vende-la de volta aos soviéticos por uma bela quantia (a SPECTRE nunca esnobava um bom lucro...) Para todo este trabalhinho sujo, contrataram um ex-presidiário e matador profissional chamado Red Grant.

Um precioso detalhe ainda seria usado para enxovalhar os britânicos: câmeras escondidas na suite onde Bond e Tatiana realizariam seu primeiro encontro registrariam a tórrida noite dos dois; o assassinato de ambos seria montado de modo a passar a história de que Bond, chantageado por Tatiana por causa do filme, a teria eliminado, suicidando-se depois.

Mas, Bond é Bond. E o elaborado planejamento da SPECTRE dá errado. Depois de confrontos em um acampamento cigano, mortes de parte a parte, perseguições de helicópteros, uma batalha naval entre lanchas  e uma luta de vida ou morte entre Bond e Grant numa cabine do Orient Express, que entraria para a História do Cinema, o filme chega ao seu happy end. 

(Se quiser rever a antológica cena da briga, é só clicar neste  LINK).

Num dos românticos canais de Veneza, com a Lektor na definitiva posse do MI6, Bond e Tatiana beijam-se a bordo de uma inevitável gôndola, enquanto, às escondidas, a mão de 007 deixa o rolo do comprometedor filme escorregar para as águas.

(continua)

Oswaldo Pereira
Janeiro 2022

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Os 3 primeiros filmes da franquia têm sido incluídos na top-list dos seguidores de 007. Seguindo de perto os livros de Fleming, têm um roteiro enxuto, sem os exageros das futuras produções.

      Excluir
  2. Jose Antonio Simões Bordeira17 de janeiro de 2022 às 20:35

    Meu caro. Tem a minha concordância. Os três primeiros filmes foram os melhores da série. Os exageros produzidos nos demais, acabaram por comprometer, em certa medida, os demais filmes. Fui conferir, no link enviado, a cena da briga do Express Orient. Magistral! E a marca indelével do agente 007: após liquidar Grant, arrumou o nó da gratata e abotoou o paletó antes de deixar a cabine.

    ResponderExcluir