segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

ÔMICRON


Não era para ser Ômicron.  Aliás, no início, as variantes do coronavírus eram identificadas por letras e números. O Sars-CoV- 2, o primeiro a ser catalogado em Wuhan, nos idos de 2019, foi batizado com a letra A. 

Com a rápida profusão, entretanto, de mutações do famigerado bichinho, números começaram a ser acoplados ao alfabeto, procurando estabelecer uma referência que indicasse a sua procedência, sua cepa e sua linhagem.

Logo, o sequencial iniciado por A.1, A.2 e assim por diante foi acumulando uma sopa de letras e números que incluíam B.1.2, C.30.1, criando uma enorme confusão nos órgãos responsáveis pelo controle da pandemia, na imprensa especializada e no público em geral.

O jeito foi lembrar do velho alfabeto grego. Alfa, beta, gama e família sempre foram os tradicionais aliados da ciência nas suas classificações e na sua nomenclatura.

Assim, o tenebroso vírus passou a ter seu sobrenome helênico o que, se não diminuía o incômodo de sua presença entre nós, pelo menos lhe emprestava uma certa respeitabilidade. Os delta, por exemplo, tiveram midiática exposição e tornaram-se celebridades perigosas.

Mas, alguma coisa aconteceu no caminho. Quando se esperava que, após o citado delta, viessem o épsilon e o zeta, as variantes descobertas a seguir no Peru e na Colômbia foram inexplicavelmente nomeadas como lambda (11ª letra do alfabeto grego) e mu (a 12ª). Por que? Ninguém sabe.

E aí aconteceu algo ainda mais inusitado. Tendo como irreversível a pulada de ordem praticada, a letra seguinte, quando surgisse mais uma mutação, seria nu (também conhecida como ni). Só que a proximidade de sua pronúncia, principalmente nos países de língua inglesa, com a palavra new poderia provocar ainda mais balbúrdia no já conturbado universo de denominações. 

Pulando mais essa, a próxima na lista seria xi. Mas, como Xi é o sobrenome mais usado na China, achou-se que seria politicamente incorreto, e insultuoso com a maioria dos chineses, ter um coronavírus mutante com o seu nome.

Tentando dormir com um barulho destes, a comunidade científica da OMS partiu para a escolha do ômicron. Coitado, acabou vendo-se odiado mundo afora, logo ele que achava que nunca seria chamado.

Para mim, o que realmente interessa é chegarmos logo à variante Õmega, a letra final, o adeus definitivo desta chatice. E que possamos ouvir a letras gregas apenas como referência cultural, vê-las em pórticos e colunas de uma paradisíaca ilha do mar Egeu ou das planícies do Peloponeso.

Oswaldo Pereira

Dezembro 2021

8 comentários:

  1. Concordo plenamente com o teu último parágrafo !
    Um abraço.
    Fernanda

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  2. Acontece que aluno de jesuíta, embora enfant terrible no colégio e sobrinho de um, o Padre Eduardo Lustosa que ajudou a fundar a PUC como o Pe. Leonel Franca, ouvia histórias de um jesuíta filósofo francês Padre Pierre Teillard de Chardin para quem Deus não era aquele fdp pronto para nos dar o inferno ao menor deslize para sofrermos eternamente, mas um ponto Ômega, além das Galáxias da Física Newtoniana, da relatividade e da Física Quântica. Por isso o vírus Ômega tem essa conotação de princípio e fim que não existe no Nada absoluto que se confunde com o Tudo absoluto. Nós somos uma pequena parte de Sua criação que, inclusive Nos deu a capacidade de escolher a vida ou a destruição nesse embate cada dia fora do alcance de ser matrizado.

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    1. Perfeito! O nosso querido Pe. Leme Lopes (grande discípulo de Chardin) não diria (ou escreveria) melhor. Só que, na nossa época, alguém esqueceu de soprar estas mesmas palavras ao Pe. Barros...

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  3. É verdade Oswaldo. O P. Barros seria o 'père terrible', para quem Deus estava sempre entreolhando a gente para dar porrada na primeira oportunidade. Pelo visto você foi ouvinte de alguma de suas prédicas. Tempos idos. Como diria o Roberto: velhos tempos, belos dias. E quanto ao ômicron famigerado que se vá de vez bem antes de chegar ao ômega.

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    1. Sim, ouvi várias prédicas do Pe. Barros e seu famoso bordão, "o fogo do inferno"... Hoje, olhando para trás, tenho saudade desses belos dias.

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  4. Olá Oswaldo
    O salto até o ómicron foi extranho para mi também.
    Espero que no chegue até o ómega .
    Abs.
    Emilio Gonzalo

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