terça-feira, 17 de agosto de 2021

TAMBORES AO LONGE

 


Faltam 3 semanas. E o próximo dia sete de setembro vai marcar o 199º aniversário da independência brasileira. Mais um ano, e chegamos ao nosso segundo século como nação. Uma data alvissareira? Seria, se não fosse a circunstância de que, neste mesmo momento de celebração, o país encontrar-se num redemoinho de paixões.

Há tambores ao longe. Há um eco crescente de vozes enraivecidas. Há um ruído se avolumando. Há um movimento em pauta. E não se precisa de muito estudo histórico e nem de um avançado discernimento social para entender o que se passa. Pelo menos para mim, a mensagem é clara. No Brasil de hoje, a classe política, os membros do supremo judiciário e a imprensa tradicional perderam o contato com a realidade.

Embriagados dentro de uma impunidade auto conferida, cheios de sua arrogância obscena, enleados no pântano mais escuro e profundo de favores, jabaculês e troca-trocas, os nossos políticos não entenderam o recado que as urnas trouxeram em 2018. Quem foi eleito naquele ano foi um grito de BASTA, de repúdio ao mar pútrido de corrupção que consumia os impostos e retorcia o futuro nacional. Bolsonaro foi apenas o fio condutor de um anseio, de uma revolta.

Acontece que, mesmo não sendo uma unanimidade na época e longe de ser um ideal de estadista, Jair Bolsonaro acabou por impor sua figura de paladino e justiceiro não muito pelo que fez, mas pelo que os outros fizeram. A insana reação daqueles que começaram a temer pelo fim de suas prerrogativas indecentes, de suas vantagens espúrias, de suas verbas e de seus jeitinhos canalhas, acabou por ungir Bolsonaro com uma inesperada aura de missioneiro.

O açodamento e a virulência dos ataques contra ele acabaram por extrapolar os limites do que seria o normal procedimento de uma oposição republicana. Se tal comportamento já poderia ser esperado de uma classe política corrompida e apodrecida, as ações de inqualificável e anticonstitucional partidarismo do Supremo Tribunal Federal e o evidente e comprometido antagonismo da grande imprensa escancararam um desproporcional conluio de forças.

E o povo, aquele mesmo povo que havia lançado sua mensagem em 2018, graças aos canais que vieram sepultar a imagem da mídia tradicional, estava vendo e ouvindo.

Nestes últimos 30 meses, este mesmo povo, que se aferrara à expectativa de que esse fio condutor conseguisse, finalmente, reverter o tenebroso curso a que o Brasil fora dirigido, foi assistindo a coisas, como o arquivamento de um abaixo assinado de 3 milhões de cidadãos, uma Comissão de Inquérito chefiada por políticos campeões de acusações e processos, juízes do Supremo protagonizando atos ilegais e tortuosos, o corporativismo do Congresso e do Judiciário contra o bom-senso do voto auditável, minarem suas esperanças e suas opções.

Como reagir? A resposta pode vir do som dos tambores.

Oswaldo Pereira

Agosto 2021

18 comentários:

  1. Esse o problema: uma reduzida minoria inconformada tenta a todo o transe construir uma versão e sobre esta fincar o seu apelo à violência das armas que detém ou controla ( como dito e redito naquele espantoso 22 de Abril: "O POVO ARMADO JAMAIS SERÁ ESCRAVIZADO" ... ) ... A larga maioria, desarmada, barafusta como pode contra o que percebe, ainda que com contornos algo indefinidos ...

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    1. Reduzida minoria inconformada!? Bem, Unknown, vejo que, ou estamos em dimensões diferentes ou temos percepções opostas sobre a realidade....

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    2. Parece que este site é vigiado. Concordei contigo até certo ponto mas discordo visceralmente de suas conclusões cuja solução é a intervenção militar. Votei nele e não votaria de novo, por motivos diferentes pelos quais deixei de votar no Lula, votando nele. Mas o homem dá mostra de que é louco. Qual a solução não sei mas golpe militar é que não é.

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    3. Vigiado porque foi apagado um texto em que descosturo do meu ponto de vista, o que as fake news têm feito nos corações e mentes.

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    4. Vigiado!? My God, até eu?? rsrsrs... Mas, caro Lustosa, acho que me expressei dubiamente. Os tambores de que estou falando não são os das casernas, São os das ruas...

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  2. Jose Antonio Bordeira19 de agosto de 2021 às 11:08

    Caro Oswaldo. Seu artigo descreve, perfeitamente, a inacreditável e trágica realidade a que chegamos. Estamos presenciando uma deliberada desordem jurídica sem precedentes, onde os limites constitucionais têm sido ultrapassados por aqueles que, exatamente, deveriam zelar por eles. Para se evitar o som dos tambores, não caberia ao Senado, por estatuto constitucional, restaurar aqueles limites?

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    1. Caberia sim, caro Zé. Mas isto se tivéssemos um congresso com C, e não o clube fechado de patranhas e conchavos que vice já em Brasília...

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  3. Td isso é mto extenso. Mas é visível o processo de desarticulação. Na política, no comportamento mas sobretudo na linguagem, q é o mais grave. Algo assim ao contrário do q inaugurou o irlandês James Joyce ao perceber como autor o q se incorporou a sua obra. O inédito e surpreendente conceito de
    "stream of conciousness" que gerou outras perspectivas nos significados dos discursos. Qto a explosão dos meios de comunicação parece que esgarssaram a lógica, deturparam os conteúdos. Uma incógnita qto ao futuro dessa ilusão.
    Cláudia Ribeiro

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    1. Na verdade, são vários "fluxos de consciência" entremeados. Pena que o discurso que rola por aí é tão pobre... Estamos perdendo a linguagem e, com ela, qualquer esperança de futuro... O que será de nós?

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  4. Uma das causas desse quadro sinistro, pra mim é o corretor do Google. Se pelo menos pudéssemos
    "errar" em paz ! Mas qdo "vicejam"
    vira "vice já" os erros crescem em progressão geométrica. A sanha de controlar td seria hedionda se não fosse ridícula!

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    1. Apoiadissimmo. Ja tentei assassina-lo. O maximo que cosegui foi desabilita-lo. Mas agora o sacana, por vinganca, me deixou sem cedilhas e assentos. Grande fdp..

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  5. Caro Amigo Oswaldo, talvez o rufar dos tambores de qualquer espécie seja fraco para os dias que vivemos. Querendo entender melhor a democracia brasileira fui pesquisar duas fontes que a meu ver seriam as mais representativas e qual não foi a minha decepção. Pouquíssimas e conhecidíssima informações... Por exemplo, da informação do número de deputados e senadores nomeados do império , as páginas pulam para os atuais números estupendos de deputados e senadores eleitos até a legislatura de 2023..
    https://www.camara.leg.br/historia-e-arquivo/#
    https://www12.senado.leg.br/institucional/documentos/sobre-o-senado/historia/o-senado-no-imperio
    A desinformação começa por ali.
    Que Deus nos abençoe!!!

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    1. Pois é, Misao, Democracia pressupõe Educação. Sem esta, a outra é uma mera ficção...

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  6. A tempo, a minha curiosidade nasceu por causa de diversas mensagens que recebi sobre os extras que esses representantes do povo estariam recebendo. Isso fere a Constituição???

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    1. A Constituição Brasileira não desce ao pormenor da remuneração dos cargos políticos. Há, entretanto, uma lei que fixa um teto e os limites dos gastos com os salários. Só que isto foi desonestamente burlado, criando-se verbas extras, auxílios e outras benesses. Tudo pago,é claro, com o nosso dinheiro. Esses ladrões criaram as leis em seu proveito. O problema é que o povo continua a elege-los...

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  7. Entendo que os brasileiros foram às urnas em 2018 com um grito de desespero, em busca de alguém para limpar a política. Mas será que o sujeito que foi parar na presidência é mesmo o messias salvador? Será que as verbas que ele distribuiu para o Centrão diferem em algo do que era feito antes? Será que as conexões dele e da família com o crime organizado no Rio são mera ilusão? O que ele fez nos 20 anos passou na política além de eleger os filhos? Por que ele desfez a Lava Jato? Por que o Sérgio Moro se afastou dele?

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  8. (Estou tentando logar com meu nome mas ainda não consegui)

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