sexta-feira, 2 de abril de 2021

ABRIL DE 1821

 


Em abril de 1821, uma enorme agitação permeava o ambiente político português. A permanência do Rei D. João VI no Brasil já não era mais uma realidade aceitável. Napoleão fora derrotado, definhava na ilha de Santa Helena e, no ano anterior, um movimento palaciano em Portugal havia deposto o Marechal Beresford, o regente nomeado por D. João. Uma junta provisória assumira o poder e passara a exigir o retorno imediato do Rei a Lisboa.

Quando o brigue Providência aportou no Rio de Janeiro em maio daquele ano, trazendo as notícias da rebelião e das exigências das cortes lisboetas, várias correntes começaram a se formar, tendo como pano de fundo o enfraquecimento do poder real e a expectativa sobre o futuro imediato do Brasil.

Havia três grupos de opinião. Os portugueses liberais, que pediam a partida de D. João, os lusitanos absolutistas, cuja escolha era o envio de um representante a Lisboa, no caso, o Príncipe D. Pedro e os brasileiros, que pleiteavam a permanência de toda a família real no Rio.

Com o passar dos meses, enquanto, caracteristicamente, D. João VI tentava contemporizar e adiar sua partida, vários movimentos começaram a eclodir pelo país afora. A percepção de que, com a eventual partida da Corte portuguesa, o Brasil experimentasse a perda da importância que adquirira em 1808, ao ser elevado praticamente à posição de sede do império luso, motivava os levantes.

Em março de 1821, o Rei via os acontecimentos pressioná-lo como as paredes de um torno. Aqui, o movimento pela independência, tornado maduro pela insegurança com que os brasileiros enxergavam os acontecimentos em Lisboa, aumentava. Lá, uma feroz campanha contra o absolutismo monárquico e os ventos libertários que sopravam com força no continente europeu ameaçavam sua coroa. D. João amava o Brasil. E foi com imenso pesar que, em abril, se viu obrigado a partir.

Num dos primeiros textos que escrevi neste blog, eu fiz uma elegia a D. João VI. Para mim, foi um dos mais esclarecidos soberanos de seu tempo. E esse discernimento fez com que ele, antes de partir, e ao se convencer de que a independência brasileira era uma questão de pouco tempo, instruiu seu filho Pedro a cooptar o movimento e a, eventualmente, provoca-lo.

A saída do novo país do Reino Unido Brasil, Portugal e Algarves foi o primeiro Braxit da História.  E com, pelo menos, o encorajamento ou a complacência de D. João.

Exatos duzentos anos depois, será que somos dignos desse amor e dessa clarividência?

 Oswaldo Pereira

Abril 2021

4 comentários:

  1. Lendo o seu texto me emocionei de verdade e tb me dei conta do quanto somos cosmopolitas Afinal essa nossa América lusa,hispânica, indígena e negra tem marcas mto fortes de etnias múltiplas. Alem de holandeses, italianos,alemães, chineses, japonêses, árabes etc. Pode-se dizer que somos mesmo um
    "Mundo Novo". E em se tratando de D.Joao VI é pra se dizer sim!
    DEUS SALVE O REI !!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Somos um caldeirão. E foi o fogo brando da miscigenação consentida que nos fez assim. Ainda bem!

      Excluir
  2. A micisgenação está comprovada pela História.

    ResponderExcluir