UM FELIZ NATAL PARA TODOS!!!
E, PARA NÃO PERDER O HÁBITO, AQUI VAI O CONTO DESTE NATAL...
INÍCIO
DE NOVEMBRO, DE UM ANO QUALQUER DO FUTURO NÃO MUITO DISTANTE
A ampla sala de reuniões está toda
preparada.
Um a um, os convidados vão entrando e
sentando-se. O chefe da Expedição, o Diretor do Departamento de Cartas &
Mensagens, o Vice-Presidente de Produção, o Gerente da Divisão de Desenho e
Criação, o Assessor de Marketing e Imagem, o Auditor-Chefe da Seção de
Avaliação de Comportamentos, o Assessor para Contratos de Patrocínios.
Depois de estarem todos acomodados, o
casal entra.
Já estão vestidos de vermelho, a cor
oficial do grande Estabelecimento. Ela com seus lindos cabelos grisalhos presos
numa fita encarnada, os olhos atentos, o semblante doce. Ele muito acima do
peso, a face bondosa sempre pronta a um sorriso, a comprida barba branca.
O último a passar pela porta é um
executivo apressado, como todos são, o rosto contraído num esgar preocupado, os
cabelos mal alinhados informando a todos que ele não é homem que perca seu
precioso tempo em frente ao espelho. Os que estão na sala já o conhecem há
anos. É o representante do COmitê CAmeral de COLAboradores.
Sem se sentar, ele toma seu lugar numa
das pontas da grande mesa, abre seu laptop
de última geração e olha em torno. Certificando-se que toda a cúpula
administrativa do Estabelecimento está presente, respira profundamente e começa
a falar.
«O dia que receávamos chegou!»
Faz uma pausa de efeito.
«A Quarta Revolução Industrial acabou de acontecer.
Vejam os seguintes dados.»
Do seu laptop sai um facho de luz que pousa numa tela colocada horas antes
no fundo do salão.
«Em 1998, a Kodak tinha 170.000 funcionários e dominava
85% do mercado de papel fotográfico em todo o mundo. Em menos de cinco anos,
com o advento da fotografia digital, seu modelo de negócios despareceu e ela
abriu falência.
O computador Watson, da IBM, é o melhor exemplo de inteligência artificial do momento.
Derrotou o melhor jogador de GO do planeta, dez anos antes do previsto. É capaz
de fornecer aconselhamento legal à distância com 30% a mais de exatidão do que
os advogados e a um custo infinitamente menor.
O Tricorder-X, cujo preço poderá chegar
a menos de US$100 em pouco tempo, é um aparelho de investigação e diagnóstico
por telefone capaz de analisar 54 bio-marcadores, desde exames de retina, de
sangue e de respiração, e auxilia na detecção do câncer quatro vezes mais acuradamente
que exames normais. Tornará o atendimento médico de alto padrão acessível e
barato em menos de três anos.
Os veículos autônomos já estão tornando
obsoleta a tarefa de dirigir. Ninguém mais precisa tirar carteira de motorista.
A eficiência da condução automática já reduziu drasticamente o número de
acidentes automobilísticos e as mortes do trânsito. De 1,2 milhão por ano,
antigamente, caiu a menos de 100 mil. Com isso, o ramo de Seguro Automóvel
desapareceu. Assim também estão desaparecendo as tradicionais montadoras. Hoje,
o setor é dominado por empresas que detêm a tecnologia de construir
computadores sobre rodas.
Com as estradas e as ruas dominadas por
carros elétricos, as ações das petrolíferas derreteram nas bolsas de valores do
mundo inteiro.
O mercado imobiliário nos grandes
centros afundou. Ninguém mais precisa IR
trabalhar! O trabalho é feito em casa. Assim, todos preferem morar nas
periferias das megacidades, ou em pleno campo. Edifícios de escritórios são
hoje coisa de museu. Na mesma vertente, o tele ensino extinguiu a necessidade
de prédios escolares.
Assim, a quem está hoje pensando em
estudar direito, medicina, ou espera conseguir um emprego em seguradoras,
imobiliárias, petroquímicas e na indústria de veículos, aconselhamos que pense
duas vezes.»
Fez mais uma pausa. O silêncio era
contrito e pressago. Ele continuou.
«Temos de encarar este novo mundo. A tecnologia destruirá
a maioria das atividades tradicionais nos próximos cinco anos. Setenta por
cento dos adolescentes de hoje irão trabalhar em atividades que AINDA NÃO
EXISTEM! A nossa realidade é uma tela sempre em mutação.
Bem, o que eu vim comunicar é que, pelas
nossas análises, o negócio de vocês está totalmente ultrapassado. E, nesta
conformidade, o nosso COmitê decidiu retirar seu
patrocínio...»
A
sala entrou em tumulto. Todos começaram a falar ao mesmo tempo. Pacientemente,
ele esperou a poeira baixar.
«Tenho muita pena,
mas tentem examinar o seguinte. Hoje ninguém escreve mais cartas. Não há mais
serviços de entregas, pois quase todos têm impressoras 3-D em casa e basta
importarem os arquivos digitais do que desejam e pronto. As normas de
comportamento infanto-juvenil que determinavam quem tinha direito a receber
presentes foram abolidas na nova Psicologia. E, convenhamos, esses critérios
altamente subjetivos de premiação são hoje socialmente incorretos. Além disso,
os alertas aéreos sobre objetos voadores não convencionais, como um trenó, por
exemplo, estão, em função do terrorismo internacional, extremamente rígidos.
Desculpem,
mas a nossa recomendação é de que fechem as portas. Podemos tentar um outplacement para os empregados e
dirigentes. E, para você, Papai Noel, tenho a autorização de oferecer uma
confortável pensão num condomínio geriátrico e...»
Uma
hora depois, a sala estava praticamente vazia. O representante do COmitê já se retirara e os funcionários haviam retornado
aos seus postos de cabeça baixa. Papai Noel olha para a mulher. Dá um longo
suspiro.
«Quem sabe ele não
tem razão? Estamos velhos, o mundo mudou, a poesia de foi. Somos um
anacronismo, imagens de um passado romântico, sombras de um lindo sonho. Uma
lenda que o Presente não quer mais ouvir. Uma sinfonia cuja partitura o Tempo
apagou...»
Mamãe
Noel olha para o marido. Seus olhos doces estão claros de lágrimas. Ela não
sabe o que dizer...
De
repente, o rosto de um menino aparece na soleira da porta. Papai Noel se
surpreende.
«Como entrou aqui?
Não sabe que a presença de estranhos é expressamente proibida dentro desta
fábrica, especialmente nesta época do ano?!»
O
garoto não parece intimidado. Seu sorriso é contagiante. Mamãe Noel observa.
«Deve ter
aproveitado que todos estavam ligados na reunião.» E,
virando-se para o garoto. «O que você deseja, meu menino?»
Ele
olha para o casal com os olhinhos ariscos.
«Sabem o que é? Eu
moro numa pequena vila aqui perto, nas tundras da Lapônia. É um lugar muito
pobre. Não temos energia elétrica, nem água corrente, nem nada dessas coisas de
que falam por aí, caixas que mostram imagens, tabletes que falam, compuseuláoquê que as outras gentes
adoram, i-qualquercoisa que as
crianças de outros lugares não vivem sem... Só temos a Natureza. E papel e
lápis. Eu então vim entregar as cartinhas dos meus amiguinhos lá da terra para
o Papai Noel. É o senhor, não é?»
O
velho abre um largo sorriso.
«É claro que sou!»
O
semblante do menino se ilumina.
«Então, tome. Aí
estão os nossos pedidos.» E, virando-se para ir embora. «E não
deixe de aparecer na Noite de Natal, viu?»
O
casal olha o garoto sair, feliz como um anjo. Em seguida, Papai Noel se
levanta.
«Quer saber,
Mamãe? Que fechar as portas que nada! O COmitê
que vá plantar batatas. Há milhões de crianças neste mundo que ainda esperam
por mim. Vamos é trabalhar.»
E,
dando um estalado beijo na bochecha da mulher, solta sua potente voz no ar.
«HO! HO! HO!»
Oswaldo Pereira
Dezembro 2016
Se alguém tiver interesse (e paciência!) em ler os Contos dos Natais anteriores, aí vão os links:
HO!HO!HO! - Muito bom, caro amigo! Boas Festas e ótimo 2017 a você e a todos os seu leitores. Grande abraço do Thomaz.
ResponderExcluirObrigadíssimo, caro amigo. Tudo de bom neste Natal para você e para toda a sua família.
ExcluirSentido abraço de retribuição e agradecimento, juntando votos de que nos reencontremos com saúde.
ResponderExcluirZé
Obrigado, caro amigo. Que os anjos digam amem.
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