quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

É NATAL!!





UM FELIZ NATAL PARA TODOS!!!



E, PARA NÃO PERDER O HÁBITO, AQUI VAI O CONTO DESTE NATAL...




INÍCIO DE NOVEMBRO, DE UM ANO QUALQUER DO FUTURO NÃO MUITO DISTANTE

A ampla sala de reuniões está toda preparada.

Um a um, os convidados vão entrando e sentando-se. O chefe da Expedição, o Diretor do Departamento de Cartas & Mensagens, o Vice-Presidente de Produção, o Gerente da Divisão de Desenho e Criação, o Assessor de Marketing e Imagem, o Auditor-Chefe da Seção de Avaliação de Comportamentos, o Assessor para Contratos de Patrocínios.

Depois de estarem todos acomodados, o casal entra.

Já estão vestidos de vermelho, a cor oficial do grande Estabelecimento. Ela com seus lindos cabelos grisalhos presos numa fita encarnada, os olhos atentos, o semblante doce. Ele muito acima do peso, a face bondosa sempre pronta a um sorriso, a comprida barba branca.

O último a passar pela porta é um executivo apressado, como todos são, o rosto contraído num esgar preocupado, os cabelos mal alinhados informando a todos que ele não é homem que perca seu precioso tempo em frente ao espelho. Os que estão na sala já o conhecem há anos. É o representante do COmitê CAmeral de  COLAboradores.

Sem se sentar, ele toma seu lugar numa das pontas da grande mesa, abre seu laptop de última geração e olha em torno. Certificando-se que toda a cúpula administrativa do Estabelecimento está presente, respira profundamente e começa a falar.

«O dia que receávamos chegou!»

Faz uma pausa de efeito.

«A Quarta Revolução Industrial acabou de acontecer. Vejam os seguintes dados.»

Do seu laptop sai um facho de luz que pousa numa tela colocada horas antes no fundo do salão.

«Em 1998, a Kodak tinha 170.000 funcionários e dominava 85% do mercado de papel fotográfico em todo o mundo. Em menos de cinco anos, com o advento da fotografia digital, seu modelo de negócios despareceu e ela abriu falência.

O computador Watson, da IBM, é o melhor exemplo de inteligência artificial do momento. Derrotou o melhor jogador de GO do planeta, dez anos antes do previsto. É capaz de fornecer aconselhamento legal à distância com 30% a mais de exatidão do que os advogados e a um custo infinitamente menor.

O Tricorder-X, cujo preço poderá chegar a menos de US$100 em pouco tempo, é um aparelho de investigação e diagnóstico por telefone capaz de analisar 54 bio-marcadores, desde exames de retina, de sangue e de respiração, e auxilia na detecção do câncer quatro vezes mais acuradamente que exames normais. Tornará o atendimento médico de alto padrão acessível e barato em menos de três anos.

Os veículos autônomos já estão tornando obsoleta a tarefa de dirigir. Ninguém mais precisa tirar carteira de motorista. A eficiência da condução automática já reduziu drasticamente o número de acidentes automobilísticos e as mortes do trânsito. De 1,2 milhão por ano, antigamente, caiu a menos de 100 mil. Com isso, o ramo de Seguro Automóvel desapareceu. Assim também estão desaparecendo as tradicionais montadoras. Hoje, o setor é dominado por empresas que detêm a tecnologia de construir computadores sobre rodas.

Com as estradas e as ruas dominadas por carros elétricos, as ações das petrolíferas derreteram nas bolsas de valores do mundo inteiro.

O mercado imobiliário nos grandes centros afundou. Ninguém mais precisa IR trabalhar! O trabalho é feito em casa. Assim, todos preferem morar nas periferias das megacidades, ou em pleno campo. Edifícios de escritórios são hoje coisa de museu. Na mesma vertente, o tele ensino extinguiu a necessidade de prédios escolares.

Assim, a quem está hoje pensando em estudar direito, medicina, ou espera conseguir um emprego em seguradoras, imobiliárias, petroquímicas e na indústria de veículos, aconselhamos que pense duas vezes.»

Fez mais uma pausa. O silêncio era contrito e pressago. Ele continuou.

«Temos de encarar este novo mundo. A tecnologia destruirá a maioria das atividades tradicionais nos próximos cinco anos. Setenta por cento dos adolescentes de hoje irão trabalhar em atividades que AINDA NÃO EXISTEM! A nossa realidade é uma tela sempre em mutação.

Bem, o que eu vim comunicar é que, pelas nossas análises, o negócio de vocês está totalmente ultrapassado. E, nesta conformidade, o nosso COmitê decidiu retirar seu patrocínio...»

A sala entrou em tumulto. Todos começaram a falar ao mesmo tempo. Pacientemente, ele esperou a poeira baixar.

«Tenho muita pena, mas tentem examinar o seguinte. Hoje ninguém escreve mais cartas. Não há mais serviços de entregas, pois quase todos têm impressoras 3-D em casa e basta importarem os arquivos digitais do que desejam e pronto. As normas de comportamento infanto-juvenil que determinavam quem tinha direito a receber presentes foram abolidas na nova Psicologia. E, convenhamos, esses critérios altamente subjetivos de premiação são hoje socialmente incorretos. Além disso, os alertas aéreos sobre objetos voadores não convencionais, como um trenó, por exemplo, estão, em função do terrorismo internacional, extremamente rígidos.

Desculpem, mas a nossa recomendação é de que fechem as portas. Podemos tentar um outplacement para os empregados e dirigentes. E, para você, Papai Noel, tenho a autorização de oferecer uma confortável pensão num condomínio geriátrico e...»

Uma hora depois, a sala estava praticamente vazia. O representante do COmitê já se retirara e os funcionários haviam retornado aos seus postos de cabeça baixa. Papai Noel olha para a mulher. Dá um longo suspiro.

«Quem sabe ele não tem razão? Estamos velhos, o mundo mudou, a poesia de foi. Somos um anacronismo, imagens de um passado romântico, sombras de um lindo sonho. Uma lenda que o Presente não quer mais ouvir. Uma sinfonia cuja partitura o Tempo apagou...»

Mamãe Noel olha para o marido. Seus olhos doces estão claros de lágrimas. Ela não sabe o que dizer...

De repente, o rosto de um menino aparece na soleira da porta. Papai Noel se surpreende.

«Como entrou aqui? Não sabe que a presença de estranhos é expressamente proibida dentro desta fábrica, especialmente nesta época do ano?!»

O garoto não parece intimidado. Seu sorriso é contagiante. Mamãe Noel observa.

«Deve ter aproveitado que todos estavam ligados na reunião.» E, virando-se para o garoto. «O que você deseja, meu menino?»

Ele olha para o casal com os olhinhos ariscos.

«Sabem o que é? Eu moro numa pequena vila aqui perto, nas tundras da Lapônia. É um lugar muito pobre. Não temos energia elétrica, nem água corrente, nem nada dessas coisas de que falam por aí, caixas que mostram imagens, tabletes que falam, compuseuláoquê que as outras gentes adoram, i-qualquercoisa que as crianças de outros lugares não vivem sem... Só temos a Natureza. E papel e lápis. Eu então vim entregar as cartinhas dos meus amiguinhos lá da terra para o Papai Noel. É o senhor, não é?»

O velho abre um largo sorriso.

«É claro que sou!»
O semblante do menino se ilumina.

«Então, tome. Aí estão os nossos pedidos.» E, virando-se para ir embora. «E não deixe de aparecer na Noite de Natal, viu?»

O casal olha o garoto sair, feliz como um anjo. Em seguida, Papai Noel se levanta.

«Quer saber, Mamãe? Que fechar as portas que nada! O COmitê que vá plantar batatas. Há milhões de crianças neste mundo que ainda esperam por mim.   Vamos é trabalhar.»

E, dando um estalado beijo na bochecha da mulher, solta sua potente voz no ar.

«HO! HO! HO!»

Oswaldo Pereira
Dezembro 2016

Se alguém tiver interesse (e paciência!) em ler os Contos dos Natais anteriores, aí vão os links:







 














4 comentários:

  1. HO!HO!HO! - Muito bom, caro amigo! Boas Festas e ótimo 2017 a você e a todos os seu leitores. Grande abraço do Thomaz.

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    1. Obrigadíssimo, caro amigo. Tudo de bom neste Natal para você e para toda a sua família.

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  2. Sentido abraço de retribuição e agradecimento, juntando votos de que nos reencontremos com saúde.

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