domingo, 11 de dezembro de 2016

DESABAFO



Há dias, ouvi um texto lido pela Maria Bethânia sobre a corrupção, o descaso e a incúria criminosa com que os políticos lidam com a coisa pública. Era um desabafo aberto ao vento, de uma atualidade eterna, despejado por um homem que se via espoliado, enganado, vilipendiado, ultrajado, e que se sentia impotente para reverter sua condição de vítima e joguete nas mãos do poder. O autor? Fernando Pessoa. O ano? 1917. Há cem anos...

Há mais tempo, li “Scandalmonger”, do conceituado jornalista e escritor americano William Safire, em que ele, apoiado em farta documentação da época, denuncia um rosário de falcatruas, favorecimentos e deslizes dos Founding Fathers, os excelsos fundadores dos Estados Unidos. Para que se situem bem, estamos falando de gente do calibre de Thomas Jefferson, Alexander Hamilton e George Washington.

Nesta semana, Park Geun-hie, presidente da Coreia do Sul, foi impichada, por alegado conluio que enriqueceu sua melhor amiga. Em Portugal, o ex-Primeiro Ministro José Sócrates ainda tem muito de explicar à justiça e na Itália, em passado recente, a Operação Mani Pulite (Mãos Limpas) levou um sem número de parlamentares aos tribunais. Eu poderia escrever mais uns dez parágrafos iguais a este com exemplos sobre a corrupção política só neste nosso incipiente século.  

O que todos estes casos têm em comum? Todos os implicados acima viviam em países democráticos e haviam sido eleitos pelo povo.

O que é, então? Serão os eleitores uns cegos? Inocentes desvairados que jogam seus votos nas urnas como se fossem lixo descartável? Cidadãos inconsequentes que desconhecem os conceitos mínimos de cidadania? Ignorantes funcionais que não conseguem estabelecer uma basilar relação de causa e efeito entre o critério, ou a falta dele, da sua escolha e o seu futuro e o de seus filhos?  

E aqui... Ah! Pindorama infeliz... Aqui, esta maldição chegou ao paroxismo superlativo, à perfeição imperfeita de termos o nosso organismo político totalmente apodrecido, mergulhado num mar fétido de propinodutos, jabaculês, pixulecos, esquemas, agrados, molha-mãos, e outros produtos paridos pela ganância, de um lado, pelo conformismo caprino de uma população anestesiada, de outro.

Como reverter? Alguns falam em recomeçar do zero. Mas, só se for para mudarmos nossa alma, refinarmos nossas preferências, passarmos a encarar o exercício da cidadania como um lavor constante, diário, sem desfalecimentos ou acomodações. Escolher com atenção, vigiar com rigor, cobrar com persistência.

Se assim não for, o que adianta?...

Oswaldo Pereira
Dezembro 2016



11 comentários:

  1. Sinto-me como você ou seja perdida e desesperançada. Enquanto o ser humano que abraça a política e somente visa a manutenção no poder e o enriquecimento ilícito não vejo saída.
    Park Geun-hie foi rapidamente retirada do poder e presa; já aqui só vemos presos a turma das empreiteiras para em seguida verem suas penas diminuidinhas pelas delações. Nossos 3 poderes estão entrelaçados e se apoiando uns nos outros. Já dizia Stanislau: restaure-se a moralidade ou locupletemos todos.bjs Zezé

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    1. Desalentador. E a tudo isto assistimos fazendo passeatas, vestindo a camisa amarela, postando diatribes no facebook. Enquanto isso, "eles" continuam em seus castelos cercados de impunidade por todos os lados. Que idiotas somos!

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  2. O preço da liberdade! Com predadores não se brinca. Ou o Brasil acaba com a saúva ou ... se a humanidade não der conta de acabar com o poder do capital nas mãos de perversos, isso vai acabar com o planeta dos humanos

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  3. Olá Oswaldo
    A solução simplista e imediata é dar um aperto maior aos desmandos,fazer mais efetiva e rápidas as investigações, e ao se comprovar os desvios coloca-los-para fora de suas atividades sem muita delonga judicial. Pode ser que assim paguem os justos e pecadores, mas ser politico terá este risco assumido ao se candidatar.
    Emilio Telleria

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  4. Já quanto ás nossas escolhas, independentemente das nossas opiniões e ideais, e apenas para cumprir o dever de participar, tenta-se escolher o que julgamos ser "do pior, o melhor"!

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    1. É uma escolha pobre, cujos efeitos são a situação de mediocridade administrativa que temos nos Governos atuais.

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    2. É uma escolha pobre, cujos efeitos são a situação de mediocridade administrativa que temos nos Governos atuais.

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