quarta-feira, 3 de agosto de 2016

FOGO OLÍMPICO




Uma tocha acesa sempre foi um símbolo. Luz, direção, objetivo, esperança.  Na escuridão profunda das cavernas do neolítico, preservar seu fogo poderia ser a diferença entre a vida e a morte, a defesa contra um mundo animal hostil, o calor numa Idade do Gelo cruel, o guia nas intermináveis noites de inverno.

Iluminou catacumbas, senados romanos, piras votivas, altares medievais, catedrais góticas, salões setecentistas. Sua passagem de mão em mão era uma garantia de continuidade, de que a vida iria prosseguir e, com ela, o segredo da sobrevivência da humanidade.

Esta imagem com toques de poesia foi incorporada às primeiras olimpíadas. A glória esportiva seria simbolizada pelo fogo aceso, proclamação suprema da vitória do ser humano e de sua eleição pelos deuses como senhor da natureza.

Estamos em 2016 e esta imagem sobrevive. Vi-a hoje, real e cristalina, numa também cristalina manhã de inverno, em São Pedro da Aldeia. Ali, na minha frente, o fogo simbólico foi passado para a tocha empunhada por uma adolescente paraplégica. Em sua cadeira de rodas, com seus movimentos limitados, ela de repente transformou-se numa deusa alada e olímpica, seu rosto e seu sorriso desfazendo por instantes os grilhões e os sacrifícios, subjugando o impossível, vencendo o destino.

Não sei quem é esta menina. Mas acho que a lembrarei sempre. Fora escolhida pelos organizadores da festa para levar a tocha olímpica por um trecho da cidade. Para mim, ela foi eleita pelos deuses, os mesmos que abençoaram os primeiros jogos na Grécia heroica, para hoje simbolizar a força, a luz e a esperança.


Oswaldo Pereira
Agosto 2016

13 comentários:

  1. Bonita esta história da menina. Bjs Zezé

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  2. Seu texto me lembrou Rachmaninoff. A emoção levemente dramática dos concertos para piano. Fogo,Grecia, a beleza da condição humana. Ainda ! O caminho simbólico e real.

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    1. Bela lembrança. Na realidade, a música ambiente era um funk. Mas, eu ouvia, sim, o Concerto no. 2....

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  3. Jose Antonio S. Bordeira3 de agosto de 2016 às 16:29

    Meu caro
    Você assistiu a primeira prova da Rio 2016, onde a superação das limitações foi realizada com alegria de um sorriso. Bela cena. Bela descrição. Abraços
    Zeca

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  4. A tocha é um símbolo e os estádios também. Onde os jogos eram e são realizados, onde encontram os jovens de quase todos os países do mundo , onde há confraternização e congraçamento, onde há alegria e a intençao de novos encontros
    saudáveis com a esperança de outros encontros.Isso é vida . Abraço, Cleusa.

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    1. Como seria bom se todas as disputas fossem as esportivas, com seus códigos de honra e de respeito mútuo...

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  5. Parabéns Caro Primo,
    Belo texto, o que não é novidade na Palavra Escrita.
    Abraços,
    Geraldo

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  6. Bonita abertura - esta sua crónica!
    Abraço com votos de que seja uma festa inesquecível para todos!

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    1. Obrigado, caro amigo. Estamos todos torcendo. Afinal, depois de tantos problemas, o Rio merece. Grande abraço.

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  7. Olá Oswaldo
    SEmpre é uma satisfação ler sua cronica . Esta vez V. visualizou essa menina alada
    pelos deuses do Olimpo.
    Países que tem cuidado com sua juventude disputam numero de medalhas de ouro. outros tem a dádiva da natureza que os fazem especiais e outros com esforço pessoal e dedicação mostram que o ser humano é capaz de alcançar o que parece quase impossível.
    O que cativa nesta competição é a vontade de participar representando seu pais,hasteando sua bandeira e deixando orgulhosos seus patrícios dando um exemplo as gerações futuras.
    Bolívia se apresentará com pouquíssimas modalidades mas estará presente.
    Abraços
    Emilio Gonzalo

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    1. Este orgulho esteve presente ontem, na festa da abertura. Que lindo espetáculo, ver o lado bom da Humanidade desfilando e o orgulho nacional ser exaltado por um motivo muito mais nobre que a violência.

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