terça-feira, 29 de dezembro de 2015

QUE ANO...





Uma das charges mais inteligentes que conheço é esta aí abaixo. Para os leitores que não são familiares com a verve humorística do ator cômico brasileiro Antonio Carlos Bernardes Gomes, o saudoso Mussum, explico que ele terminava a maioria das palavras transformando seu final, qualquer fosse ele, em  is (exemplo: forever era forevis, Cacilda era Cacildis, Dilma era Dilmis, e assim por diante, ou diantis...)




















Que ano horrivis..., diria ele, se perguntado sobre 2015. No que eu, em grande parte, concordo. Descontando os dramas pessoais, as aventuras ou desventuras do cotidiano particular dos bilhões e bilhões de pessoas que habitam este estranho planeta, o balanço em letras graúdas do ano que se prepara para fechar seu ciclo e se perpetuar na História não o recomendará muito às gerações futuras. 


AS ONDAS DE REFUGIADOS
Síria, ISIS e Refugiados. As três pontas de um mesmo triângulo de fogo, sangue e medo dominaram as atenções, as preocupações e o noticiário em 2015. As festas e os votos de um Feliz Ano Novo ainda ecoavam quando o Exército Islâmico entrou atirando na sede do Charlie Hebdo, em Paris. Onze meses depois, mais tiros na mesma cidade. Entre as duas ações no coração da França, mais de vinte atentados em todo o mundo, decapitações e imolações, explosões, destruição e morte. Cerca de duas centenas de assassinatos, desfigurações de relíquias e monumentos, no meio de um cipoal de interesses político-econômicos que transformaram um país com um passado milenar num campo de batalha. A posição estratégica da Síria, como porto de escoamento do petróleo árabe, serve-lhe agora de anátema, amaldiçoando-o como peão num xadrez enlouquecido pela ganância. O inferno em que se transformou o seu território, o malogro da tão sonhada primavera em seus vizinhos e o desencadeamento de forças movidas pela intolerância religiosa levantaram a gigantesca onda migratória que fez estremecer os alicerces da Comunidade Europeia. Queiram ou não, esta será a cara de 2015. 

Talvez, nestes últimos doze meses, tenha nascido um grande cineasta, uma atriz incomparável, um desportista decisivo, um cantor de sucesso, um ator emblemático. Só o futuro o dirá. Mas, estes mesmos doze meses nos levaram Manoel de Oliveira, Marilia Pêra, Alcides Ghiggia, B. B. King e Leonard Nimoy.


MINAS GERAIS: TRAGEDIA NO VALE
Levaram também o sonho e a estória da cidade de Bento Rodrigues, tragada pela lama que matou todo um vale e todo um rio. Acharam água em Marte, mas aqui em nossa casa planetária o prognóstico de escassez começa a incomodar grandes e pequenos. A corrupção decapitou a FIFA e respingou em nomes até então inquestionáveis, como o alemão Franz Beckenbauer e o francês Michel Platini. 

E, no Brasil...

CRISE POLITICA

Se tivesse que escolher um nome para o 2015 brasileiro daqui a alguns anos, eu talvez não precisasse hesitar muito. O esfacelamento da funcionalidade de um Governo sitiado, o apodrecimento do pântano venal e obscuro em que se afundou o Congresso, a quebra do leme e a ausência de um timoneiro capaz no barco da nossa Economia, justamente na hora em que o mar encapelava e os ventos rugiam, o abandono das metas cruciais para a nossa salvação e a emproada surdez de nossos supremos juízes empurraram o país para o vácuo, para a ausência de sustentação, para a desmoralização da esperança, para o desencanto com o nosso futuro, para a incerteza e o desânimo. Eu o chamaria então de O Ano do Precipício.

Só espero ardentemente que, nesse mesmo momento hipotético, eu tenha podido chamar 2016 de O Ano do Paraquedas, ou O Ano da Reviravolta, ou ainda O Ano do Impeachment...

2015 foi o ano escolhido pelo cineasta Robert Zemeckis em Back to The Future II (1989) como um dos vértices temporais de seus personagens. Muito se especulou sobre o quanto a ficção e a realidade divergiram. Isto quer apenas dizer que o Futuro não está escrito. Assim, podemos sonhar livremente e imaginá-lo como quisermos.

Então, dá para respirar fundo, olhar o horizonte e dizer, alto e bom-som


FELIZ 2016  


Oswaldo Pereira
Dezembro 2015










7 comentários:

  1. Que assim seja, é o que desejo de coração!

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  2. Simples assim: "O futuro não está escrito" !!! Brilhante!

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  3. Brilhante, Oswaldo!!!
    "A posição estratégica da Síria, como porto de escoamento do petróleo árabe, serve-lhe agora de anátema, amaldiçoando-o como peão num xadrez enlouquecido pela ganância."
    Que frase é esta???
    Adorei as lembranças das perdas no mundo das artes com a alusão aos replacements... além de me lembrar da perda de Nimoy.
    E a denominação do Ano foi perfeita. Infelizmente acho que 2016 ainda vai ter outra negativa. O Ano do Fundo Do Poço.

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    1. Concordo plenamente com a tuas previsão. Mas, gostaria muito que fosse diferente...

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