quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

HOJE SONHEI COM O SOL






Esta noite sonhei com o sol. Não este sol que nos acorda todos os dias, que faz a temperatura subir até mesmo quando as nuvens tentam impedi-lo. Não este sol que queima a pele, que seca o semiárido, que surge no leste e que desenha poentes.

Sonhei com o sol da juventude. Sonhei com o sol que fazia meus dias serem canções de eterna magia, que misturava as horas e mesclava ontens, hojes e amanhãs numa coisa só e radiosa. Sonhei com o sol que nunca projetava sombras, nem para o passado e muito menos para o futuro, cujo brilho me tornava cego e ignorante da infelicidade, das dúvidas e dos presságios.

Sonhei com o sol que iluminava todos os caminhos, os possíveis e, principalmente, os imaginados, os adivinhados nas curvas da aventura, tornando desfiladeiros em suaves colinas e em mansos vales os precipícios, envoltos na miragem de seus raios dourados.

Sonhei com o sol de manhãs clareadas, festejadas por ondas de um oceano perfumado a lamber areias finas, celebradas na preguiça que vem depois de uma noite de amor, num beijo molhado, numa carícia morna...

Sonhei com o sol que nunca ia se por, para o qual a linha do horizonte só servia para nascer, porque as tardes sempre se reciclavam em madrugadas.  Sonhei com o sol que jamais se apagaria, porque era meu e assim eu o comandava.

Sonhei com o sol da juventude, com o sol da imortalidade, da onisciência, da certeza instantânea. Sonhei com o sol de um dia imutável, sem vésperas nem ressacas, escorrendo lânguido por promessas de um céu sempre azul, porque esta era a única cor disponível.

Quando acordei, e estava de volta a mim mesmo, vi quanto e como eu me havia distanciado dele. Da janela desta espaçonave de que sou prisioneiro, vejo-o cada vez mais longe, agora mais estrela do que sol, agora mais lembrança do que calor. Um ponto de luz que cabe inteiro nesta pequena janela.

Mas, ele lá está, um fulgor amortecido que ainda brilha na minha saudade. E que, às vezes, me faz sonhar...   

Oswaldo Pereira
Dezembro 2013




8 comentários:

  1. A beleza da sua prosa poética! Magnífico!

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  2. Que belo que é o teu Sonho! Quase que o sinto...mas nunca conseguiria exprimi-lo com as tuas belas palavras! Magnífico ,como diz a Salette.

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  3. Tomei a liberdade de repercutir o seu artigo para um amigo que mora em Israel. Abaixo, copio a reação dele:

    Caro MArcos
    Muito, muuuuuuuuito bonito!
    Acho que no fundo, é o que todo mundo gostaria de sonhar.
    O sol esta amortecido, mas está. É graças a ele, se não vemos
    o sol, podemos também ver a luz das estrelas.
    um abraço
    Idal

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    1. Caro Marcos,
      Obrigado por espalhar meus escritos por aí. Afinal. este é o verdadeiro sonho de todo escritor... E agradeça por mim ao teu gentil amigos de Israel pelos comentários.
      Um grande abraço

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  4. Caro Primo,
    Sua prosa poética, como comentou La Salette, é belíssima. Emocionei-me às lágrimas!
    Abraços,
    Geraldo

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    1. Caro Primo,
      Partindo de um talentoso contista como você, o elogio é extremamente bem-vindo.
      Grande abraço.

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  5. Por acaso é o "ocaso" ? Quelle tristesse !
    Mais luz da lua do que luz do sol ? Bem, felizmente eu ainda sinto o sol brilhar dentro de mim !
    Muito bem descrito seu sentimento !

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