segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A MAIS PORTUGUESA DAS ALDEIAS


IGREJA MATRIZ
 
 
A serra com seus dentes de pedra domina a paisagem quilômetros ao redor e a vila a abraça. É impossível não vê-la, guardiã e orgulhosa, sitiada mas nunca conquistada, antiga como a nacionalidade lusa, a mais portuguesa das aldeias.

Seu nome é Monsanto da Beira, a nordeste das Terras de Idanha. Vestígios arqueológicos demonstram que ali já vivia gente há mais de 10.000 anos, em pleno paleolítico, abrigando-se no sopé do monte. Os rios de história foram passando e com ele os romanos, os visigodos, os mouros. Em 1165, estes tiveram de abrir caminho para a arrancada de D. Afonso Henriques, que ganhou-a e doou-a aos Templários. Cento e cinquenta anos depois, D. Dinis outorgou-lhe a Carta de Feira, à época um importantíssimo atributo pois trazia mais aldeões e mais dinheiro e que acontecia todos os meses ao redor da Ermida de São Pedro de Vir-a-Corça. Nome nascido na lenda de um eremita chamado Amador e da corça que, atendendo às suas preces, veio amamentar um recém-nascido encontrado por ele na floresta.

RUMO AO CASTELO
É evidente que tudo aqui carrega seu mito e sua mágica, como a Igreja Matriz (do século XV), a Torre do Relógio, a Porta de Santo António, as nove capelas e mais e mais edifícios de pedra, sempre a subir, rumo ao Castelo, sobranceiro a quase 800 metros de altitude. Foi construído no século XII por Gualdim Pais, cruzado, frei e fundador de Tomar.

Aí, você está de volta ao passado, à Idade Média dos cavaleiros, dos reis e rainhas, das donzelas e das bruxas. A planície estende-se até cansar a vista, Beiras ao Norte, Alentejo ao Sul, Espanha a Leste.

GUALDIM PAIS
 
 
CASTELO
Tentaram tomá-la por duas vezes. Em 1658, Luís de Haro, ministro do rei espanhol Filipe IV; cinquenta anos depois, o Duque de Berwick, durante a Guerra da Sucessão Espanhola. Duas tentativas, dois fracassos. Monsanto, inexpugnável, resistiu. O Marques de Marialva, da primeira vez e o Marques De Minas, na segunda, honraram as cores portuguesas.

E hoje ainda lá está, aberta agora às hordas de turistas que a vêm conhecer, reverenciar e descobrir seus austeros encantos, tomar a poção mágica, uma refrescante bebida preparada com hidromel e outros ingredientes secretos, como me afiançou uma estalajadeira de nossos dias numa tasquinha que mais parecia uma gruta. Num dia de verão ibérico, um bálsamo.

 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Oswaldo Pereira
Agosto 2013

 

 

Um comentário:

  1. Sempre é bom um pouco mais de cultura ... apreciei muito essa crônica !

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