terça-feira, 17 de janeiro de 2023

LOLLO

 


O filme Pane, Amore e Fantasia foi lançado em 1953. Era o início da era dourada dos filmes em preto e branco que iriam compor um dos mais expressivos capítulos do cinema italiano e dar a conhecer ao mundo a realidade dura, às vezes cínica, às vezes cômica e, no mais das vezes, sofrida, da Itália no pós-guerra.

A produção, realizada com um orçamento extremamente modesto, foi um instantâneo sucesso e criou a oportunidade para que Luigi Comencini, o diretor, emplacasse mais três continuações, sempre ancoradas nas aventuras e desventuras de um coronel dos carabinieri, vivido pelo lendário Vittorio de Sica. Seu par nessas agitadas reviravoltas era a personagem de uma linda jovem que, apesar das investidas do coronel, estava apaixonada por um de seus comandados.

A atriz escolhida para o papel era praticamente uma novata que havia ganho alguns concursos de beleza (fora a terceira colocada no Miss Italia de 1948) e aparecido em papéis menores no cinema. O sucesso de Pane, Amore e Fantasia escancarou para o mundo Luigia Lollobrigida, que já trocara seu primeiro nome para Gina.

Para todos nós, machos adolescentes da década de 1950, Gina Lollobrigida imediatamente tornou-se uma miragem, uma deusa distante e inatingível mas que, pela força dos nossos hormônios, entronizou-se como a musa lúbrica e inspiradora de sonhos, desejos e outras práticas... (tive muita dificuldade para dormir após, nos meus imberbes 14 anos, vê-la saindo nua da piscina de um harém no filme “Les Belles de Nuit”)...

Numa ascenção meteórica, Gina foi estrelando sucessos e monopolizou todos os papéis que exigiam uma mulher com o seu carisma sensual. Só para ficar em alguns de seus 67 filmes, tivemos os italianos La Provinciale,  La Romana e La Donna Più Bella del Mondo, o já citado francês Les Belles de Nuit, os americanos Trapèze, Beat the Devil (O Diabo Riu por Último, de John Huston), Never So Few (Quando Explodem as Paixões), Salomon and Sheba (Salomão e a Rainha de Sabá) e Woman of Straw (Mulher de Palha). Uma carreira que a fez contracenar como os mais famosos atores de seu tempo, como Bogart, Flynn, Gassman, Mastroiani, Sinatra, Connery, Brynner, Niven, Guinness, Quinn e por aí vai. Também ficou conhecida por recusar alguns convites, abrindo espaço para o aparecimento de atrizes como Sofia Loren, Silvana Mangano e Lucia Bosé. Recusou até Fellini, declinado filmar La Dolce Vitta.

Encerrando sua carreira cinematográfica e televisiva em 1990, Lollobrigida deu início a uma respeitada atividade como fotojornalista, tendo sido a primeira repórter fora de Cuba a entrevistar Fidel Castro.

Lollo nos deixou ontem, aos 95 anos, de complicações seguidas a uma fratura no fêmur e na bacia. Um dos últimos símbolos da era de beleza e romantismo do século passado que se vai.

Oswaldo Pereira
Janeiro 2023

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