terça-feira, 20 de julho de 2021

CARTA AO ALGORITMO DO FACEBOOK

 


Caro amigo algoritmo,

Eu sei. Você vai ter pouco tempo para ler esta cartinha. Compreendo. A tarefa de verificar os bilhões de mensagens que trafegam velozes pelo universo do Face, escritas em miríades de línguas diferentes e vindas de todos os cantos do mundo, deve ocupa-lo incessantemente durante as 24 horas, e seus diversos fusos, do dia.

Entendo também que seu trabalho ficou ainda mais extenuante depois que seu patrão, acusado por tribunais internacionais de propagar a maldição das fake news, achou por bem incumbi-lo de detectá-las e, usando uma palavra mais feia, censurá-las. Uma responsabilidade imensa, que faria mesmo o mais inteligente e superdotado mortal sucumbir diante da enormidade e transcendência da missão.

Por isso, eu o admiro. Imagino que, como um legítimo e juramentado exemplar da brilhante espécie pós-humana da Inteligência Artificial, você está imune a efusões sentimentais de aprovação e, portanto, descarte este meu elogio. Ou, talvez, não.

Mas, caro algoritmo, você também não precisava exagerar. Venho notando que postagens minhas estão sendo flagrantemente boicotadas ou, na hipótese mais branda, limitadas em sua divulgação, especialmente aquelas que, às vezes, por necessidade de se manter íntegra e verdadeira a mensagem ou a ideia a ser transmitida, utiliza certas palavras. Posso assegurá-lo de que, se as uso, não o faço por motivos escusos e nem em obediência a algum projeto maquiavélico de perturbar a paz mundial. 

Não quero, e não posso, cair no expediente rasteiro de substituí-las por eufemismos e equivalentes ridículos. Seria empobrecer o meu discurso, já de costume pouco nobre e rico. Como já mencionei certa vez, aqui mesmo neste blog, não podemos ter medo das palavras.

Assim, escrevo-lhe esta para pedir que, em seus neurônios sintéticos, procure usar um pouco mais de discernimento e releve as citações a, por exemplo, nomes de remédios tradicionais, laboratórios orientais, trapalhadas supremas e comissões circenses, e não permita que elas perturbem suas sinapses eletrônicas e cerceiem a publicação dos meus despretensiosos e inofensivos escritos.

Atenciosamente,

Oswaldo Pereira

Julho 2021

10 comentários:

  1. Internet não é cérebro.

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  2. Será que eu entendi que está sendo censurado?

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    1. Pois é... Tenho notado que, dependendo do teor do meu texto, o Face limita a sua distribuição. Pensei que eu estava sonhando com conspirações, mas váras outras pessoas já acusaram o fenômeno...

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    2. Não devemos ter medo das palavras.Devemos usá-las ao sabor do precisamos.

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  3. Ola Oswaldo.
    Nao liga nao,continua escrevendo como o voce sempre o faz. Seu estilo sempre sera intocavel.
    Nos saberemos interpretar se alguma palavra foi tergiversada.
    Emilio Gonzalo

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    1. Obrigado, Almirante. Seremos sempre superiores aos algoritmos...

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  4. E chegamos a esse ponto. Sob pretexto de evitar sei lá o quê acabamos numa verdadeira censura de expressão do pensamento. Aonde iremos parar?

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  5. SEMPRE que comento aparece abaixo do texto a palavra" excluir ".Existe alguém que faz alguma critica?Durante muitos anos escrevo falando sobre o texto que lido...Ok!nada mais será escrito.Obrigada.
    iste

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