quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

ESCUTA AQUI, 2021

 


Parecia um portal. A entrada para uma nova dimensão. Um espelho líquido que nos iria transferir para a Terra Encantada. O novo ano parecia tudo isto. E o céu também.

Bastaram cinco dias e 2021, deste outro lado do espelho, é um duende de testa franzida e maus bofes. Nem está aí para as nossas dores e as nossas esperanças. Me lembra a piada do aspettate il barítono, que já contei aqui, mas vou repetir.

Uma vez, na Itália, uma plateia enfurecida vaiava impiedosamente o tenor. Em dado momento, ele parou de cantar e, antes de se retirar do palco, disse: esperem pelo barítono. Que provou ser muito pior que seu antecessor.

Que todos os bons espíritos esconjurem, mas, me digam, será que depois de um 2020 de sinistra memória, 2021 vai ser o barítono?

E isto é maneira de começar? Nova cepa do COVID, colocando em dúvida a eficácia das vacinas. A crescente compreensão de que a sua aplicação será mais lenta do que o imaginado. A ideia, cada vez mais prevalente, de que o grau de eficácia da imunização vai ficar, na média, bem abaixo do 90%. E a certeza de que ainda vai levar muito tempo, até que possamos nos livrar das máscaras, do confinamento, do distanciamento social, dos lockdowns e desta pegajosa sensação de que estamos parados enquanto o tempo passa.

Muita gente foi dormir na noite 31 de dezembro embalada por sonhos e champanhes. 2020, finalmente, chegara ao fim e as fadas do calendário iriam substituir a folhinha por outra, como antigamente, cheia de paisagens de montanhas cobertas de neve pura brilhando ao sol, florestas da Nova Inglaterra com suas folhas de cores inconcebíveis, praias com coqueiros e ondas azul-esverdeadas.

Este era o cenário. Esta era a promessa.

Assim, vamos ter de encarar 2021, chamá-lo para uma conversa dura e adverti-lo.

Nem pense em nos decepcionar!

Oswaldo Pereira

Janeiro 2021

7 comentários:

  1. Olha só. Vila Matas o barcelonez genial diz que seriamos mais felizes se não tivessemos q ir à escola.Não concordo inteiramente mas entendo. Já o meu neto aluno temporario da Escola Americana afirmava convicto " essa escola vai me matar". Um filho, não sei de quem, da coroa britânica andava se recusando peremptoriamente a frequentar o colégio. No outro extremo acredito que as grandes comemorações cheias de expectativas de júbilo e fantasia correm o risco de serem tb uma fraude ao espírito "simples" de um "simples" ser humano. Sendo assim que tal olhar para o real "simplesmente" aguardando q com o que ele nos oferecer possamos delicadamente permanecer inventando a vida.

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    1. Que beleza! Mas, o imaginário, às vezes, nos ajudar a viver. E ver coisas que a realidade, sovina como é, nos esconde...

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  2. Bem que a gente precisaria de uma varinha mágica nessa virada de ano, mas ela não existe. Existe porém, de novidade, a esperança de uma solução que se avizinha, não na velocidade que desejaríamos, mas pelo menos a luz foi acesa. Esse talvez seja o diferencial para que iniciemos 2021 na expectativa de que a vida possa aos poucos ser retomada, com menos traumas.

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    1. Acho que, apesar das vacinas, vamos demorar para voltar ao "normal". Mas, o que é mesmo o normal?...

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  3. Quem "vive no mato" como eu, às voltas com a exuberância da natureza, aprende a paciência. Para alcançar lugares de dificil acesso uso eventualmente um galho de árvore, como prolongamento de meus braços. foi assim q descobri a verdade sobre a varinha de condão. Um objeto real que vale para fazer a mágica do que supostamente não acreditamos ser possivel alcançar.

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    1. Como é bom ter poesia quando dela precisamos... "Ser poeta é ser mais alto...", como diz a canção dos Trovantes, um grupo vocal português...

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    2. Que bela canção Oswaldo! Boa música q nos faz chorar sorrindo. rs
      ...mas... eu diria q os poetas não "são" mais altos apenas eventualmente "vão" mais alto. Obrigada.

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