domingo, 16 de dezembro de 2018

INVERSÃO DE VALORES



Deu no GLOBO:

As lixeiras laranjinhas da COMLURB têm sumido das ruas da cidade. Repórteres do GLOBO percorreram 1,5 quilômetro da orla de Ipanema e encontraram apenas uma.
A COMLURB alega que parte foi furtada ou vandalizada. Diz também que algumas foram recolhidas para manutenção e serão repostas para o revéllion, as férias escolares e o carnaval.
Melhor pedir aos cidadãos que só descartem lixo em épocas de festas ou férias escolares.

Esta última frase é um exemplo típico da posição da mídia brasileira com relação a culpabilidades e responsabilidades. Quer dizer, uma parte da população quebra, estraga, rouba e destrói um bem público e o pequeno editorial empurra toda a culpa em cima da COMLURB. Isto, para mim, é uma tremenda inversão de valores.

E isso vem de longe. O posicionamento jornalístico (e estamos falando aqui de todas as formas de jornalismo, noticioso e editorial, falado, escrito e televisivo) brasileiro segue a linha da santificação do malfeitor, da glorificação do bandido, da glamurasização do ladrão romântico. Um episódio icônico foi o tratamento dado a um dos assaltantes do trem pagador britânico, o inglês Ronald Biggs, que aqui viveu foragido durante quase três décadas, bajulado pelos informativos nacionais com status de grande celebridade. Só voltou ao seu país no fim da vida, doente. E lá esperava-o a pena e a prisão pelo crime contra a sociedade que havia cometido.

Continuando, não quero aqui dizer que a nossa Polícia Militar seja isenta de problemas. Dentro da corporação, há, sabidamente, elementos tão mal-intencionados como os criminosos que ela tem como dever perseguir e prender. (Como parênteses, quero revelar que, nas duas únicas vezes nas quais tive contato pessoal em situação de emergência com policiais militares, uma delas num momento de muita tensão durante um assalto ao prédio onde moro, o seu comportamento foi de extrema competência e profissionalismo.) Sua atuação, entretanto, nos sangrentos confrontos, que se tornaram o dia-a-dia de muitas comunidades nos grandes centros, revela, às vezes, o despreparo de seus soldados e oficiais e a truculência de seus métodos.

E, quase sempre, é só este lado negativo que a nossa imprensa se compraz em divulgar, como se os pecados cometidos pela PM servissem de absolvição para as ações dos bandidos.

Se queremos viver em segurança, é preciso entender que o crime é uma ruptura da ordem. Nos países em que vivi fora do Brasil, a sociedade percebe e aceita a noção de que, ao se propor iniciar um comportamento que ponha em perigo ou traga intranquilidade aos cidadãos, o indivíduo é responsável pela reação das forças de preservação da Lei, que, afinal, são pagas por aqueles próprios cidadãos.

Assim, culpar somente a coitada da COMLURB pela escassez de latas de lixo é isentar de responsabilidades aqueles que as depredam e roubam. É contra eles que o pequeno editorial do GLOBO devia ter-se voltado.

Oswaldo Pereira
Dezembro 2018

Um comentário:

  1. Sim, sem dúvida.Ouve-se culpar a Comlurbe.Estive lá pedindo o corte de árvore em nossa rua e nada consegui. É complicado.Eles dependem da ordem de outros o'rgaos.Assim ficamos com o perigo de galhos enormes caírem sobre nos, nossos carros,as fiações elétricas e etc.

    ResponderExcluir