quarta-feira, 18 de outubro de 2017

CHAMAS


Portugal arde. Califórnia também.

Não sei o que se passa nos Estados Unidos, mas por aqui esta nova tragédia faz despertar uma incontida ânsia de descobrir os culpados. As cenas do pinhal milenar de Leiria queimando como as fornalhas do inferno, os vídeos de carros apanhados numa armadilha de fogo, os relatos ao vivo de perdas irreparáveis tocam fundo. A magia do celular-câmera transforma todos nós em repórteres em primeira mão e a realidade escancara sua boca sem retoques ou photo-shops.  A pancada é direta no estômago. E provoca o regurgitar de dezenas de perguntas. Como pode isto acontecer? Por que isto aconteceu? A quem cabia não deixar isto acontecer? Quem falhou? E, da Natureza até aos serviços de proteção civil, passando pelo Governo, Câmaras Municipais, Bombeiros, Autarquias e Segurança Pública, uma longa lista de culpados se forma nos noticiários, nas opiniões dos experts de plantão e nas onipresentes redes sociais.

Estranhamente, fala-se pouco nos incendiários. E é mesmo de estranhar-se pois, mesmo se reconhecendo a situação propícia criada por um dos verões mais longos, quentes e secos do século, quinhentas ocorrências de focos de incêndio ocorridas num só dia (domingo passado, 15 de outubro), não pode ser obra só da mãe natureza. Ninguém parece atentar muito para a branda legislação que pune com penas reduzidas e apenas monitoramento individual os criminosos que, por descuido ou por vontade, disparam as chamas que matam e destroem incontáveis sonhos e vidas. O atear de um fogo precisa ser encarado como um ato de vilania e periculosidade comparável a um atentado terrorista. Seu dano pode ultrapassar a contabilidade hedionda de bombas, tiros ou atropelamentos praticados pelo terror urbano. Só neste ano, em Portugal, perderam-se milhares de habitações, centenas de propriedades rurais e de negócios. E uma centena de vidas.

Agravamento da legislação penal, reordenação da ocupação florestal, apetrechamento adequado dos meios de combate ao fogo, melhoria dos procedimentos de emergência são providências que o Estado Português vai precisar introduzir com profunda seriedade e eficiência. E rapidez. O verão acabou e as primeiras chuvas outonais vêm amansar a fúria do fogo.

Mas, o verão de 2018 está à espreita, logo ali, daqui a oito meses...

Oswaldo Pereira
Outubro 2017


4 comentários:

  1. Hola Oswaldo, he recibido tu blog "Chamas" anoche a las 23,30 más o menos.
    Los mails los puedo leer en mi celular, peró, por lo visto, mis comentarios no te llegan. No sé a que es debido. Has recibido este escrito? Puedes enviarme un si o un no solamente. Un saludo afectuoso de Gianna








    ResponderExcluir
  2. Muito triste o que acontece aí,e só depois de muitos e muitos anos as terras se tornam férteis.E, as perdas humanas, sem palavras.Difícil entender. Tenhamos esperança e certamente o governo tomará as providências devidas.

    ResponderExcluir