segunda-feira, 21 de abril de 2014

2014: UM ANO QUE PODE NÃO TERMINAR





Um terço do ano está a caminho do fim. Um ano de final 4, como outros que marcaram as páginas dos livros de História, urbi et orbi, ou seja, aqui no nosso canto e no resto do mundo. Só no século passado, 1914 desencadeou a Primeira Guerra Mundial, 1944 o evento que mudou o rumo da Segunda (o Dia D). 1954 trouxe o suicídio de Vargas e o nascimento do rock, 1964 a Redentora e os Beatles, 1974 a Revolução dos Cravos. 1984 foi o título do fantástico livro de Orwell. E em 1994, fomos campeões pela 4ª vez.

E este 2014 promete. Ainda vai antes da metade, e já esquentou o discurso entre russos e americanos, enfezou o clima planetário com verões cáusticos e invernos gélidos, aproximou a Eurozona da Direita.  Aqui, teve um Carnaval em março, o encerramento do julgamento-espetáculo do Mensalão, os percalços da Petrobras.

E é aqui, neste berço esplêndido ao som do mar, que o ano começa a desenhar os contornos de uma decisiva procura por caminhos, um aprofundado questionamento de nossa identidade como povo, do explodir de uma sede enorme por definições. Que Sociedade queremos ser? Quem é esse Brasileiro-tipo? O que quer ele? Que espécie de cidadania ele espera?

O primeiro sintoma que dedura 2014 como sui-generis é o sentimento de desencanto com um acontecimento esportivo que, até um passado mais ou menos recente, seria motivo de um delirante orgulho nacional. Os 90 milhões em ação, o Brasil de chuteiras estão sendo olhados com desconfiança, impaciência e até com certa raiva. Muita gente não está aturando mais o bombardeio verde-amarelo da mídia, os filmetes de propaganda com redes balançando, as mil embaixadinhas do Neymar para vender carros ou sungas. É a primeira vez que vejo isto tão nitidamente. Há uma certa vergonha pelo atraso das obras, uma revolta surda pelo custo delas e o lamento indignado pela inversão de prioridades.

Depois, é a encruzilhada das eleições. A queda livre da popularidade de Dilma pode escancarar uma torrente aberta de fundos da Viúva para reverter o quadro, como a ilusão do PAC serviu para elegê-la, embora as benesses governamentais já estejam num limite por demais perigoso. Os programas de Bolsa Família sustentam hoje 14 milhões de famílias. O funcionalismo público também. Vinte e oito milhões de núcleos familiares que, usando a média nacional de 3,1 pessoas/grupo familiar, correspondem a 86,8 milhões de brasileiros vivendo diretamente à custa do Erário. Se adicionarmos os 30 milhões de aposentados do INSS, verificamos que 60% da população pátria dependem exclusivamente do governo para sobreviver.

Soma-se o encolhimento da economia mundial, o fim do ciclo virtuoso que cobriu de glórias o PT nos anos Lula. A Comunidade Europeia está numa quarentena que se estende no tempo, os Estados Unidos apenas colocaram o nariz para fora d’água depois da debâcle de 2008, os tigres asiáticos perderam as listras, o dragão chinês está empanturrado de dólares e arrefeceu o ritmo. Internamente, a política de preços da energia virou refém do clima e a probidade fiscal refém da política. O monstro da inflação abriu seus olhos. A corrupção é endêmica. Há gente falando em revisão da Lei da Anistia. E o Brasil pode sair da Copa nas oitavas de final...

É neste ambiente que vamos caminhar nos próximos dois terços de 2014. Um ano que pode também entrar para a História, como seus primos de final 4.  Um ano que pode não terminar.

Oswaldo Pereira
Abril 2014





Um comentário:

  1. Redondo o relato dos anos com final 4. Colocação bem feita dos acontecimentos e bem sintetizados.
    Vamos pedir a Deus que o nosso povo e principalmente os governantes pensem com carinho no BRASIL antes de se distraírem com os erros em benefício próprio.
    Abraço, Cleusa.

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