quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

OSCAR 2014



Não sei se já aconteceu, mas, este ano, seis dos nove filmes candidatos à estatueta são baseados em histórias reais. Só três (Her, Gravity e Nebraska) têm roteiros ficcionais. O que isto quer dizer? Não sei.

Mas sei, e todo mundo sabe, que a indústria passa por um momento delicado. A audiência está em declínio e salas de cinemas estão fechando em todo o mundo. As mega distribuidoras estão tentando descontar o prejuízo explorando o filão dos video clubes das TV a cabo, das edições em blue ray e em 3D, para assegurar o interesse de quem, refestelado em seu sofá diante de um telão de 60 polegadas e cercado pelo surroundsound do seu home theatre, acha deveras incômodo sair de casa numa noite chuvosa e ir enfrentar trânsito, fila e procura de vaga para assistir a um filme. O grande problema é que a porta aberta da internet vem permitindo, com pequeno esforço, zero risco e nenhum investimento, descarregar para qualquer hard disk menos nobre a cópia de segurança de uma obra cinematográfica que pode ter custado dezenas de milhões de dólares para criar. Daí para um pen drive e para o escurinho de uma sala de estar é um passo. Desde o aparecimento da televisão, nos anos 1950, que os estúdios não enfrentam uma tempestade tão negra.

Nos últimos anos, Hollywood e suas congêneres têm procurado enfrentar a tormenta lançando blockbusters recheados de mirabolantes efeitos especiais, na esperança de que o público se convença das vantagens de assistí-los na tela grande e com som Dolby. Tem funcionado, mas, não sei se porque o gênero começa a cansar, desta vez, nas muitas noites de gala de premiação (SAG, BAFTA, Golden Globe e, agora, o Oscar) houve apenas um postulante que seguiu a linha, o realmente magnífico Gravity (sem dúvida, muito melhor visto num bom cinema do que numa LCD...) Os outros se dedicam a dramas pessoais, familiares ou políticos e usam mais a ilha de edição do que o estado da arte dos visual effects.

Neste ponto, é bom esclarecer que em termos de cinema, e como apanágio dos meus muitos anos, sou das antigas. Cresci flutuando na magia do celulóide, numa época em que ir ver um filme era uma epopéia em si mesma, num tempo em que algumas salas exigiam gravatas e vestidos de soirée, havia intervalos ao som de pianos ao vivo e poltronas de veludo. Amo a tela grande e, evidentemente, preparo-me com preceito e ritualístico fervor para a noite dos Academy Awards, e não há Carnaval nem desfile de escolas de samba que me desvie de assistí-la.

À exceção de Nebraska, vi todos os candidatos. E, como todo bom cinéfilo, tenho os meus vencedores. Para mim, the Oscar goes to...

Filme:                           DALLAS BUYERS CLUB
Diretor:                        Alfonso Cuarón (Gravity)
Ator:                             Matthew McConaughey (Dallas Buyers Club)
Atriz:                            Meryl Streep (August: Osage County)
Ator Coadjuvante:     Jared Leto (Dallas Buyers Club)
Atriz Coadjuvante:    Julia Roberts (August: Osage County)


Não quero, entretanto, ser dono da verdade. Resolvi então pedir à Turma do Bar (aquela, cujos papos às vezes aparecem nestas páginas) para também dar sua opinião.


“Melhor filme? The Wolf of Wall Street, claro! Scorcese botou prá quebrar, jogou na cara de todo o mundo o bas-fond do inacreditável universo financeiro americano, o imenso poder dos manipuladores do mercado de ações, onde se fazem e desfazem fortunas incalculáveis a partir do nada. Um grande alerta para a populaça que ainda crê no jogo limpo e transparente dos analistas, das corretoras e dos xerifes das agências reguladoras. Jordan Belfort contou tudinho no seu livro e Leo di Caprio incorporou a sua ganância nua e crua numa interpretação poderosa. Oscar também para ele, para o Diretor e, last but not least,  para Jonah Hill, como coadjuvante, que arrasa na pele do “escada” de Belfort.  Cate Blanchett e Sally Hawkins, a dupla de Blue Jasmine, completam a minha lista.”

“Adoro cinema. Mas, não este cinema pasteurizado de Hollywood. Sou fã dos grandes mestres europeus, da poesia dos japoneses, dos recentes iranianos. Filmes cabeça, por que não? É a arte mostrando a vida como ela é, trazendo mensagens, histórias de carne e osso. Soube que o Grupo Estação vai fechar. Temos de impedir uma tragédia destas! É o último baluarte do cinema de qualidade. Sem ele, só nos restará o “circuitão”... De qualquer maneira, fui ver os candidatos (não posso negar que a cerimônia do Oscar tem a sua magia) e amei Philomena. Judi Dench tem de levar a estatueta. No mais, achei Christian Bale que, além de gato é um verdadeiro camaleão,  ótimo em American Hustle. No mais, prefiro dar os meus palpites para o Urso de Berlim ou a Palma de Cannes...”


12 Anos Escravo merece o prêmio. E o Diretor Steve McQueen também. Aliás, todos eles, Chiwetell Ejiofor, Lupita Nyong’o. É preciso nunca deixar morrer a história da raça negra escravizada nas Américas. Aquilo é que foi genocídio, físico e moral. Um genocídio que se perpetuou e se repete no preconceito, na intolerância, na discriminação. Como ator coadjuvante, ainda coloco o somali Barkhad Abdi, impressionante em Captain Phillips. Se a Academia tiver um grão de coragem, vai homenagear estes grandes atores negros. Black is Beautiful!


Vamos conferir domingo próximo.

Oswaldo Pereira
Fevereiro 2014






Um comentário:

  1. Não vi esse filme ainda mas o Lobo de Wall Street interpretado pelo Leonardo Caprio em que também faz parte do elenco Matthew McConaughey, me parece um páreo duro. João Lustosa

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