quarta-feira, 20 de março de 2013

BEATLES & BOND







No dia cinco de outubro de 1962, um raio cósmico deve ter passado pelos céus de Londres.
Explico. Nesse dia, estreou nos cinemas da cidade o filme Dr. No e foi lançado nas lojas de discos um compacto tendo de um lado a música P.S. I Love You e do outro Love Me Do.
(Nota do Tradutor: Compacto, galera, era um disco de vinil pequeno que girava num objeto chamado toca-discos a 45 rotações por minuto e tinha uma música só de cada lado.)

Naquele dia 5, é bem provável que os dois fatos tenham ter passado despercebidos para a maioria dos londrinos. Hoje, mais de 50 anos depois, todo mundo sabe do que eu estou falando pois ambos são História. Cada um deflagrou seu terremoto, criando duas mega Manias  planetárias, legiões de aficionados, seguidores e copiadores. Ícones absolutos da segunda metade do Século Vinte, influenciaram poderosamente as maneiras de vestir e de estar, de cantar e de tocar, de pensar e de viver da sua geração.

O disco marcou o início da carreira fonográfica e artística dos Beatles. Já então na formação com a qual iria dominar o mundo, tendo Ringo Starr na bateria, a banda tomou de assalto as paradas de sucesso, empresariada por um não menos gênio Brian Epstein. Falar mais sobre o assunto seria chover no molhado, pois a trajetória do conjunto está contada em milhares de livros, sites, documentários, filmes e só alguem que tenha morado incomunicável numa caverna nos últimos 50 anos poderá desconhecê-la.
O filme foi o primeiro da mais vitoriosa série de todos os tempos, dando vida a Bond, James Bond, o herói implacável, destemido e charmoso criado por Ian Fleming. Partindo do orçamento pequeno de Dr. No, as produções subsequentes tornaram-se suntuosas, na medida em que a audiência se multiplicava por milhões ao redor do globo e o público exigia peripécias cada vez mais mirabolantes. Uma longa lista de endorsements comerciais fomentou o estilo Bond de ser, vendendo carros, cigarros, relógios, pastas executivas, temas musicais, champanhes e vodka martinis para seguidores ávidos por absorver a destreza sedutora do agente secreto.
O que realmente marcou estes dois movimentos foi o fato de que eles não se resumiram a um simples modismo, como tantas outras febres que assolaram as décadas a seguir. Hoje, é quase uma convicção generalizada crer que a música genial dos Beatles viverá para sempre e que, daqui a uns duzentos anos, será reverenciada como atualmente reverenciamos a música de Beethoven, Bach e Brahms (só para ficar na letra B...). E que 007, tendo sobrevivido, mais que às armadilhas de seus vilões, ao esgotamento das obras de seu criador e a uma sucessão de atores, se perpetue nas telas, principalmente depois do recente sucesso conseguido por Skyfall.

O curioso é que, tendo feito parte da indústria de comunicação durante todos estes anos, só por duas vezes Beatles e Bond reconheceram a existência um do outro. A mais notória foi a escolha de Paul McCartney para compor o tema de Live and Let Die (1971).

A outra, talvez pouco conhecida até dos mais aferrados bondmaníacos, é uma cena de Goldfinger (1965), na qual  Bond faz uma referência pouco elogiosa ao quarteto. Por preceder uma das imagens mais marcantes do cinema de ação de todos os tempos, a figura de Jill Masterson pintada de dourado em cima da cama, é provável que quase ninguém se lembre do diálogo. Para avivar a memória, aí estão eles, cena e diálogo.


James Bond
It's lost its chill!  (Perdeu o seu frescor!)
Jill Masterson
Why, you! (Ora ,você!)
James Bond
There's another in the fridge (Há uma outra na geladeira)
Jill Masterson
Who needs it? (Quem precisa disto?)
James Bond
My dear girl, there are some things that just aren't done. Such as drinking Dom Pérignon '53 above a temperature of 38° Fahrenheit. That's as bad as listening to the Beatles without earmuffs....(Minha querida, existem coisas que simplesmente não devem ser feitas. Como beber Dom Pérignon ´53 acima de 4 graus centígrados. É tão ruim como ouvir os Beatles sem protetores  de ouvido...)

Só posso concluir que 007 não entendia de música...


Oswaldo Pereira
Março 2013

4 comentários:

  1. Sim, amigo, eu percebi essa cósmica coincidência em 1998, quando escrevi este texto, que depois viraria post de meu blog!!
    http://blogdohomerix.blogspot.com.br/2010/12/5-de-outubro-de-1962-que-dia-1998.html

    E um outro, quando a coisa completou 50 anos...
    http://blogdohomerix.blogspot.com.br/2012/10/50-anos-atras.html

    Sim, eu sabia do diálogo Bond sobre Beatles, mas sempre me recusei a comentar a tremenda injustiça....

    Muito bom o post!!

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  2. Não conhecia este diálogo...ele não tinha idéia do que seriam os Beates..

    Cleusa

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  3. Que ousadia...rsrs Mas combina bem com aquela arroganciazinha elegante do 007...

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  4. Felizmente Sir Shean Connery envelheceu e fez coisas bem melhores que JB. Já os Beatles não, felizmente estão intactos, lá em nossas juventudes até sempre; sempre que ouvirmos

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