sábado, 13 de julho de 2019

DESTINOS CERTOS: SOTAVENTO ALGARVIO



Há algum tempo, num dos muitos momentos em que me senti embalado pelas terras de Portugal, escrevi isto:

“Nove da manhã. O sol explode na porta da pequena pousada e surpreende quem sai da semipenumbra do saguão de entrada.  Além dele, o mar, lá embaixo, verde-azul profundo, abraçado por uma delicada enseada de areias prateadas pelo dia algarvio e levemente ondulado pelo sopro de uma brisa tão benfazeja como o silêncio que abençoa tudo em volta. É manhã de verão nesta vilazinha praieira do sul português e é como se o mundo e o tempo parassem para render seu tributo a este momento de paz maior que os sentidos. É hora de usá-los com sapiência e saborear os cheiros de suave maresia, cheirar as cores que branqueiam as casas e enverdecem a verdura dos campos, degustar com os olhos bem abertos a sensação de primeiro dia do universo e ouvir a quietude reinante.
A escada de pedra vai serpenteando preguiçosa em direção à água, contornando com carinho a aldeia de arquitetura simples e repousada em suas origens árabes. Afinal, o norte africano está logo ali, do lado de lá deste azul real que se estende à frente. Terras mouras, de onde eles vieram para dominar, por séculos, esta península e deixarem, antes de partir, seu indelével traço genético que ainda azeitona a pele dos que aqui vivem, além de sua arte e do vasto repertório de palavras que enriquecem o nosso vocabulário. Como Al-Gharb, estreita faixa de terra entre o mar e a montanha, que ficou para nomear esta província, a mais meridional do Portugal Continental.
É uma terra de histórias, do projeto das descobertas concebido em Sagres, de saudades de um Dom Sebastião que partiu atrás de uma miragem para seu destino em Alcácer-Quivir, dos pedaços de nevoeiro que nunca mais o trouxeram de volta.
E é aqui, nesta costa de casario alvo, manhãs claras, poentes mágicos, degraus rústicos e silêncio dourado, perfumada pelo cheiro salgado do Atlântico, onde mais se sente o esplendor, a eternidade e o feitiço do verão português.” 

Estava eu, então, enfeitiçado pelo dourado verão português, espreguiçado numa manhã de brisa leve, sol quente e mar manso, em mais uma das incontáveis praias do litoral algarvio.

E é para este Algarve que voltei há dias. Fui para a metade leste deste retângulo que vai da ponta de Sagres até o rio Guadiana, que o separa de Espanha, sempre banhado por um Atlântico de águas mornas. É terra de areais infinitos, de braços de mar gerando ilhas brancas e lagoas cristalinas, de mesas fartas de ostras, polvos e vinhos brancos espertos. E de História.

CASTELO DE CASTRO MARIM
Como Castro Marim, vila que foi fenícia, cartaginesa, grega, romana e visigótica. Dominada pelos mouros no século VIII, foi reconquistada pelos portugueses em 1242. E foi para lá que os perseguidos templários vieram de França e foram recebidos por um generoso de D. Dinis, que os acolheu na Ordem dos Cavaleiros de Cristo.


Como Cacela Velha, vila mourisca debruçada sobre a miragem da Ria Formosa. Foi uma das pérolas muçulmanas da época do califado, lar de poetas e cronistas. Hoje, apesar de cristã desde o século XII, ainda canta versos árabes em suas ruas estreitas.

CACELA VELHA

E há Tavira, onde numa praia chamada da Terra Estreita a vista se perde na contemplação da longa língua de areia entre o oceano e as rias. Há também Vila Real de Santo Antônio, desenhada pelo Marques do Pombal, no limite mais oriental da província, como que a mostrar aos espanhóis do outro lado do Guadiana o engenho e a arte dos portugueses.
OLHÃO
Há mais, muito mais. Há Olhão das grandes marés, há Quarteira de dunas infinitas. Muitas cores e muito mar, neste Sotavento Algarvio. Um destino certo.

Oswaldo Pereira
Julho 2019

4 comentários:

  1. Portugal nosso avozinho é lindo. Conheci muito bem quando fui visitar meus dois filhos que moraram por 9 anos em Portugal. O mais velho atualmente com 55 anos mora em Campos e o mais novo com 52 mora em Montreal.Todos dois casados com filhos. Deo Gracias.
    bjs Zezé

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    1. Parabéns Zeze, ter filhos e netos é realmente uma bênção.

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  2. Obrigada .Descreveu com a alma.Imenso desejo de ir lá.Fiz minha resposta mas não sei onde foi,parei para atender a porta e...Bem, região ,imagino,maravilhosa e deliciosa de estar lá.Penso ter sido para onde foi a família Belford de Arantes saindo da França.E talvez família Martins.Sao dos meus pais. por seu relato é um belíssimo e delicioso lugar para ser visitado.Podera ser meu próximo destino.

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