sexta-feira, 31 de maio de 2013

DESTINOS CERTOS: SANTORINI








Se você estivesse aqui, pelos idos de 1650 a.C., teria vivido numa das mais deslumbrantes ilhas do mar Egeu. O lugar era chamado de Strongyle, a redonda ou Kallisté, a mais bela, em grego. A cultura minóica, absorvida da vizinha Creta, florescia em seus palácios magníficos, cobertos de afrescos mostrando cenas rupestres e figuras humanas longilíneas e elegantes. Strongyle era um rico entreposto do império comercial cretense e em Akrotiri, sua cidade principal, viviam mais de 30.000 pessoas.

Certo dia, entretanto, você teria acordado para ver uma chuva fina de cinzas caindo lentamente sobre a ilha. O fenômeno durou alguns dias, alarmando a população. E servindo de aviso. Rapidamente, providenciou-se a remoção dos habitantes, provavelmente para Creta, 70 milhas náuticas para o sul. Você teria partido triste, por ter abandonado sua linda cidade e por ter também saído de mãos limpas – dada a urgência da retirada, todos os pertences haviam ficado para trás.

Sorte sua. Dias depois, a mais catastrófica erupção vulcânica da história fez desaparecer toda a parte central de Strongyle, ejetando 30 km³ de magma e levantando uma coluna de fumaça e detritos que podia ser vista por centenas de milhas ao redor. Seus efeitos foram mais poderosos que o de cem bombas atômicas. Uma cortina de fumo encobriu o sol por várias semanas em boa parte do mundo e tsunamis gigantescos atingiram os litorais de toda a região.

O terrível desastre deu início ao declínio da civilização minóica, uma das mais importantes da Idade do Bronze. E é mote inspirador de várias teorias. Uma delas atribui à erupção a passagem bíblica da travessia do Mar Vermelho pelos judeus. A retração da maré antecedente ao tsunami teria abaixado o nível das águas, permitindo a Moisés e seus seguidores cruzarem em segurança. A chegada da grande onda teria afogado as tropas de Ramsés. Outra, mais conhecida, estabelece uma correlação entre a ilha redonda e a descrição feita por Platão de outra ilha, também redonda, chamada Atlantis, alimentando o mito da lendária Atlântida.

Depois do cataclismo, o mar penetrou na boca do vulcão e criou uma lagoa cercada pelo que restou das paredes do cone vulcânico. Do fundo do lago, camadas de lava derretida e solidificada foram-se acumulando e uma ilhota de solo escuro emergiu no centro. Aos poucos, os escombros foram sendo reabitados.  Lacedemônios, Fenícios, Bizantinos. A denominação da ilha também mudara, para Thira ou Tera. No século XIII chegaram os venezianos. Devotos de Santa Irina, renomearam o lugar.
VISÃO 3D DE SANTORINI


SANTORINI







Em Fira e Oia, as casas ficam encarapitadas nas bordas de um precipício de 300 metros. Lá embaixo, a caldera do vulcão, cheia de água. Você até se pergunta. Que motivo leva as pessoas a morar num lugar como este?
Resposta: basta chegar à janela. A espetacular vista tira o fôlego, ao mesmo tempo em que algo sussurra que você está num dos pontos mais encantadores do planeta.

Aqui, é a Grécia dos sonhos. O casario branco com seus domos  azuis, a festa das flores em abundância, o céu mitológico. Não há ruas retas, nem sinais de trânsito, nem asfalto negro. São intrincadas vielas que sobem e descem, lojinhas charmosas vendem artesanato, roupas e lembranças. O importante é andar sem rumo, sentando aqui e ali para ver as cores, ouvir os sons, saborear a maresia.



Quando vier, venha de barco. A entrada na baía, a vista das duas vilas encasteladas no alto do imenso paredão circular, o índigo profundo do mar valem várias vezes a passagem e as horas de travessia desde o porto do Pireu.















Também não deixe de visitar a pequena ilha de pedras negras que se situa no meio da lagoa. Chama-se Nea Kameni. A paisagem lunar ainda fumega e relembra que ali, a alguns quilômetros abaixo, lá nas profundezas, câmaras de magma ainda fervem. O monstro, como um apocalíptico titã adormecido, apenas repousa.

E, definitivamente, não perca o pôr do sol. Vai ser difícil ver outro igual. Como será difícil encontrar outro lugar tão mágico como Santorini.





Oswaldo Pereira
Maio 2013






















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