Destino. Para usar uma palavra ícone, Fado.
Foi para ele que Portugal esteve fadado, desde o nascer. O Mar.
De leste, o país sempre foi abraçado pela Espanha.
Castela e León o espremeram logo após o berço, depois de um parto a ferros obrado por Afonso Henriques na mesopotâmia
lusa entre o Minho e o Douro. Estabelecida a precária fronteira no nascente,
Henriques e seus sucessores rumaram para o sul, ceifando os muçulmanos e
abrindo um corredor estreito entre o litoral e as montanhas andaluzas, até, em
meados do século XIII, parar nas praias dos Algarves. Um retângulo cuja
independência ainda se equilibrou cambaleante entre desuniões familiares e
conspirações castelhanas até sua definitiva confirmação na batalha de
Aljubarrota, em 1348.
Nação formada, língua oficializada, rei posto. E agora?
Não havia para onde ir a levante. As terras de Espanha,
e mesmo o continente todo, pareciam querer forçar o novel reino para fora,
expeli-lo do mapa da Europa, empurrá-lo para o precipício do mar. E foi nesse
momento que Portugal descobriu sua vocação, sua alma. Seu Fado.
João de Avis, o rei, dá início a uma fulgurante
dinastia. Ela será breve, mas iluminada pela visão da linha do horizonte além
das ondas, de um mundo apenas adivinhado para lá do sol poente e inspirará os homens
de aço que tripularão seus navios na mais arrojada empreitada da história
náutica – a era dos Descobrimentos.
A partir daí, o mar domina. Ele será o provedor, o deus
das fortunas, o arauto da glória, a base do poder. Tudo dele vem. E para ele
vai. Vidas, sonhos, esperanças. Até o final do século XVI, Portugal expandirá
seu império do Brasil à Polinésia, cobrindo mais do que o mundo conhecido,
criando feitorias, ensinando o catecismo e praticando a sublime arte da
miscigenação.
Em 1580, D. Sebastião desaparece nas brumas de Alcácer-Quibir
e o sonho acaba. Mas, o Mar Oceano não perde sua magia e sua importância.
Recolhidas as naus das descobertas, os pesqueiros lançam-se às águas e fazem
florescer uma atividade econômica, ao mesmo tempo determinando hábitos
comestíveis que até hoje fazem dos portugueses os maiores consumidores per capita de peixe do ocidente. Sem
falar que, já em 1497, seus barcos caçavam, nos bancos da Terra Nova, o pescado
símbolo da culinária lusa – o bacalhau.
Mulheres vestidas de negro nas areias da Nazaré,
esperando seus homens voltar. Centenas de canções invocando cenas de maresia,
gaivotas e fragatas. Um cacilheiro lentamente atravessando o Tejo. Um rabelo
singrando o Douro. Tudo isso é o mar.
De que Fernando Pessoa escreveu:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal...”
E, falando em Pessoa, aproveito para relembrar o que escrevi há tempos, no link a seguir.
E, falando em Pessoa, aproveito para relembrar o que escrevi há tempos, no link a seguir.
Oswaldo
Pereira
Maio
2013
Comovente! Exatamente porque, apesar do cenário bem desenhado de um Portugal das antigas, nota-se no texto uma "impaciência", exata, para equilibrar o sopro nostálgico.
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