...sem
fazer força.”
Este é o
título da comédia musical que estreou há algum tempo no Oi Casa Grande, no
Rio. Ainda não vi. Mas vi o mesmo
espetáculo em 1964, numa produção que tinha Moacyr Franco, Procópio Ferreira, Marilia
Pêra e Berta Loran nos papéis principais e cuja adaptação para o português fora
feita por Billy Blanco, na parte musical e, nos diálogos, por ninguém menos que
Carlos Lacerda, então Governador do Estado da Guanabara (quem não souber o que
é isto, procure nos livros de história...) Conta a lenda que Lacerda trabalhava
na tradução do texto em plena revolução, enquanto as tropas leais a João
Goulart cercavam o Palácio da Rua Farani.
A peça era a
versão brasileira de How to Succeed in Business Without Really Trying, lançada na Broadway em 1961, baseada no livro homônimo de Shepherd Mead,
publicado dez anos antes e vencedor do Pulitzer.
Foi um
imenso sucesso, rendendo 1.400 apresentações e sete prêmios Tony. Acabou sendo
recriada em 1991, e em 2011, com, respectivamente, Matthew Broderick e Daniel
Radcliffe (isso mesmo, o Harry Potter do
cinema) como protagonistas centrais.
Tanto o
livro quanto a montagem teatral são uma crítica bem-humorada aos livros de auto ajuda
profissional e ao mundo corporativo americano em geral. A trama narra a
história de um certo J. Pierrepont Finch, um limpador de janelas que resolve
por em prática o que lera num manual de regras para subir no mundo empresarial.
As recomendações do livro indicavam que, para alavancar uma carreira brilhante,
eram necessárias três atitudes básicas: mentir, bajular e puxar o tapete de
seus competidores. Munido desses
conselhos, Finch inicia sua subida pelos escalões de uma grande empresa,
empregando os meios preconizados no manual e usando de sua esperteza nata. E consegue,
sem muito esforço, chegar a Presidente do Conselho. Isto, evidentemente, era no
tempo em que o termo “politicamente incorreto” ainda não fora criado.
Quando
assisti ao espetáculo, acabara de ser admitido na General Electric, à época a
maior multinacional dos Estados Unidos. Começo de carreira. E, é claro,
acreditei que a brincadeira era só aquilo mesmo, uma blague com as relações de
trabalho numa grande corporação e que o importante para vencer eram a
competência, a seriedade e uma boa dose de ambição.
Muito tempo depois, após ter trabalhado anos na GE e em outro gigante corporativo, a ITT,
aqui e no exterior, fiquei com a sensação de que, embora as minhas crenças
tenham provado ser, senão a regra, pelo menos ferramentas altamente consideradas
nas tais empresas, vi muita gente parecida com Finch subir rapidamente dentro
do organograma funcional. Eram os espertos,
nem sempre no mau sentido. Eram aqueles que sabiam estar na hora certa no
lugar certo, tinham um agudo faro para falar a coisa exata no momento exato, e
para a pessoa exata. Requer talento, tenho de admitir.
Aliás, certa
vez li uma entrevista de um celebrado gestor de recursos humanos na qual,
perguntado como era capaz de escolher os melhores candidatos a um emprego,
disse que sempre se inspirara nos ensinamentos do marechal de campo prussiano
Helmuth von Moltke, que viveu no século XIX. Von Moltke dividia as pessoas em
quatro categorias, cada uma juntando duas características básicas de
personalidade: inteligente ou tolo e ativo ou preguiçoso.
O
entrevistado prosseguiu dizendo que usava esta classificação para avaliar os
pretendentes e determinar qual deveria ser contratado. Assim, os preguiçosos-tolos eram de ser
descartados logo, pois não tinham qualquer aptidão para o trabalho. Os ativos-tolos
ainda eram piores, pois usavam sua energia para cometer uma sucessão de
erros – um desastre. Nesse momento, o entrevistador concluiu. «Bem, é evidente
que os ativos-inteligentes são a
escolha certa».
«De maneira
nenhuma», reagiu o entrevistado. «Este estragará sua competência por usá-la
demais. Será sempre centralizador, interferirá em tudo. Sua super atividade o
transformará num workaholic da pior
qualidade». E complementou. «O candidato dos meus sonhos é o preguiçoso-inteligente. É aquele que
sempre procurará dispender o menor esforço para cumprir uma tarefa. Assim,
inteligente como é, procurará as soluções mais simples e eficazes para a
resolução dos problemas»
Nada mais
verdadeiro. Eu sei. Eu vi.
Oswaldo Pereira
Maio 2013
Incrível! Não poderia classificar assim, mas sabemos que as soluções simples e eficazes são as melhores, só nunca coloquei aí o preguiçoso.
ResponderExcluirAbraço,
Cleusa.
poder de sintese; isso e inteligência. (sorry, esse teclado francês nao tem til nem acento agudo)
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