sexta-feira, 3 de maio de 2013

PAPO DE BAR - DEMOCRACIA







«Eu? É claro que estou satisfeito. Isto é uma demonstratação de que as nossas instituições estão funcionando. O Legislativo e o Judiciário divergindo, a imprensa relatando livremente a discussão, os cidadãos opinando sem censuras. Quer coisa mais bonita?»











«Beleza... Você deve até ter achado sublime o discurso da Dilma no dia primeiro de maio, em que ela dissertou magnificamente sobre a situação da Dinamarca...»





«Dinamarca?!»

«Sim, porque não deve ter sido do Brasil que ela falou. Altos índices de educação, exemplar distribuição de renda, inflação sob controle...»

«Cara, lá vem você de novo. Tudo bem, você pode não gostar dela e menos ainda do Lula, mas tem de conceder que houve uma revolução social no Brasil nos últimos anos. Mostre-me um país que tenha conseguido criar vinte milhões de empregos em oito anos. Outro do mundo industrializado, além da China e da Índia que ainda usam mão-de-obra escrava, que tenha conseguido continuar crescendo enquanto a Europa e os Estados Unidos entraram em recessão. Ou que tirou quarenta milhões de indivíduos da pobreza e os inseriu na classe média»

«Bem, antes que você saia por aí cantando o Hino Nacional e declamando “porque me ufano do meu país”, deixe-me colocar este seu cenário cor-de-rosa em perspectiva. Prá começo de conversa, toda esta obra gigantesca não foi mérito exclusivo do PT. Quando o grande companheiro assumiu seu primeiro mandato, o trabalho de base para a arrancada já havia sido preparado pelo Governo Fernando Henrique. Foi durante o período FH que o controle da inflação se solidificou, os programas sociais de resgate da pobreza foram montados, as linhas de financiamento municiadas pelas agências federais de crédito. E, entre 2002 e 2007, o mundo experimentou uma fantástica era de crescimento, naturalmente expandindo os mercados externos para os emergentes. Até a tal propalada autossuficiência em petróleo, que o Lula encheu a boca para reivindicar, é fruto dos alicerces técnicos plantados ainda durante a ditadura militar»

«Inacreditável. Você deve ser daqueles que, quando o seu time ganha, o mérito é dos jogadores. Quando perde, é culpa só do técnico. Mesmo que as condições já existissem, como você diz, antes da posse, é preciso conceder que ele teve o mérito de botar a coisa para funcionar»

«Mérito? De que? Este tal aumento da classe média foi conseguido pelo achatamento da própria classe média. Enquanto a base da pirâmide aumentou, o topo esfacelou-se. O que se fez foi uma distribuição perversa de renda, tirando dos que não tinham muito para os que não tinham nada. Dos ricos é que não veio um tostão para financiar as diversas Bolsas criadas pelo Governo. O escalão superior da classe média é que está sendo esmagado pela maior carga tributária do planeta para suportar estas benesses e ainda sustentar o Governo mais inchado e corrupto da história da República»

«Bobagens. A corrupção não é apanágio deste Governo. Sempre existiu, aqui e lá fora. Os programas noticiosos dos Estados Unidos, da França, da Espanha, de Portugal e outros países da Europa gastam pelo menos meia hora todos os dias para falar das maracutaias locais. Há corrupção na Rússia, na Holanda, até no Vaticano. Há pouco descobriram uma rede que “arranjava” resultados das lutas de sumô. Sumô, imagine! Uma das coisas mais veneráveis do Japão...»

«Sim, meu caro. Rouba-se da coisa pública em qualquer lugar. Mas definitivamente não com a voracidade e a falta de punição a que assistimos aqui. O suado dinheirinho dos remediados da nação, em vez de retornar na forma de um razoável serviço de saúde, do aprimoramento da rede pública de ensino, da maior segurança nas grandes cidades, do aumento das infraestruturas básicas de energia, transporte e comunicação, vai para desvãos do poder, para contas bancárias em ilhas da fantasia, para regabofes turísticos, quando não termina em lugares bem mais prosaicos...»

«Quem sabe? Talvez seja o preço da democracia. Irmos depurando aos poucos, corrigindo a rota, melhorando o sistema...»

«Lindo! E você crê realmente que estamos numa democracia...»

«Ora bolas! É claro que sim. Temos o mais sofisticado e eficiente mecanismo eleitoral do mundo. 180 milhões de eleitores. Cada um vota em quem quer, com total liberdade. Como você chama isto, se não de democracia?! E com D maiúsculo»

«Vou refrescar um pouco o que você deve ter aprendido na escola. Democracia, amigão, é o regime político pelo qual o povo exerce o governo através dos seus representantes. Agora, me diga, você que votou com orgulho nas últimas eleições. Quem são os seus representantes, na Assembleia Municipal, na Câmara Estadual, no Congresso, no Senado? Quem são esses caras em que você depositou sua confiança? O que eles estão fazendo para preservar os seus interesses? Qual a linha de comunicação que você tem com eles?»

«Ora, você sabe que não é assim que as coisas acontecem por aqui...»

«É lógico que sei. Sei até mais. Sei que a grande maioria dos eleitores nem se lembra em quem votou. E muito menos se preocupa com o que os seus supostos representantes estão fazendo no exercício de seus mandatos»

«Não exagere. Para os quarenta milhões que melhoraram de vida, compraram sua primeira geladeira, sua primeira TV em cores, construíram seu puxadinho e sua laje, onde fazem seu churrasquinho e bebem sua cerveja no fim de semana, não existe nada melhor do que a situação atual do país. No que lhes diz respeito, a democracia brasileira funciona como um relógio»

«Até precisarem de um hospital e morrerem na fila de atendimento. Até possuírem bens suficientes para verem suas casas saqueadas. Até seus filhos perderem o futuro por falta de escolas. Até extinguirem a capacidade de pagar impostos da classe média mais alta e a fonte dos subsídios secar»

«Você só vê as coisas pelo lado negativo. Somos um país enorme, rico, sem brigas internas nem externas, o maior produtor de grãos da Terra. Somos a sétima economia, temos uma língua única, uma...»

«E Deus é brasileiro, etcetera e tal... Só faltou dizer que temos o melhor futebol do mundo»

«E não é verdade?!»

«Espere até a Copa das Confederações, amigo...»

Oswaldo Pereira
Maio 2013


5 comentários:

  1. Gostaria de sugerir uma ideia para nomear a síntese entre o Assunto Sério e o Papo de Bar ou seja o Papo Sério, para Oswaldo e seus seguidores pensarem sobre um assunto que considero tão ameaçador quanto a violência explícita, ou mais. Já que se está falando sobre a classe média, a classe C, os muito ricos e y otras cozitas más, poque não voltar a atenção para os evangélicos modalidade social, supostamente religiosa, que reúne verdadeiras multidões alicerçadas por um discurso moralista, autoritário e meloso. Por certo muitas manifestações da cultura encobrem uma doença, uma patologia, estrondosos equívocos, mas nada que supere esse segmento que sem dúvida mobiliza enormes recursos monetários. Evidentemente uma relação de puro abuso, onde nada se faz para avaliar e comunicar o risco do crescimento desta prática.

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  2. Considero que mto provavelmente o índice de repressão gerado por dogmas do tipo que se preconizam entre os evangélicos e que por outro lado almejam, autorizam e louvam a prosperidade, o crescimento e a riqueza obtidos com o trabalho, possa vir a ser uma das faces da arrogância com que temos nos defrontado no homem, nas mulheres, e até nas crianças, no cidadão comum das ruas e das cidades de todo o Brasil. E a política está evidentemente se imiscuindo nesse caldeirão, se aproveitando dessa gororoba com sabor de "vitória". Terrível.

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  3. Pois é Caro Primom
    ,
    O FHC com todo o seu estofo poderia ter explicado pras zeslites internacioais que ou elas adquiriam nossas comodities por preços justo e nos vendiam por preços camaradas, ou daria merda, ou LULA, no entender de quem não é Zelite e ainda acha que o Lula nunca se preocupou com essa pobre, infeliz classe média iria dar esse banho de popularidade em todo qe qualquer politico de nossom história. Tá ficando insupórtável, mas fazer o que, enquanto o povo foi deixado em ultimo plano, os companheiros foram muito muito mais eficientes, pois alem de meter a mão, como os antessecessores, souberam agradrarar a palutéia.

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  4. É, Oswaldo,a coisa está tão confusa que não se pode deixar de fazer comentários que mostrem o que é esse governo. Falta tudo aos governantes atuais, conhecimento, cultura, gestão, aproveitar o momento, e parar de mentir.
    É motivo para chorar!!!!!!

    Abraço,
    Cleusa.

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