quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O ELEFANTE NA CASA BRANCA



O recado está dado. Basta olhar o mapa eleitoral dos Estados Unidos. Tirando a costa oeste, dois estados sulistas (Colorado e Novo México), e a Nova Inglaterra, o povo americano mandou sua mensagem ao resto do Mundo. F...K YOU!

Há dois anos, quando Donald Trump apareceu como postulante a uma vaga para concorrer à Presidência pelo Partido Republicano, toda gente achou graça. Inclusive os próprios republicanos. A imprensa troçou, os snobs do Establishment caíram na gargalhada, os comentadores políticos fizeram blagues, os cartoonists tiveram um prato cheio. Tudo era motivo de diversão. O discurso era populista demais, naïve demais. As propostas eram inconsequentes demais, xenofóbas demais. Até o cabelo era louro demais.

Quando estive nos States, em janeiro, Donald Trump já havia comido pelas bordas a maioria dos outros pré-candidatos do Partido e se apresentava como provável candidato à Casa Branca. A TV já não o tratava mais como uma brincadeira. Num texto que escrevi então fiz esta observação.

"En passant. Assisti há dias a uma entrevista do Donald Trump no canal Fox. Aos que acham que ele não passa de um bufão e que suas chances eleitorais são quase nulas, atenção! O cara é extremamente articulado, defende suas posições com os pés no chão e com a cabeça bem firme em cima dos ombros. É perigoso porque não tem nada a perder e diz o que muito americano da Middle America gosta de ouvir. Não estou fazendo qualquer comparação de fundo ideológico, mas ainda em 1933 tinha muita gente na Alemanha que classificava um certo político extremado da Baviera como um bufão e sem a menor hipótese de chegar ao poder."

Agora, ele chegou lá. E o Mundo entra em choque.

Se Trump mantiver a cartilha que usou como plataforma de campanha, os Estados Unidos vão virar mais à direita e privilegiar o Grande Negócio, e serão mais protecionistas e isolacionistas. Desmontará alguns dos legados de Obama, especialmente o Obamacare. Como terá maioria no Congresso, ao contrário de seu antecessor, poderá fazer praticamente o que quiser. China, Comunidade Europeia e NATO terão agora um parceiro indigesto e um negociador impiedoso.

Isto a gente já sabe. Mas, o que me preocupa mesmo é o fato de que Donald Trump chega ao ponto máximo da hierarquia política americana sem jamais ter ocupado sequer um cargo eletivo, seja como Governador ou membro dos congressos, estaduais ou federais. Sua experiência como administrador público é zero. Deverá, portanto, cometer erros. Meio como o proverbial elefante numa loja de louças (não por acaso, o elefante é o símbolo do Partido Republicano...)

Só que a loja é o nosso planeta, e a louça somos nós...

Oswaldo Pereira
Novembro 2016


20 comentários:

  1. Na mosca. Parodiando Marx, A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. Foi o que pensei quando vi o elefante bufão pela primeira vez. Suas ideias absurdas soavam como propostas nacionais socialistas do tipo bolchevique (campo majoritário dentro do partido), isto é puro nazismo. Não viria como farsa como pensei. Estamos à beira do Apocalipse.

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    1. Resta saber qual será o Trump que irá morar na Casa Branca. Se for o bufão arrogante da campanha, estamos fritos. A esperança é que, como Presidente e aprendiz político, ele seja mais "manso"...

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  2. Hoje fiquei estarrecida, pois jamais imaginei que ele fosse eleito.Creio que pela primeira vez vejo os States escolher como aqui no Brasil o menos pior, mas dessa vez escolheram o pior mesmo a meu ver.
    Se ele fizer muita M. e como de hábito lá eles matam os presidentes, isso poderá vir acontecer.O maior problema serão suas políticas externas e isso trará um grande conflito para o mundo. Enfim quem viver verá..... bjs Zezé

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    1. Como disse acima, vamos esperar que "na real" o Trump presidente seja mais estadista do que megaempresário.

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  3. Antonio Azevedo Teixeira9 de novembro de 2016 às 12:43

    Oswaldo
    A eleição de Trump vista pelo ângulo comercial, não é uma catástrofe. A reindustrialização americana, base de sua campanha, trará um ganho de emprego e renda para USA. O Brasil, que tem que resolver primeiro seus problemas, poderá ganhar com o crescimento da demanda de Petróleo e Aço.

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    1. Vamos ter de aprender a negociar com o Governo Trump. Não tenho dúvidas de que ele vai sempre adotar a política de "America first"... Será que vamos ter capacidade (e talento) para fazer valer os nossos interesses?

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    2. Antonio Azevedo Teixeira10 de novembro de 2016 às 12:31

      Você tem toda a razão, mas pior que está , 1% das importações totais americanas, não deve ficar. E brincando com o sério, se Trump fizer loucuras, impedimento nele

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    3. Mas, se ele for "impichado", vem o Pence...

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  4. Concordo, Ozzy!
    Temos que ter muita calma agora e se adaptar a essa nova realidade. Um mundo de oportunidades pode se abrir.

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    1. Como dizem os próprios americanos "when the going gets tough, the tough get going"...

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  5. Pois exatamente a fato de ele nunca ter sido concorrido a nenhum cargo foi um dos que ajudou na vitória..

    Veja aqui o que Michael Moore disse há 5 meses.... todos os 45 pontos aconteceram
    http://michaelmoore.com/trumpwillwin/

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    1. Não gosto do Michael Moore, mas não há dúvida de que ele acertou em cheio. Agora, não ter experiência política pode ter sido um ponto positivo na votação, mas será também um "asset" na hora de governar?

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  6. Jose Antonio S. Bordeira9 de novembro de 2016 às 16:42

    Caro Oswaldo

    Suas colocações sobre Trump no post de janeiro 'O Estado da Nação', aqui reproduzidas, foram pouco observadas pelos analistas; os números finais da eleição muito apertados talvez tenham pregado uma peça nas estatísticas, sobretudo, na última semana. Deu no que deu....
    Agora pergunto: A Antônia já voltou para Nova Iorque? rs...rs...rs...
    Forte abraço.
    Zeca

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    1. Ainda não falei com ela, mas acho que ela vai preferir Ipanema a Long Island (rsrsrs...)

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  7. Quem sabe foi a inexperiência política o que o levou à vitória? Os Republicanos estavam loucos para retornar ao poder e estão muito felizes. Só não sabemos o que acontecerá, é uma ?

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    1. Eu acho que o principal motivo da vitória de Trump foi a fragilidade da campanha de Hillary. Agora, é rezar...

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  8. GOSTEI. Mas tive uma grande grandíssima desilusão! Não é que a alternativa fosse muito melhor, mas pelo menos tinha um CV e saberia o que fazer quer com os apoios quer com a contestação; nunca vi saloio maior que este; cá só o "Tino de Rãs" e mesmo assim proporcional ao mundinho pequenino que somos!
    Só nos reta mesmo "rezar"!

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    1. Os saloios americanos são os cowboys. São perigosos porque carregam uma arma na cintura... Trump vai ter o dedo a centímetros do botão vermelho...

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