Esperei um pouco. Achei melhor deixar a
emoção do momento arrefecer, aguardar a poeira de purpurinas baixar. Respirar
fundo, antes de escrever.
E agora, quase uma semana depois da festa, eu
penso que já posso me arriscar a falar da Cerimônia de Abertura destes XXXI
Jogos Olímpicos. Comecemos pelas expectativas que a antecederam.
Marcada para acontecer num momento nada
propício, a Olimpíada do Rio foi chegando como um desastre anunciado. Na cabeça
de muitos, tanto brasileiros como estrangeiros, havíamos dado um passo maior
que as pernas e, inconsequentes, nos comprometido com algo muito acima da nossa
capacidade e competência. Algo para o qual o jeitinho nacional provaria ser inoperante, expondo-nos ao ridículo e
ao opróbrio, quando nos comparassem com os anfitriões precedentes.
Além das catástrofes vaticinadas sobre a
impontualidade no cronograma de construção das instalações desportivas, sobre
deficiências da malha de transporte coletivo urbano, sobre os problemas de
segurança pública, sobre a inadequação dos meios de transmissão de dados, sobre
a poluição da baia da Guanabara e até sobre a vaia que o nosso Presidente
interino iria receber, o grande receio recaia sobre o espetáculo da Abertura do
Jogos.
Todos citavam com enleio as montagens
anteriores, a Rainha e 007 em Londres, as cores e os dragões de Pequim, a
epopeia mitológica de Atenas. Até a farsa da flecha flamejante em Barcelona e o
ursinho Misha de Moscou eram celebrados. Aquilo
sim é que foi festa..., diziam, murmurando nas entrelinhas a descrença de
que pudéssemos sequer igualar aqueles grandiosos feitos.
Esqueceram-se de um fato importante. Neste
Rio de Janeiro, todos os anos em fevereiro, tem lugar um dos maiores shows do
planeta, com milhares de pessoas evoluindo num mundo de fantasia construído com
isopor, papelão, cola e muita criatividade. Somos craques em colocar na rua um
desfile monumental, um cortejo de carros alegóricos gigantescos, coortes de
ritmistas, alas e mais alas posicionadas como as ondas de um rio que corre no canyon da Sapucaí e conta uma história
mágica. Somos os mestres da improvisação, mas com Carnaval não se brinca. Tudo funciona como um relógio.
Esqueceram-se também da enorme qualidade da
equipe que criou a festa. Fernando Meirelles, Andrucha Waddington, Daniela
Thomas e Deborah Colker já dispensavam apresentações. Seu currículo era
suficiente para garantir pelo menos um voto de confiança antecipado.
E o que se viu foi deslumbrante, agora eu
posso afirmar com a certeza da cabeça fria. E mais. Foi a “nossa” festa. Feita
com a mesma dose de imaginação no uso do simples e barato, a mesma explosão
criativa a partir de recursos escassos. A famosa gambiarra que faz a glória e a majestade das escolas de samba.
Contamos a nossa história, demos o nosso
recado, mandamos uma mensagem para o mundo, e fizemos isso misturando
bossa-nova e Giselle, funk e MPB, índios, descobridores e imigrantes, usando
apenas elásticos, caixas de papelão, computação gráfica e muito, muito talento.
É...
Pensei que a emoção passara. Mas, agora, escrevendo estas mal traçadas
linhas, vem o mesmo nó que travou a minha garganta no momento em que Paulinho
da Viola cantou o hino. Não sei se o decorrer dos Jogos vai trazer à tona alguns,
ou vários, problemas. Espero sinceramente que não. Mas, no quesito Abertura,
não teve para ninguém...
Oswaldo
Pereira
Agosto
2016
Deus te conserve.
ResponderExcluirA nós todos, amem...
ExcluirLindo Tio Oswaldo! Aquele abraço de Lisboa. Filipa
ResponderExcluirBrigadão, Pipas. Pena que você não esteja no Rio neste momento. A cidade está banhada de felicidade e emoção. É difícil dizer que está mais alegre - se os turistas ou os da terra...
ExcluirAdorava estar aí, sobretudo perto de vocês. Beijos
ExcluirTive a mesma sensação que você teve. Que espetáculo para ninguém botar um defeito sequer.Uma história contada de cabo a rabo do Brasil.O que me fez arrepiar foi a homenagem ao Jobim com seu neto Daniel ao piano com o mesmo chapéu que o avô usava, Maravilha. bjs Zezé
ResponderExcluirAchei esta cena tão linda que escolhi a imagem da Bundchen desfilando para encabeçar este texto...
ExcluirBela e majestosa imagem da Gisele, e da festa que foi, realmente, acima de todas nossas certezas. Escolher bem é sinal de inteligência e isso aconteceu. Abraço,
ResponderExcluirCleusa.
Podemos, e devemos, sentirmo-nos orgulhosos...
ExcluirCaro Primo,
ResponderExcluirSe você voltou a sentir o nó na garganta, comigo foram as lágrimas que tomaram meus olho durante o belíssimo espetáculo de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro, que novamente se fizeram presentes quando da leitura de sua crônica.
Já ganhamos algumas medalhas e certamente conquistaremos outras, mas isso já nem importa, depois da festa inaugural e do transcurso organizado e tranquilo dos Jogos Olímpicos na nossa Cidade Maravilhosa. Nesses tempos de tanta decepção e desilusão com o meio político, a realização da Olimpíada nos dão alento e enchem nosso peito de orgulho.
Abraços,
Geraldo
Uma linda prova de que, quando queremos e acreditamos, tudo pode ser feito.
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