«Só pode ter sido uma invenção masculina! »
«Talvez tenha sido, Antonia. E qual é o problema?! Já
criaram o Viagra e seus similares. Por que não criar também uma pílula do
desejo para as mulheres?»
«Quando é que vocês machos vão perceber que nós somos
diferentes, física e psicologicamente?
Nosso corpo responde de outra maneira aos estímulos, sexuais ou não. Não
somos objetivas, imediatistas, nossa cabeça gira de outra forma. Nosso
afrodisíaco compõe-se de inúmeras nuances, depende de ambientes, luzes,
perfumes...»
«Presentes, jóias...»
«Sim, e por que não? Atenção e carinho não fazem mal a
ninguém. Se vocês pensam que uma pílula vai nos ligar e desligar a libido assim
como quem não quer nada, estão muito enganados. Isto pode funcionar para vocês. Aliás,
vocês já andam com isso na cabeça mesmo...»
«Não seja simplista.
É claro que temos o sexo mais na superfície, mas isto tem a sua razão
genética. Vem do tempo da pré-história e da necessidade de preservação da raça.
Era imperativo que o ser humano procriasse rapidamente para sobreviver num
mundo terrivelmente hostil. E a procriação dependia do desejo masculino. Sem
ereção, necas. O cara, então, saia da
caverna para achar comida e correr de volta antes que algum tigre de dentes de
sabre o abocanhasse. Adrenalina a mil. Depois de saciar a fome, só podia pensar
naquilo»
«E o trabalho da mulherzinha, hein? Carregar o bebê na
barriga, parir, amamentar, proteger os filhotes, cuidar das feridas do maridão.
Isto não era também preservar a raça?»
«Sim, claro, mas para o ato em si, a excitação feminina
era irrelevante. Ao contrário dos outros animais, o acasalamento humano não era
comandado pelo cio da fêmea. Nem com isso o macho homem podia contar para
disparar seu tesão. Tinha que ter, como você disse, aquilo permanentemente na cabeça. Foi assim
durante milhões de anos. E a nossa civilização tem só uns seis mil. A
informação ainda é muito recente»
«Quer dizer que temos de aceitar sermos desacordadas
com uma marretada na cabeça, puxadas pelos cabelos até o fundo da caverna e créu... Pois deixa eu te dizer uma
coisa. Nestes tais seis mil anos de civilização, foi a mulher que evoluiu.
Muito mais que vocês. Sofremos em silêncio, fomos subjugadas pela força e pelas
leis durante milênios, desrespeitadas até pela própria família. A nós foram
negadas instrução e cidadania. Em muitos lugares, em pleno século XXI, ainda
assim é. Mas, fomos vencendo. Aos
poucos, devagar, descobrindo trilhas no meio da floresta do preconceito, do
desconhecimento, até do medo. Tivemos de ser prostitutas, escravas, bruxas. Até
que as guerras do século passado nos levaram para as fábricas e para a
independência financeira de um trabalho remunerado e a pílula anti concepcional
nos libertou do fantasma de uma gravidez indesejada»
«Mas nós também evoluímos. O homem de hoje, pelo menos
o homem informado, na maioria dos países, recebe com entusiasmo a participação
da mulher em todos os campos da atividade social. Basta olhar para a política.
Angela Merkel, Cristina Kirchner, a Dilma. E há outras inúmeras que comandam
grandes empresas, são generais das forças armadas. Mandam e seus subordinados
homens obedecem numa boa. E, na verdade, o sexo hoje não é mais exclusivamente
uma iniciativa masculina. É um encontro de vontades. Então, por que não existir
um remédio que aumente o interesse sexual feminino?»
«Não precisamos excitantes em drágeas, queridinho. Mande
flores, elogie, paparique, fale pissilones
no ouvidinho dela. Funciona maravilhosamente. Muito mais que qualquer
pílula, te garanto...»
Oswaldo
Pereira
Maio
2013
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