São
necessárias duas cópias do gene recessivo no cromossoma 16 para causar a
mudança na proteína MC1R. Quando isto acontece, a célula passa a produzir altas
doses de feomelanina, um pigmento
vermelho que irá determinar a cor dos cabelos, a tonalidade da pele, sua baixa
resistência aos raios solares e as indefectíveis sardas. O indivíduo resultante
será ruivo.
O
problema é que, segundo algumas fontes científicas, isto está acontecendo cada
vez menos e a raça dos “cabelos vermelhos” foi declarada em extinção. E eu,
ruivo desde o nascimento até que a idade me branqueasse, lamentei que os meus
“irmãos capilares” estivessem sumindo da face da Terra.
Que
era uma coisa rara, principalmente no Hemisfério Sul onde nasci, eu já
desconfiava desde garoto. O registro familiar me informava que meu avô paterno,
ruivo, gerara, dos seus quatro filhos, apenas uma menina (morta antes que eu
nascesse) com cabelos avermelhados. Dos 23 netos (isto mesmo, vinte e três), só
este que vos escreve veio ao mundo com os cabelos cor de cobre claro e
sardento. Na minha descendência, isto se repetiu. Como nenhum de meus três
filhos herdou a cor, só um neto meu (de cinco) repetiu exatamente meu matiz
capilar. Quer dizer, apenas uma ocorrência em oito.
Dado que nem nas escolas e nem nos meios sociais que frequentei até a adolescência havia
muitos ruivos (na verdade, só conheci um no imenso Santo Inácio), sempre me
senti meio diferente dos demais.
Apelidos abundavam. Ovo de tico-tico,
canarinho cabeça-de-fogo, cenourinha eram os mais amigáveis. Quando a coisa
baixava de padrão, uma outra característica dos vermelhos aflorava em mim – o temperamento fogoso. Ou seja, eu
partia para a briga.
Para
acalmar um pouco as coisas, recordo que meu pai me levou certa vez para
assistir a um filme sobre preconceito. Chamava-se The Boy
with Green Hair (O Menino de Cabelos Verdes) e contava a história de um
órfão cujos cabelos ficam inexplicavelmente verdes ao saber da morte dos pais
nos bombardeios de Londres. Dirigido pelo renomado Joseph Losey e estrelado por
um Dean Stockwell menino no papel título, é uma linda parábola sobre a
intolerância da sociedade com o diferente.
Havia uma cena que gravei para sempre. No seu primeiro dia de aula após os
cabelos terem-se tornado verdes, há uma rejeição dos colegas. E ele, para
defender-se, aponta para um deles que também tinha uma cor incomum. Era um
único ruivo. Senti-me imediatamente parte do filme e do problema.
No
final da adolescência, já mais seguro, comecei a perceber alguns dividendos no
fato de possuir cabelos mais claros que a maioria. Para uma generosa porção do
sexo oposto, isto devia causar um certo reboliço, pois seus olhares começaram a
enviar mensagens mais do que convidativas. Em outras palavras, começou a chover na minha horta. Uma prazerosa
sina com muitos frutos...
Ao
mesmo tempo, charmosas histórias sobre a origem dos red hair foram aparecendo, os valorosos celtas que haviam habitado
o norte de Portugal (de onde viera meu avô). Grandes personagens da História,
como Barbarossa, o viking Erik, Galileu, Vivaldi e até Aquiles e Maomé eram
descritos como ruivos. Boas companhias.
Quando comecei a viajar pelo mundo, acabei por descobrir terras em que eu praticamente
desaparecia numa multidão de ruivos. Foi assim, principalmente, num acolhedor
país chamado Irlanda, que mais acolhedor ficou para mim pois todos me olhavam
como um nativo. Há lá tantos que passei a duvidar do vaticínio sobre o
desaparecimento da minha gente.
Aliás,
e a propósito, já li que essa propalada teoria seria uma tremenda armação, uma mentira espalhada pela
Procter & Gamble para aumentar as vendas de um determinado corante para
cabelos.
Tomara
que assim seja.
Oswaldo
Pereira
Julho
2014
Osvaldo, realmente a quantidade de "ruivos" diminuiu muito, em todo lugar, mas na nossa querida terrinha, existem 3 meninas, irmãs, hoje senhoras, todas ruivas e chamadas de "canarinhas" e que eram da pá virada. Em minha próxima viagem a Parisguaçu, vou procurar saber das ruivas, e se tem filhos com a mesma cor de cabelo. Mas na nossa juventude você já chegava com 3x0 na nossa frente, pois tinha carro, falava diferente e era canarinho. Saudações rubro-negras, grande abraço do Thomaz.
ResponderExcluirCaro Thomaz, me lembro perfeitamente das "canarinhas" de má fama...Por causa delas, a turma de Machado e Eloi Mendes me brindava com alguns epítetos menos elegantes, o que era motivo de muito quebra-pau à frente do Democrata ou do Ideal...Você deve ter presenciado vários... Grande abraço
ExcluirSua memória é bem melhor que a minha. Lembro-me perfeitamente daqueles quebra-paus e os motivos eram sempre as "gatas" daquela época. Ainda bem que recordar é viver. Abraço
ExcluirA música interpretada por Nat King Cole era "There was a boy, a very very strange and chatty boy... E o Dean Stockwell hoje um careca de nossa idade ainda atua em vários filmes.
ResponderExcluirRealmente uma música maravilhosa, composta por um maluco chamado Eden Abbez, chamada Nature Boy (escrevi sobre isto num post intitulado "Genialidade" em abril de 2013. Se puder, acesse)
ExcluirNão entendo essa de perfil, o comentário não é anônimo. Sou o João Lustosa. Abraços.
ResponderExcluirAcabo de escrever o comentário e não foi publicado. Disse que acho lindo o cabelo ruivo, lembro de ter somente uma colega de colégio e, para dizer a verdade, tinha vontade que fosse o meu cabelo. E, olha que meu cabelo era louro bem claro. Também li que os ruivos estão em extinção mas não em certos países como a Irlanda. Abraço.
ResponderExcluirGrande Oswaldo
ResponderExcluirFantástico como você consegue passear por tema que nem pareceria ensejar uma crônica.
Mas, e agora que suas madeixas acobreadas já estão a caminho do prateado??
Grande Abraço
Zé Correa
Amigo Zé, "A caminho"? bondade sua.... Atualmente, já há mais "neve" do que "cobre"...
ExcluirGrande abraço,
Fifi Morena sempre achou que você tinha um toque especial por ter cabelos ruivos ! Charmant Monsieur Petite Carotte ! Et les années passent ...
ResponderExcluirHélas! et ils passent trop vite...
ExcluirÉ, o meu comentário de ontem também não foi publicado.Repito, em síntese: ruivos no Santo Inácio entre 1952 e 1959 havia mesmo poucos. Na turma do Oswaldo, só o Dario. Mas havia dois padres ruivos nessa época, o Maia e o Ruffier. Nunca fui ruivo, mas fui sardento e também fui chamado de ovo de peru, enferrujado, arroz doce com canela, onça e outras amabilidades do gênero.
ResponderExcluirLembro-me do Ruffier, claro. Foi Padre Prefeito depois do extraordinário Padre Barreto. O Padre Maia deve te ficado pouco tempo, pois não me recordo dele (era um que ensinava Português no Primeiro ano do Ginásio?) De qualquer maneira, apelidos ou não, eram tempos maravilhosos.
ExcluirNão entendi nada. Acabo de fazer o comentário, ciquei e não saiu? Bom, vou tentar novamente. Encontrei com um amigo que estava com a filha uma ruivinha linda e o filho também.Perguntei para ele se era da família da mulher ou dele.Respondeu: das duas famílias. Aí vem o pensamento: os ruivos não vão acabar, é que conhecemos poucos. E espero que seja assim porque são muito lindos.
ResponderExcluirAbraço, Cleusa.
Pois é espero que esta coisa do"nosso" desaparecimento seja mesmo uma brincadeira. E tomara que o meu neto ruivo Daniel tenha muitos descendentes....
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