O grande espetáculo termina. O pano cai.
E os números estão aí. Em termos esportivos, foi
uma das melhores Copas de todos os tempos. O público total nos estádios superou
a marca de 3,5 milhões, com a maior média por partida (53,6 mil) desde 1994. A
quantidade de tentos marcados igualou o recorde de 1998: 171 gols. Ganhou o
país que talvez tenha investido mais na sua preparação para o torneio e serão
sempre lembradas as sensacionais participações de times surpreendentes, como a
Costa Rica, que vieram demonstrar que se joga bem o futebol em qualquer parte
do planeta.
Em termos de acolhimento também. Fomos anfitriões
impecáveis e este talvez seja o grande legado, senão o único – o povo deste
país encantou a todos os que nos visitaram e mandou uma rica mensagem de
simpatia mundo afora, cujos dividendos em termos de maior interesse turístico
estrangeiro deverão ser contabilizados no futuro.
Mas, para nós brasileiros, ficou um gostinho mais
do que amargo. Era a Copa em casa, a revanche de 1950, a reafirmação do nosso
talento futebolístico, a nossa grande vitória. A torcida estava pronta,
cantando o Hino a plenos pulmões, a esperança num sorriso tão grande quanto o
próprio país. O revés foi brutal, doeu e vai deixar marcas que nos incomodarão
por um largo tempo, juntamente com a conta que ficou para pagar, os elefantes
brancos dos estádios milionários que não gerarão receita, o espetáculo triste
de campeonatos nacionais e estaduais medíocres, da conversa fiada do “vamos
mudar, vamos investir na melhoria do esporte, etecetera e tal...”, dita por
homens que não farão nada, até porque o buraco é mais embaixo e está inserido
na corrupção endêmica que nos assola.
Por qualquer prisma estatístico, a seleção foi
muito mal. Errou 80% dos passes decisivos, finalizou menos e sofreu mais gols
do que em todas as outras Copas. E nunca, nestes 100 anos de existência, levou
uma goleada tão humilhante. Se estivéssemos no Japão dos samurais, a Comissão
Técnica teria de cometer hara kiri, para
redimir sua honra. Se a CBF fosse uma empresa privada, seriam todos
sumariamente demitidos. Se Luís Felipe Scolari quisesse ser honesto e assumisse
realmente a responsabilidade pelo
fracasso, já deveria ter entregado o cargo e devolvido a grana que recebeu como
treinador do time. Nunca mostramos tamanha incompetência técnica e tática.
Só nos resta desinflar
esta nossa excessiva entrega ao futebol. Chega de tanta bajulação, tanta babação, tanta tietagem. E, finalmente, chega de conceder títulos indevidos.
Felipão nunca foi pentacampeão. Ele
ganhou, como técnico, o título do Mundial em 2002 e isto o faz apenas campeão
daquele ano. Da mesma forma, Bebeto e Romário NÃO são tetracampeões. O Brasil é. Eles não.
Aliás, pensando bem, nem o Brasil é. Nem PENTA,
nem TETRA. E nem TRI. Raciocinem comigo. Quando se fala em tri campeonatos, no
futebol carioca, por exemplo, recorda-se a campanha do Flamengo em 1953, 1954 e
1955 e, mais recentemente, em 2007, 2008 e 2009; do Vasco em 1992, 1993 e 1994 e
do Fluminense em 1983, 1984 e 1985. Ou o
do São Paulo no Brasileirão em 2006, 2007 e 2008. O adjetivo é devido porque os títulos foram em sequência. Essa bobagem de chamar o
Brasil de TRI começou na Copa de 70. O país havia sido, de pleno direito, BI
CAMPEÃO em 1962, pois vencera o certame anterior, em 1958. Esperava-se que
vencesse também em 1966, mas todos sabem que a atuação brasileira foi
fraquíssima (saiu ainda na Fase de Grupos). Quando voltou a ganhar no México, o
famoso jeitinho brasileiro resolveu
subverter a realidade e celebrou indevidamente um TRI fajuto. Então, vamos
combinar. Nunca teve TRI e, claro, nem TETRA, nem PENTA. E nem terá HEXA, a não
ser que a seleção canarinha vença TODOS os campeonatos mundiais entre 2018 e
2038...
Oswaldo
Pereira
Julho
2014
Pra mim o pior dessa Copa foi dar de cara com o Neymar de cuecas meeeses, na porta de uma loja ao lado de onde costumo almoçar numa Galeria no Leblon. O que será que ele vai "vender" agora. ?????
ResponderExcluirCaro Osvaldo, gostei de só agora conhecer o seu lado de "torcedor" e gostaria de saber a sua preferência. Torce para qual time? Continue com as crônicas sobre futebol em geral, pois esta de hoje está ótima. Grande abraço do Thomaz.
ResponderExcluirCaro Thomaz,
Excluir"Flamengo sou de coração, Flamengo até debaixo d'água..." dizia um antigo hino do Mengo. Pois é, sou rubro-negro de pai e mãe. E de filhos e netos também..
Eu não pensei nisso : para ser tri-campeão tem-se que ganhar 3 vezes SEGUIDAS e assim vai ... legal!
ResponderExcluirSua crônica esta otima, esclarecedora, verdadeira !
Agora, vamos cair na real e pensar em outra coisa mais util para o pais. Chega de feriados inuteis.
Quem ganhou a Copa o mereceu pois era a melhor equipe ! Que o melhor ganhe ! Sempre !