domingo, 13 de julho de 2014

ACABOU...






O grande espetáculo termina. O pano cai.

E os números estão aí. Em termos esportivos, foi uma das melhores Copas de todos os tempos. O público total nos estádios superou a marca de 3,5 milhões, com a maior média por partida (53,6 mil) desde 1994. A quantidade de tentos marcados igualou o recorde de 1998: 171 gols. Ganhou o país que talvez tenha investido mais na sua preparação para o torneio e serão sempre lembradas as sensacionais participações de times surpreendentes, como a Costa Rica, que vieram demonstrar que se joga bem o futebol em qualquer parte do planeta.

Em termos de acolhimento também. Fomos anfitriões impecáveis e este talvez seja o grande legado, senão o único – o povo deste país encantou a todos os que nos visitaram e mandou uma rica mensagem de simpatia mundo afora, cujos dividendos em termos de maior interesse turístico estrangeiro deverão ser contabilizados no futuro.

Mas, para nós brasileiros, ficou um gostinho mais do que amargo. Era a Copa em casa, a revanche de 1950, a reafirmação do nosso talento futebolístico, a nossa grande vitória. A torcida estava pronta, cantando o Hino a plenos pulmões, a esperança num sorriso tão grande quanto o próprio país. O revés foi brutal, doeu e vai deixar marcas que nos incomodarão por um largo tempo, juntamente com a conta que ficou para pagar, os elefantes brancos dos estádios milionários que não gerarão receita, o espetáculo triste de campeonatos nacionais e estaduais medíocres, da conversa fiada do “vamos mudar, vamos investir na melhoria do esporte, etecetera e tal...”, dita por homens que não farão nada, até porque o buraco é mais embaixo e está inserido na corrupção endêmica que nos assola.

Por qualquer prisma estatístico, a seleção foi muito mal. Errou 80% dos passes decisivos, finalizou menos e sofreu mais gols do que em todas as outras Copas. E nunca, nestes 100 anos de existência, levou uma goleada tão humilhante. Se estivéssemos no Japão dos samurais, a Comissão Técnica teria de cometer hara kiri, para redimir sua honra. Se a CBF fosse uma empresa privada, seriam todos sumariamente demitidos. Se Luís Felipe Scolari quisesse ser honesto e assumisse realmente a responsabilidade pelo fracasso, já deveria ter entregado o cargo e devolvido a grana que recebeu como treinador do time. Nunca mostramos tamanha incompetência técnica e tática.

Só nos resta desinflar esta nossa excessiva entrega ao futebol. Chega de tanta bajulação, tanta babação, tanta tietagem. E, finalmente, chega de conceder títulos indevidos. Felipão nunca foi pentacampeão. Ele ganhou, como técnico, o título do Mundial em 2002 e isto o faz apenas campeão daquele ano. Da mesma forma, Bebeto e Romário NÃO são tetracampeões. O Brasil é. Eles não.

Aliás, pensando bem, nem o Brasil é. Nem PENTA, nem TETRA. E nem TRI. Raciocinem comigo. Quando se fala em tri campeonatos, no futebol carioca, por exemplo, recorda-se a campanha do Flamengo em 1953, 1954 e 1955 e, mais recentemente, em 2007, 2008 e 2009; do Vasco em 1992, 1993 e 1994 e do Fluminense em 1983, 1984 e 1985.  Ou o do São Paulo no Brasileirão em 2006, 2007 e 2008.  O adjetivo é devido porque os títulos foram em sequência. Essa bobagem de chamar o Brasil de TRI começou na Copa de 70. O país havia sido, de pleno direito, BI CAMPEÃO em 1962, pois vencera o certame anterior, em 1958. Esperava-se que vencesse também em 1966, mas todos sabem que a atuação brasileira foi fraquíssima (saiu ainda na Fase de Grupos). Quando voltou a ganhar no México, o famoso jeitinho brasileiro resolveu subverter a realidade e celebrou indevidamente um TRI fajuto. Então, vamos combinar. Nunca teve TRI e, claro, nem TETRA, nem PENTA. E nem terá HEXA, a não ser que a seleção canarinha vença TODOS os campeonatos mundiais entre 2018 e 2038...


Oswaldo Pereira

Julho 2014

4 comentários:

  1. Pra mim o pior dessa Copa foi dar de cara com o Neymar de cuecas meeeses, na porta de uma loja ao lado de onde costumo almoçar numa Galeria no Leblon. O que será que ele vai "vender" agora. ?????

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  2. Caro Osvaldo, gostei de só agora conhecer o seu lado de "torcedor" e gostaria de saber a sua preferência. Torce para qual time? Continue com as crônicas sobre futebol em geral, pois esta de hoje está ótima. Grande abraço do Thomaz.

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    1. Caro Thomaz,
      "Flamengo sou de coração, Flamengo até debaixo d'água..." dizia um antigo hino do Mengo. Pois é, sou rubro-negro de pai e mãe. E de filhos e netos também..

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  3. Eu não pensei nisso : para ser tri-campeão tem-se que ganhar 3 vezes SEGUIDAS e assim vai ... legal!
    Sua crônica esta otima, esclarecedora, verdadeira !
    Agora, vamos cair na real e pensar em outra coisa mais util para o pais. Chega de feriados inuteis.
    Quem ganhou a Copa o mereceu pois era a melhor equipe ! Que o melhor ganhe ! Sempre !

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