quinta-feira, 10 de julho de 2014

COPA DAS COPAS






Precipitei-me. No último post, acreditei que esta Copa seria marcada pela atuação dos fantásticos goleiros que deslumbraram o mundo com suas incríveis defesas. Erro meu. O Mundial de 2014, cada vez mais a Copa das Copas, será lembrado para sempre por outra coisa.

Como já escrevi algumas vezes neste blog, eu vivi o Campeonato de Futebol de 1950. Hoje, 64 anos depois, sinto ainda, como se hoje fosse, a decepção do Maracanazo. Ficou gravada na alma, não só minha, mas de todos os brasileiros que habitavam este planeta no dia, a derrota. Tanto é verdade que, toda vez que um Campeonato Mundial acontece, as emissoras de televisão nacionais trazem de volta às telas as velhas imagens em preto e branco, tremidas pelo tempo, de Ghiggia se aproximando do gol do Brasil, da bola escura estufando a rede, de Barbosa lentamente se reerguendo do chão. Mesmo depois de todas as conquistas posteriores, de cinco vitoriosas e inesquecíveis campanhas, de seleções que encantaram as gerações subsequentes, o espectro daquele longínquo 16 de julho sempre voltou a assombrar. Uma Copa perdida em casa, deixada escapar-se aos 34 minutos do segundo tempo. E olhe que foi só 2 a 1...

O que aconteceu terça-feira passada no Mineirão suplantará para a eternidade a lembrança doída de 1950. E não será pelo fato de termos perdido. Uma derrota “normal” para a Alemanha, um placar apertado, numa prorrogação ou nos pênaltis teria um impacto desagradável para nós, sim, mas seria algo moderado, “aceitável”, até compreensível. Entraria, claro, para a História, mas com fatalismo, como um verbete de fácil assimilação nas enciclopédias do esporte. O problema foi COMO aconteceu. O espantoso diferencial foi o desaparecimento de um time em campo, a falência total de um suposto esquema tático, o escuro psicológico que envolveu os brasileiros no gramado, principalmente nos fatídicos seis minutos em que a Alemanha ampliou a goleada.

Outra recordação que ficou de 1950 foi o silêncio de um Maracanã de 200.000 pessoas.  De terça-feira, ficará a visão da torcida atônita e depois aos prantos, dos olhos aterrorizados dos jogadores, da perplexidade que atingiu a todos como um tsunami cruel e inesperado.

Para mim, o que marcará esta Copa será a imagem indelével do menino de óculos, segurando um copo de refrigerante, o choro solto saindo desamparado e incontrolável, o estilhaçar de uma ilusão infantil. Deve ter a mesma idade que eu tinha em 1950. Por isso, eu sei como é...


Oswaldo Pereira

Julho 2014

5 comentários:

  1. É isso aí, Oswaldente... Espero que esse vexame nunca seja suplantado!!!

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  2. Sou como o senhor anónimo! Uma desgraça...sem comentários (para Portugal e Brasil) !

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  3. Pois é Oswaldo, nãofoi a derrota que até certo ponto já era esperada, mas a forma como aconteceu.
    Mas, como você, eu também pensei na frustação das crianças, porque nós adultos já deglutimos bem esses reveses. A imagem citada por você foi de fato marcante.
    Abraço
    Zé Correa

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  4. Concordo.
    E o pior é termos que ouvir as inúmeras piadas sobre a goleada E a euforia dos alemães em jornal, rádio, televisão, internet... Não temos para onde fugir! Pior q isso é pensar que existe a possibilidade (remota, espero) da Argentina ser campeã no Maracanã. Ninguém merece.
    Bj,
    Ingrid

    P.S.: a imagem do menino chorando também me deu um aperto no coração. Muito triste.

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