Precipitei-me.
No último post, acreditei que esta
Copa seria marcada pela atuação dos fantásticos goleiros que deslumbraram o
mundo com suas incríveis defesas. Erro meu. O Mundial de 2014, cada vez mais a
Copa das Copas, será lembrado para sempre por outra coisa.
Como já
escrevi algumas vezes neste blog, eu
vivi o Campeonato de Futebol de 1950. Hoje, 64 anos depois, sinto ainda, como
se hoje fosse, a decepção do Maracanazo. Ficou
gravada na alma, não só minha, mas de todos os brasileiros que habitavam este
planeta no dia, a derrota. Tanto é verdade que, toda vez que um Campeonato
Mundial acontece, as emissoras de televisão nacionais trazem de volta às telas
as velhas imagens em preto e branco, tremidas pelo tempo, de Ghiggia se
aproximando do gol do Brasil, da bola escura estufando a rede, de Barbosa
lentamente se reerguendo do chão. Mesmo depois de todas as conquistas
posteriores, de cinco vitoriosas e inesquecíveis campanhas, de seleções que
encantaram as gerações subsequentes, o espectro daquele longínquo 16 de julho
sempre voltou a assombrar. Uma Copa perdida em casa, deixada escapar-se aos 34
minutos do segundo tempo. E olhe que foi só 2 a 1...
O que
aconteceu terça-feira passada no Mineirão suplantará para a eternidade a
lembrança doída de 1950. E não será pelo fato de termos perdido. Uma derrota
“normal” para a Alemanha, um placar apertado, numa prorrogação ou nos pênaltis
teria um impacto desagradável para nós, sim, mas seria algo moderado,
“aceitável”, até compreensível. Entraria, claro, para a História, mas com
fatalismo, como um verbete de fácil assimilação nas enciclopédias do esporte. O
problema foi COMO aconteceu. O espantoso diferencial foi o desaparecimento de
um time em campo, a falência total de um suposto esquema tático, o escuro
psicológico que envolveu os brasileiros no gramado, principalmente nos fatídicos
seis minutos em que a Alemanha ampliou a goleada.
Outra
recordação que ficou de 1950 foi o silêncio de um Maracanã de 200.000
pessoas. De terça-feira, ficará a visão da torcida atônita e depois aos prantos, dos olhos aterrorizados dos
jogadores, da perplexidade que atingiu a todos como um tsunami cruel e
inesperado.
Para mim, o
que marcará esta Copa será a imagem indelével do menino de óculos, segurando um
copo de refrigerante, o choro solto saindo desamparado e incontrolável, o
estilhaçar de uma ilusão infantil. Deve ter a mesma idade que eu tinha em
1950. Por isso, eu sei como é...
Oswaldo Pereira
Julho 2014
Sem comentarios
ResponderExcluirÉ isso aí, Oswaldente... Espero que esse vexame nunca seja suplantado!!!
ResponderExcluirSou como o senhor anónimo! Uma desgraça...sem comentários (para Portugal e Brasil) !
ResponderExcluirPois é Oswaldo, nãofoi a derrota que até certo ponto já era esperada, mas a forma como aconteceu.
ResponderExcluirMas, como você, eu também pensei na frustação das crianças, porque nós adultos já deglutimos bem esses reveses. A imagem citada por você foi de fato marcante.
Abraço
Zé Correa
Concordo.
ResponderExcluirE o pior é termos que ouvir as inúmeras piadas sobre a goleada E a euforia dos alemães em jornal, rádio, televisão, internet... Não temos para onde fugir! Pior q isso é pensar que existe a possibilidade (remota, espero) da Argentina ser campeã no Maracanã. Ninguém merece.
Bj,
Ingrid
P.S.: a imagem do menino chorando também me deu um aperto no coração. Muito triste.