quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A FORÇA DE UM SONHO



250.000 PESSOAS EM FRENTE AO LINCOLN MEMORIAL



O dia 28 de agosto de 1963 marcou a cerimônia de encerramento de um movimento popular nos Estados Unidos denominado March on Washington for Jobs and Freedom (Marcha sobre Washington por Empregos e Liberdade). Iniciada na Georgia, a marcha deslocou centenas de milhares de manifestantes, na maioria negros, ganhando adeptos ao longo do caminho até que, ao chegar à Capital, reunia mais de 250.000 pessoas. O foco da demonstração era o protesto contra a situação do negro na sociedade e a constatação de que, exatos cem anos após a Emancipation Proclamation (Proclamação de Emancipação, equivalente à nossa Lei Áurea), os indivíduos de cor diferente da branca ainda sofriam com uma brutal discriminação da linha Dixie para baixo (ou seja, o sul dos Estados Unidos). Eram obrigados a sentar nos últimos bancos dos coletivos, não tinham acesso às melhores escolas, aos melhores empregos; eram barrados em clubes, bares, restaurantes. No Mississippi, nem direito a voto tinham. A melhor parte do milagre americano lhes estava negada pelos sinais de Whites Only (Só para Brancos).

O evento constituiu-se de uma série de discursos dos líderes do movimento para a imensa multidão espraiada em frente ao Lincoln Memorial, local escolhido por ter sido Abraham Lincoln o grande campeão da causa da libertação dos escravos. Foram dezesseis oradores. Mas foi o último a falar que marcou para sempre o dia. A oração de Martin Luther King Jr., já conhecido no país todo como figura emblemática das pretensões de sua raça, passou à história como o mais inspirador discurso americano do século XX, eternizando-se como o I Have a Dream Speech (Discurso do Eu Tenho Um Sonho).

O texto lido pelo Reverendo King já era singularmente empolgante, mas a dramaticidade de sua voz multiplicou o efeito várias vezes. Lançando mão de várias anáforas, isto é, a repetição de algumas frases incitantes, como now is the time (agora é a hora), we can never be satisfied (não poderemos jamais estar satisfeitos) e let Freedom ring (deixe a Liberdade soar) e citando trechos da Declaração da Independência e da Constituição, King eletrizou a audiência. Já estava chegando ao final do texto quando aconteceu o raio mágico que distingue a mera revelação de uma divinal epifania. Foi quando a cantora Mahalia Jackson gritou da multidão: Tell them about the Dream, Martin (Conte-lhes do Sonho, Martin).

O Reverendo abandonou a leitura e começou a improvisar sobre o tema, repetindo a frase I Have a Dream e descrevendo o seu sonho, uma ode sobre a liberdade, a tolerância, a igualdade perante a lei e a vida, a esperança de um povo, o orgulho da cor, terminando com o arrepiante grito sobre a promessa que via no futuro: Free at last, good God Almighty, free at last (Libertos enfim, Bom Deus Todo Poderoso, libertos enfim). Esta é a parte do improviso final:


 



Martin Luther King foi assassinado em 1968. Mas hoje, cinquenta anos depois de seu sonho, Barack Hussein Obama, um negro de nome árabe, é o Presidente dos Estados Unidos.

 

Oswaldo Pereira
Agosto 2013

 

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