Há dois
Agostos.
Neste prá-lá-prá-cá da minha vida, dançando entre os dois hemisférios
ao sabor das marés e dos desígnios, vivo os dois. E dá para perceber que este é
o ponto do calendário em que a disparidade das estações trocadas mais revela
seu paradoxo geográfico. Solares ou glaciais. Não há meio termo.
No
setentrião, no verão modorrento que marca o mês, uma brisa morna costuma
acariciar as velas. Em qualquer tarde estendida no tempo, um barco segue, rumo
ao mar, sua silhueta elegante e branca deslizando no azul profundo, fiel ao
rumo traçado em seu timão, vento e leme definindo seu destino, seu futuro. Nas
praias coloridas pelas gentes, as dunas suspiram, aspergindo sua areia fina e
quente, assumindo as novas formas que o nordeste brando lhes desenha. Na beira
d'água, fluxo e refluxo brincam em seu vai vem infinito, sem pressas e sem
invenções, imutáveis e impassíveis. O sol demora a ir-se deitar, espreguiçando
num céu infinito. Que azul é esse?... Me pergunto às vezes, duvidando das lentes
de meu ray-ban. Sol, sal e céu, à
espera de um setembro ainda insuspeitado, ainda atrás da linha do horizonte.
São dias vividos com a intensidade da luz forte que tudo promete, menos durar
para sempre.
Abaixo do
Equador, é chuva fina. São poentes doloridos, longínquos em sua tristeza
púrpura, recebendo a noite que chega cedo. O sol trabalha pouco, descumprindo
horários, faltando com frequência ao serviço por dias a fio. O tom é menor, o
brilho escasso, o vento gélido. É tempo de cobertor enrolando uma tarde escura
e melancólica, de ruas molhadas e desertas. Sem o alento de um céu claro, as
almas procuram a si mesmas para companhia. É tempo de introspeção. Mas, como
ninguém gosta de sofrer continuadamente, há atenuantes maravilhosos. Chocolate
quente, uma panela de substância no fogo lento, um vinho despejando seu carmim
nobre em taças guardadas por meses; o ar fino que afasta a preguiça mole do
verão que se foi, uma sinfonia tocando baixinho no silêncio das janelas
fechadas. E a certeza de que o mau tempo, também ele, não durará.
Oswaldo
Pereira
Agosto
2013
É, Oswaldo, sua crônica nos faz enxergar as diferenças, nosso olhar vê o que acontece , há realmente dois agostos.
ResponderExcluirAbraço,
Cleusa.