Gaius Iulius Caesar Octavianus foi o primeiro e mais longevo Imperador romano. Nascido
numa antiga família da aristocracia rural em 63 a.C., foi adotado por seu
tio-avô Julio Cesar, postumamente após a morte deste nos idos de março de 44
a.C., tornando-se herdeiro de uma incalculável fortuna e de um poderoso
cacife político. Fez parte do Segundo Triunvirato, intitulado Triunvirato com Poderes Consulares para
Confirmação da República, irônico nome criado nos estertores dela, com
Marco Antônio e Lépido, dividindo entre si o comando das diversas regiões do
mundo romano. Como todo mudo sabe, Marco Antônio foi para o Egito e caiu de
amores por Cleópatra. Lépido foi para a Espanha, desentendeu-se com Otaviano e
foi apeado de seu mandato por um obediente Senado.
Em 31 a.C., Otaviano derrota Cleópatra e Marco Antonio na batalha naval de Actium. Os dois amantes se suicidam e ele finalmente abocanha o poder supremo em Roma, irresistivelmente marchando para o posto de Imperador, adotando o nome pelo qual passaria à História – Augustus. A República morre; nasce o Império Romano.
Nos anos seguintes, Augusto demonstra seus bons dotes de administrador
recuperando um país enfraquecido pelas sucessivas guerras civis e cansado
delas. Tem a seu favor que as fronteiras estão bem guardadas e em calma
relativa, e o fornecimento de grãos acontece sem sobressaltos. Pelas próximas
quatro décadas, ele consolidará este domínio, fortalecerá o exército, remodelará
Roma e as cidades vizinhas, construirá estradas. É a Pax Romana no seu melhor.
E promoverá festas, para manter a patuleia
feliz. Em 18 a.C., às já tradicionais festividades da Vinalia Rustica e da Consualia,
celebrações que marcavam o fim do árduo trabalho do campo durante o Sextilis, sexto mês do calendário
romano, ele institui as Feriae Augusti, um
autêntico carnaval com corridas de cavalo, largada de touros, confraternizações
entre patrícios e servos e muito, muito vinho. Como os festejos de Momo, também
duravam três dias, com seu auge no dia 15.
A tradição arraigou-se. Mesmo depois do desaparecimento do poder de Roma,
pelos séculos da Idade Média, ela subsistiu, vindo a ganhar novo alento no
Renascimento, inspirando danças, cortejos e jogos, como o Pálio de Siena e as
esperas de toiros na Península Ibérica. Preocupada com o caráter pagão da farra
e impotente para manter seus fiéis longe dela, a Igreja resolveu revestí-la de
significado religioso, estabelecendo o feriado da Assunção de Nossa Senhora.
O mês Sextilis virou Agosto, em
homenagem ao Imperador. Na Itália, as feriae
Augusti viraram ferragosto. E o dia 15 tornou-se o dia em que os italianos, em
massa, iniciam sua temporada al mare, no
campo ou nas montanhas. Principalmente, depois da década de 1920.
Vendo na tradição as mesmas vantagens políticas que Augusto vira há dois
mil anos, ou seja, manter o povo feliz, o governo fascista de Mussolini passou
a incentivar o êxodo das cidades para as praias, para as delícias da culinária
campestre, para o frescor dos Alpes e dos Apeninos, naqueles dias abafados de
verão. Deu descontos nas passagens de trens, nas diárias dos albergues
públicos, remodelou estradas. O objetivo era tirar a classe mais baixa de suas
casas e motivá-la a conhecer melhor seu país, suas maravilhas naturais, sua
cozinha regional. Muitos iam ver o mar pela primeira vez.
Meu primeiro contato com o ferragosto
foi em 1965, quando fui morar em Milão. Chegara no final de julho e ainda
me adaptava. De repente, no dia 15 de agosto, acordei com a cidade vazia. E com
tudo fechado. Restaurante, bares, lojas, farmácias. Em todos, um aviso na
porta: Ritorniamo in Settembre (voltamos
em setembro). A vida mudara-se para o litoral lígure, para os lagos, para
Rimini. Não tive outra alternativa a não ser tomar um trem e partir para as
praias lotadas. E tentar achar um lugar ao sol.
PRAIA ITALIANA NO FERRAGOSTO |
Oswaldo Pereira
Agosto 2013
Interessante, não conhecia o "ferragosto". Este hábito do italiano continua em todas as férias que têm. Fecham seus negócios e vão de férias.
ResponderExcluirAbraço.