IGREJA MATRIZ |
A serra
com seus dentes de pedra domina a paisagem quilômetros ao redor e a vila a
abraça. É impossível não vê-la, guardiã e orgulhosa, sitiada mas nunca
conquistada, antiga como a nacionalidade lusa, a mais portuguesa das aldeias.
Seu
nome é Monsanto da Beira, a nordeste das Terras de Idanha. Vestígios
arqueológicos demonstram que ali já vivia gente há mais de 10.000 anos, em
pleno paleolítico, abrigando-se no sopé do monte. Os rios de história foram
passando e com ele os romanos, os visigodos, os mouros. Em 1165, estes tiveram
de abrir caminho para a arrancada de D. Afonso Henriques, que ganhou-a e doou-a
aos Templários. Cento e cinquenta anos depois, D. Dinis outorgou-lhe a Carta de
Feira, à época um importantíssimo atributo pois trazia mais aldeões e mais
dinheiro e que acontecia todos os meses ao redor da Ermida de São Pedro de
Vir-a-Corça. Nome nascido na lenda de um eremita chamado Amador e da corça que,
atendendo às suas preces, veio amamentar um recém-nascido encontrado por ele na
floresta.
RUMO AO CASTELO |
É
evidente que tudo aqui carrega seu mito e sua mágica, como a Igreja Matriz (do
século XV), a Torre do Relógio, a Porta de Santo António, as nove capelas e
mais e mais edifícios de pedra, sempre a subir, rumo ao Castelo, sobranceiro a
quase 800 metros de altitude. Foi construído no século XII por Gualdim Pais,
cruzado, frei e fundador de Tomar.
Aí,
você está de volta ao passado, à Idade Média dos cavaleiros, dos reis e
rainhas, das donzelas e das bruxas. A planície estende-se até cansar a vista,
Beiras ao Norte, Alentejo ao Sul, Espanha a Leste.
GUALDIM PAIS |
CASTELO |
Tentaram
tomá-la por duas vezes. Em 1658, Luís de Haro, ministro do rei espanhol Filipe
IV; cinquenta anos depois, o Duque de Berwick, durante a Guerra da Sucessão
Espanhola. Duas tentativas, dois fracassos. Monsanto, inexpugnável, resistiu. O
Marques de Marialva, da primeira vez e o Marques De Minas, na segunda, honraram
as cores portuguesas.
E hoje
ainda lá está, aberta agora às hordas de turistas que a vêm conhecer,
reverenciar e descobrir seus austeros encantos, tomar a poção mágica, uma refrescante bebida preparada com hidromel e
outros ingredientes secretos, como me
afiançou uma estalajadeira de nossos dias numa tasquinha que mais parecia uma
gruta. Num dia de verão ibérico, um bálsamo.
Sempre é bom um pouco mais de cultura ... apreciei muito essa crônica !
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