domingo, 16 de junho de 2013

PAPO DE BAR - BIG BROTHER








«É um absurdo! E logo no país que proclama ser o campeão das liberdades individuais. E logo no governo de um homem que jurou que protegeria a privacidade de seus cidadãos. Esse Edward Snowden é um herói. Traidor é o Obama!»









«Discordo. Totalmente. As pessoas que acham que este bisbilhoteiro está com a razão não entendem nada da situação atual. Não vêem que é uma questão se segurança nacional. E...»






«Que segurança nacional droga nenhuma. Esta desculpa não cola mais. Lá já existe a CIA, o FBI e mais não sei quantas agências super aparelhadas para perseguir bandidos. Os americanos já acabaram com o Sadam Hussein, com o Bin Laden, já invadiram o Afeganistão. Mantêm ilegalmente um bando de árabes em Guantánamo, sem julgamento sem nada. Prá que precisam xeretar a vida alheia?»

«Porque, minha querida, o mundo mudou. E continua mudando, rapidamente. Antigamente, na Guerra Fria, o inimigo era a União Soviética, a China Vermelha. Os espiões eram uns românticos que bebiam vodka martini e transmitiam suas mensagens em código por rádios escondidos no sótão. Tudo muito preto no branco. Os adversários tinham rosto e nome, sabia-se de onde vinham. Hoje é diferente...»

«Diferente? No quê? Só se for na quebra dos direitos da pessoa, na invasão da sua intimidade, no monitoramento dos seus passos. Não estou falando de Mata Haris, X-9´s e 007´s. Estou falando do cidadão comum, eu e você. Que poder é esse que viola um dos princípios constitucionais mais básicos, que instrui seus agentes a vasculhar a vida de quem quer que seja, especialmente de estrangeiros, em seu território? Nada pode justificar...»

«É claro que pode! Entenda o seguinte. Hoje o grande perigo não é uma guerra, nos moldes da Coréia, do Vietnam.  O terrorismo veio mudar tudo. E mesmo este novo inimigo já mudou de cara. Primeiro, as ações eram planejadas por organizações complexas, tipo Hezbollah, Al Qaeda. Eram esquemas de ataque caros, que envolviam um grupo de operativos profissionais. Levavam meses para serem montados e executados, como o onze de setembro, as explosões nos trens de Madri, o ônibus de Londres»

«E sabe por que isto pôde acontecer? Não foi por falta de polícia e agentes secretos. Foi por ineficiência deles. Se tivessem examinado bem seus registros e arquivos, teriam descoberto alguma coisa antes dos atentados. Os árabes que pilotaram os aviões jogados contra as torres produziram um monte de indícios antes de agirem. Era só o aparelho de defesa da Estado estar mais atento e teria prevenido o desastre. Não é necessário espionar milhões de cidadãos para isso»

«Não era. Agora é. O ataque não vem mais do terrorismo organizado. Hoje qualquer adolescente imberbe e cheio de espinhas, devidamente doutrinado, pode montar sua bomba caseira no porão de casa e explodí-la, e a ele, numa estação de metrô às cinco da tarde e matar centenas de pessoas. Pode ser qualquer um. Pode ser aquele cara sentado ali naquela mesa, pode ser aquela sua vizinha bondosa, o entregador de pizza. Pode ser todo mundo. E, assim, todo mundo é suspeito»

«Não sei... Tudo isso me incomoda. Este clima de Big Brother. Não o da TV, que é lamentável. Mas o de George Orwell. Um grande Estado voyeur nos observando, colhendo dados, anotando nossas ações diárias.  Me dá arrepio...»

«Pois você já devia estar arrepiada há muito tempo.  O programa americano de monitoramento começou em 2001, na era Bush. Obama só fez continuar, incorporando, é claro, os avanços tecnológicos. E, no fundo, mesmo sem as decisões de Obama ou Bush, e morando aqui no Brasil, nos já somos monitorados o tempo todo. Você está com o seu celular?»

«Sim»

«Pois então alguém lá na sua operadora sabe que você está aqui no ZanziBar. Já experimentou viajar com ele? Então, assim que chegou ao seu destino, você deve ter recebido uma mensagem informando que uma operadora local passaria a controlar as suas ligações. Saiba também que todas as suas conversas telefônicas, de aparelhos celulares ou de fixos, são gravadas. Uma ordem judicial pode expô-las. Mais. Tudo o que você acessa na internet, sejam e-mails, sites, redes sociais, pesquisas no Google, no Yahoo, tudo o que você posta, consulta, envia ou recebe viverá para sempre na grande nuvem que paira sobre nós.  Você acha que a coisa some quando você carrega no delete? Engano seu...»

«Deus meu...»

«Deus?... É... Do jeito que a coisa está, há alguém que sabe sobre nós quase tanto quanto Ele...»


Oswaldo Pereira
Junho 2013



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